- ‘Um fantasma paira sobre a vida pública portuguesa - chama-se José Sócrates. A imprensa tablóide persegue-o e calunia-o, o principal partido do Governo convoca-o e difama-o, o Presidente da República ataca-o com uma ausência de subtileza imprópria das funções que exerce, um grupo de ignotos juízes desprovido do mais elementar sentido de Estado vitupera-o e o próprio PS revela algumas dificuldades em lidar com a sua memória política recente. Esta obsessão quase patológica com a figura do anterior primeiro-ministro prejudica a qualidade do debate em curso, obnubila a compreensão dos verdadeiros problemas com que o País se defronta, diminui a lucidez dos vários intervenientes na vida pública e, não raras vezes, apouca quer intelectual, quer moralmente um conjunto de personalidades que, por razões institucionais, deveria cultivar outra perspectiva da dignidade política. Neste instante tão complexo da vida nacional, precisávamos de uma imprensa séria e qualificada, de um Presidente sereno e sensível ao apelo da grandeza, de um PSD exclusivamente concentrado nas tarefas de governação e de um PS empenhado no esforço de construção de uma alternativa credível de poder. Enquanto Sócrates permanecer como o horizonte inultrapassável da nossa vida pública, teremos dificuldade em abordar a substância das coisas e de perceber as virtualidades das múltiplas soluções possíveis. Permanecendo reféns de uma relação psicótica com um homem que não exerce qualquer função institucional no nosso País, permitiremos a paralisia do pensamento e proporcionaremos a eclosão torrencial dos piores sentimentos humanos. Recusemo-nos a aceitar a ideia de que Portugal se transformou num imenso tablóide, onde políticos, jornalistas e analistas aceitam a sua própria redução à condição de figuras de uma interminável ópera bufa. Somos, ou devemos procurar ser, muito mais do que isso.
(…) Não nos enganemos quanto ao último destinatário dos soezes ataques que têm vindo a ser dirigidos ao executivo anterior - destinam-se a todo o PS, não apenas a um PS passado; atacando Sócrates, pretende-se condicionar António José Seguro. Essa tentativa de condicionamento é, aliás, muito perigosa, já que aponta para o nível radical da própria legitimidade de um discurso político oposicionista e dotado de uma verdadeira dimensão alternativa. A direita, a orgânica e a inorgânica, sabe que o assassinato póstumo do antigo primeiro-ministro, se devidamente consumado, teria sempre o efeito de desvitalizar o actual secretário-geral do PS, que ficaria condenado a sobreviver num permanente estado de paralisia política. Não cultivemos ilusões ingénuas: para a direita, neste momento, não há socialistas inocentes...’
Há que aceitar a realidade e deixar de viver na fantasia: aceitemos de vez o facto de Portugal, ou seja, a Piolheira, se ter transformado, desde 2009, num gigantesco tablóide, onde caciques políticos, mercenários do jurnalismo e analistas vendedores de banha-da-cobra não só aceitaram, como criaram a sua redução à condição de figuras tristes de uma interminável bonecrada de santo aleixo. Não somos, nem nunca seremos, nada mais do que isso e só quando encararmos esta realidade de frente, como um touro bravio encara o vermelho, é que ganharemos ousadia e força anímica para marrar e estropiar quem nos condenou a isto. Daqui já ninguém sai vivo, é preciso incendiar para desinfetar. Só depois, das cinzas, será possível renascer e criar algo melhor. Os Francisco Assises de boa vontade que restam no PS e, de modo geral, em Portugal que se desenganem, porque acabam por empatar o que é urgente começar a (des)fazer.
ResponderEliminare eis que, 2 anos passados, é o próprio Seguro que vem dizer que sempre esteve inocente de qualquer tentativa de defesa do malvado ex-primeiro ministro Sócrates...
ResponderEliminarJá agora: este Assis é o mesmo que agora apoia Seguro?