sexta-feira, julho 15, 2011

Como se pode ser contra a interferência distributiva do Estado quando ela beneficia os mais pobres e ser a favor dela quando beneficia os mais ricos?

• João Cardoso Rosas, Distributivismos:
    ‘(…) É claro que é um pouco chocante que alguém defenda que a justiça distributiva é, em si mesma, uma má ideia. Os nossos políticos e publicistas de direita não se atrevem a dizer isso com a clareza de Hayek ou Nozick. Mas não deixam de reflectir, a um nível bastante menos sofisticado, as ideias desses autores.

    Por isso criticam o Estado social, afirmam que a promoção da igualdade económica põe em perigo a liberdade, dizem que é importante a igualdade de oportunidades em termos formais, mas não a igualdade de resultados, etc.

    Mas o mais curioso é o facto de os mesmos que se incomodam com o distributivismo da esquerda não parecem incomodar-se nada com o distributivismo de sinal contrário promovido pela direita agora no poder. Vejamos dois exemplos.

    A diminuição generalizada da TSU e a sua compensação com o aumento do IVA consistirá, caso seja aplicada, numa distribuição do dinheiro das famílias, incluindo as mais pobres, para os empresários, muitos dos quais aproveitarão para aumentar os lucros imediatos e não para ser mais competitivos no futuro. Outro exemplo: a doação de mão beijada das ‘golden shares', nomeadamente na PT, equivale a distribuir um valor detido pela comunidade - através do Estado - pelos accionistas dessas empresas - que não são certamente o povo desfavorecido.

    O problema é este: a crítica da direita à distribuição igualitária da esquerda tem a ver com a interferência na espontaneidade social e na liberdade das pessoas. Mas essa interferência aplica-se tanto às distribuições com sentido igualitário como às que têm um sentido anti-igualitário.

    Ao não verem isto, os nossos comentadores de direita mostram a debilidade do seu pensamento. Como se pode ser contra a interferência distributiva do Estado quando ela beneficia os mais pobres e ser a favor dela quando beneficia os mais ricos?’

5 comentários :

  1. "a doação de mão beijada das ‘golden shares' equivale a distribuir um valor detido pela comunidade pelos accionistas dessas empresas"

    Como é que se prova isso?

    Como é que se prova que o valor acionista das empresas aumentou por efeito da eliminação das golden shares? E aumentou em quanto? E em que momento, exatamente, é que esse aumento foi realizado?

    Só se estas perguntas forem concretamente respondidas é que se pode afirmar que de facto houve um aumento do valor acionista.

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  2. Não desvie a conversa do essencial que est'a a ser denunciado, senhor Lavoura. O senhor foi pegar no pintelho que lhe convinha para justificar o injustificável. Ou tem alguma dúvida sobre a verdade fundamental do artigo?

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  3. Elementar: a distribuição de esquerda sai-lhes do bolso (horror!); a distribuição de direita entra-lhes no bolso (ôba ôba!). Mera questão de fluxos financeiros, digo eu.

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  4. Caro Luís Lavoura,
    uma golden share tem valor porque é uma ação preferencial ou seja, tem poderes especiais que lhe permitem controlar uma parte significativa de uma empresa.
    Ora, abdicando desse poder, os restantes acionistas dividi-lo-ão entre si sem gastar um tostão o que é lucro.
    É poder que é oferecido a terceiros em troca de nada.

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  5. Para falar a verdade, diga-se em favor dos patrõezinhos que eles não estão a ser a favor da justiça redistributiva quando é para o lado deles, estão sim e apenas a reaver aquilo que, na sua optica, é seu por direito : o dinheiro que pagam para impostos com os quais não concordam ( porque na optica destes monos é cada um por si e salve-se quem puder.Nasceu pobre e não pode aceder a educação? Azar o seu, tivesse nascido rico. )

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