segunda-feira, janeiro 07, 2013

O factor capital está a resistir melhor à crise…

Público (edição de sábado)

A quebra dos rendimentos do trabalho em Portugal está a ser superior à queda da economia. É o que relata um artigo da edição de sábado do Público, intitulado “Peso dos salários na economia está a aproximar-se dos mínimos de 30 anos”. Eis um extracto:
    ‘É o resultado previsível do período de cortes de salários e aumento do desemprego por que Portugal está a passar: o peso das remunerações do trabalho na economia registou uma forte queda nos últimos dois anos e está a aproximar-se do mínimo das últimas três décadas registado nos anos 80, a seguir à desvalorização cambial operada durante a anterior intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) no país.

    Os números são da Comissão Europeia e referem-se ao denominado "Peso ajustado dos salários na economia". Entre 2011 e 2012 caiu de 65,2% para 62,2%. Foi a maior queda registada no país desde 1984, ano em que a política de desvalorização cambial fez cair a pique o valor real dos salários em Portugal. Em 2012, foi também a primeira vez desde 1995 que este indicador ficou em Portugal abaixo da média da zona euro (considerando os primeiros doze países a adoptarem a moeda única).

    Ainda de acordo com a Comissão Europeia, que faz previsões para os próximos anos do peso dos salários na economia, este indicador deve continuar a descer em Portugal até chegar a 61,2% em 2014, ao passo que na média da zona euro tenderá a estabilizar.

    O peso dos salários na economia portuguesa deverá ficar assim, no final de 2014, no valor mais baixo desde 1988, aproximando-se do mínimo de 59,9% registado em 1984.

    Outro indicador desta perda de peso das remunerações dos trabalhadores na economia é também notória nos dados das contas nacionais publicados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Aqui, vê-se que o peso das remunerações dos empregados por conta de outrem no total dos rendimentos primários dos portugueses (que não incluem transferências da Segurança Social, por exemplo) tem vindo a cair desde o terceiro trimestre de 2009, altura em que chegou aos 71,5% (valor referente aos 12 meses anteriores). Agora, passados três anos já está nos 67,5%, o valor mais baixo desde pelos menos o final de 1999.

    Em contrapartida, o peso dos rendimentos de propriedade tem vindo a subir, atingindo neste momento o valor mais alto de que há registo desde 1999 (11,3%) e o peso dos rendimentos associados aos excedentes de exploração também estão mais altos, registando o valor mais elevado desde 2006.

    A explicação para a perda do peso dos salários nos últimos anos é bastante evidente. Por um lado, a forte contenção (e mesmo retracção) dos salários recebidos pelos portugueses. Nos últimos dois anos registaram-se mesmo perdas no salário nominal médio, com um contributo decisivo dos cortes salariais realizados na função pública.

    Por outro lado, o agravamento da tendência de subida do desemprego, que tem feito reduzir o montante global da massa salarial distribuída em Portugal.

    O que mostram os indicadores do peso dos salários na economia é que o factor capital parece, neste cenário, estar a resistir melhor à crise.’


No mesmo sentido vai um estudo do Dinheiro Vivo: “As grandes fortunas engordaram mais 1,54 mil milhões em 2012.

O artigo do Público transcreve declarações de José Silva Lopes, que usa uma frase esclarecedora para se referir às empresas dos sectores não transaccionáveis (serviços que não têm concorrência do exterior): “estão a querer escapar à crise”. Acrescenta o Público:
    «Silva Lopes diz que nesses sectores os preços continuam a subir, muitas vezes acima da inflação e em simultâneo com políticas salariais de muita contenção, com a justificação de que a procura interna está a cair. Entre os exemplos dados estão as telecomunicações e as auto-estradas, que introduziram no início deste ano novos aumentos de preços.

    Para o economista, o que acontece nesses casos é um "abuso de mercado", em que a empresas "querem manter níveis de lucros que são excessivos, sem que o Governo actue para o evitar".»

A crise é, de facto, uma oportunidade.

1 comentário :



  1. Um País sem governantes ainda é pior do que um homem desorientado (e, consequentemente, muito pior do que uma mulher ébria...).

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