domingo, janeiro 15, 2012

Quando um alegado primeiro-ministro quer fazer de nós tolos

Teresa de Sousa, A semana em que o país se viu ao espelho e não gostou [hoje no Público]:
    ‘O problema não é tanto o primeiro-ministro querer fazer de nós tolos, quando afiança que o seu Governo e os partidos que o sustentam não tiveram absolutamente nada a ver com as nomeações para o conselho de supervisão da EDP. Ou quando resolve enveredar por longas explicações sobre a necessidade de envolver as autarquias na gestão das Águas de Portugal, para justificar mais duas nomeações lamentáveis a olho nu. Sobre isso não há nada a dizer a não ser, talvez, lembrar ao primeiro-ministro que a maioria das pessoas não é tola e que muito pouca gente acreditará na estranha coincidência de os accionistas privados da EDP terem descoberto em simultâneo a excelência dos amigos políticos dos partidos do Governo. É triste, quase patético, ver Eduardo Catroga, certamente uma pessoa competente e com uma carreira nos negócios, zurzir furiosamente no engenheiro Sócrates para chegar à clarividência da sua escolha para presidir ao dito conselho ou sentir a necessidade de dizer que nem sequer é do PSD. Pior, mesmo, só o ministro de Estado Paulo Portas admitir uma atitude "xenófoba" de Lisboa contra as boas gentes do Norte para justificar as críticas à escolha de um filiado do seu partido, Álvaro Castello-Branco, para a dita empresa pública. Não lhe terá acorrido uma palavra mais adequada? Preconceito, por exemplo? A sua falta de argumentos ficaria menos evidente.

    O problema - o primeiro - é que estas nomeações são uma enorme machadada na estratégia política que o Governo e o primeiro-ministro nos apresentaram para sairmos da tremenda crise em que nos encontramos. Essa estratégia partia da ideia de aproveitar a crise para libertar o Estado da sua dupla função de "controleiro" da economia e de distribuidor de benesses. Por via das privatizações, por via da maior concorrência nos mercados de produtos e serviços, por via da maior flexibilidade dos factores de produção. A isto o primeiro-ministro chamou, ainda há poucos dias, a "democratização" da economia e foi louvado por muita gente. O seu liberalismo económico não resistiu muito tempo. O Estado intervém - na melhor das hipóteses para controlar uma empresa privada; na pior para compensar os amigos e os fiéis dos partidos eleitos para governar o país. Bastaram seis meses par matar as ilusões. No fundo, o que todos nós aprendemos na semana passada foi o seguinte: que o Estado continua a dominar a economia por via das decisões que toma ou não toma, das "facilidades" que cria ou não cria, dos sectores que protege ou não protege, e que qualquer grande empresa (ainda apor cima estatal e chinesa) percebe imediatamente que convém agradar ao Estado para obter facilidades nos negócios, nomeando os seus rapazes.

    O problema - o segundo - é o momento em que Passo Coelho resolveu matar as ilusões. Justamente aquele em que lhe era proibido fazê-lo. Se já havia um largo e provavelmente inevitável sentimento de injustiça quanto à distribuição dos sacrifícios e uma fraca crença numa saída para a dose brutal de austeridade que não seja "a grega", agora haverá muito mais. Ora, a mistura de descrença e de sentimento de injustiça pode vir a revelar-se fatal no médio prazo. Nenhum país passa por aquilo que estamos a passar sem um forte sentimento de coesão social. Passos Coelho e o seu Governo desferiram-lhe um golpe severo. Numa semana que foi trágica no que respeita à percepção de como as coisas se fazem em Portugal, de quem está sempre a salvo das crises ou de quem acaba sempre por pagar o grosso da factura.’

5 comentários :

  1. eu gostava de ver estes autopromovidos crânios a gerirem a refer, rtp, tap, metro e outros sorvedouros de dinheiro. são todos muita bons e experientes a chular em regime de monopólio e com dinheiro dos outros.

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  2. Uma análise correta da triste realidade que nos cerca e mentiras que nos querem impingir!

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  3. E será verdade que o Ministro da Propaganda foi visto hoje a almoçar numa casa do Mussulo? Que andará ele a fazer por aquelas bandas?

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  4. Só agora chegam a estas conclusões?
    Andam "distraídos" ou ainda preconceituosos com o Sócrates?

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  5. Demoraram, mas estão a acordar. Será porque também lhes acabaram com algumas benesses...

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