- 'O discurso sobre a competitividade da economia portuguesa tem resvalado quase sempre para a necessidade de penalizar os rendimentos do trabalho. Mas o cerne da questão vai muito para além dos rendimentos do trabalho.
Há outro caminho; um caminho onde a oferta portuguesa concorre baseada em produtos e serviços com mais valor acrescentado, com trabalho qualificado, numa ruptura com um modelo de desenvolvimento que quisemos (e quisemos mesmo) colectivamente abandonar.
Mas esse caminho, num contexto em que os recursos são (mais) escassos, tem no refúgio que o capital encontrou nos sectores não transaccionáveis um obstáculo importante. Encontramos nestes sectores níveis de concentração da actividade que nos remetem para estruturas de mercado que longe de serem perfeitas, promovem a captação de rendimentos que não sendo ilegais, são contudo ilegítimos porque resultam de posições dominantes e, nalguns casos, com um nível de protecção da actividade que limita a entrada de novos concorrentes.
Quando o consumo de energia representa 30% dos custos de produção no sector da cerâmica (muito para além dos custos com o factor trabalho), ou quando o desequilíbrio da relação fornecedor-cliente continua a fazer, em inúmeras circunstâncias, que a indústria financie o fundo de maneio da distribuição, esmagando as suas margens e aumentando as suas necessidades de capital alheio que, como sabemos, é um recurso escasso e (muito) caro, fica bem claro que o Estado tem muito que fazer para que os rendimentos protegidos e não expostos à concorrência sejam limitados, sob pena de ser o sector exportador, e o que substitui importações, a pagar uma factura que mina a sua competitividade, reduzindo inclusive a sua capacidade de autofinanciamento por erosão de margens comerciais e por um ciclo de tesouraria cada vez mais desfavorável.'
Não percebo por que motivos se queixam do custo da energia. A energia em Portugal não é mais cara do que na média dos restantes países europeus. E o Estado já tem feito muito para evitar subidas do custo da energia, nomeadamente elétrica.
ResponderEliminarÉ claro que a energia é muito cara, mas isso é essencialmente uma consequência da sua escassez objetiva, não de rendas derivadas do monopólio.
É verdade que a grande distribuição usa o seu poder para esmagar a indústria, mas não vejo o que o Estado possa ou deva fazer para evitar isso.
ResponderEliminarO Estado não pode obrigar as pessoas a deixar de fazer compras no Continente e no Pingo Doce e passarem a fazer compras alhures, possivelmente na mercearia da esquina. Também não é função do Estado criar novos dirtribuidores que compitam com os já existentes, por forma a aumentar o nível de competição no setor da distribuição.
Mas caçar 13ª e 14ª meses dos trabalhadores do estado já pode?Aumentar o IVA da electricidade já pode?
ResponderEliminarPrepotencia por prepotencia, porquê sempre para o mesmo lado? Quando é que nos vamos deixar da mania de que um estado mais regulador e fiscalizador é mau? Quando a industria estiver destruida de vez e os negocios da distribuição de rastos porque foram demasiado gananciosos?
Há que meter na cabeça que o mercado, deixado aos seus designios, é autofágico : engole-se e destroi-se a si próprio.Mesmo com as consequencias dessa autofagia em movimento, á vista de todos, numa europa destroçada, ainda há quem insista em não perceber que se os mercados forem deixados em paz nada mais restará em breve do que escombros.
Tarde demias se começa a perceber que de facto, um misto de mercado livre e estado regulador é o caminho a ser seguido, não o culto do mercado selvagem que destroi antes de se mudar para novas pastagens.