sábado, dezembro 28, 2013

Todos os caminhos vão dar a Roma ao Estado Social?

É manifesto que as posições defendidas pelo Papa Francisco têm causado um indisfarçavel desconforto em largos sectores. Hoje, por exemplo, o professor de Economia Luís Cabral, no Expresso/Economia, procura demonstrar que não há nada de novo na Exortação Apostólica A alegria do Evangelho: “o Papa Francisco referiu-se mais uma vez à economia, condenando o modelo do capitalismo desenfreado”. E para os mais cépticos, lança este argumento demolidor (que dissipa as dúvidas sobre as fontes do conhecimento da nossa elite económica): “Felizmente, Henrique Monteiro e outras vozes de bom senso esclareceram este ponto simples mas importante: a condenação do capitalismo selvagem já lá está nos escritos de Leão XIII (que, para os que não se lembram, viveu no século XIX).

É estranho que este professor de Economia não tenha reparado que os escritos de Leão XIII e de Francisco sobre o “capitalismo selvagem” ou o “capitalismo desenfreado” tenham sido publicados nos momentos históricos em que ocorrem transformações profundas na natureza do capitalismo.

Luís Cabral começa por circunscrever a exortação do Papa Francisco à “economia”, depois concede que não traz novidades em relação à Doutrina Social da Igreja e, finalmente, virando a essência das suas palavras do avesso, remata que “João Paulo II e Bento XVI também foram claros ao afirmar que não há garantia alguma de que a concorrência desenfreada leve à justiça social.

Mas a verdade é que a exortação do Papa Francisco é uma pedrada no charco. Luís Cabral reconhece que há “um estilo diferente de falar, há um[a] ênfase diferente em várias ideias, há talvez uma maior sentido de urgência nas intervenções do Papa Francisco. E esse sentido de urgência tem razão de ser: não é que o capitalismo seja mais selvagem do que era nos séculos XIX ou XX: o que se passa é que as desigualdades criadas pela economia de mercado são potencialmente maiores hoje do que eram há algumas décadas; mais do que nunca, a economia moderna caracteriza-se pelo que Robert Frank chama a ‘winner-take-all society’.

Talvez o que tenha deixado mais incomodado Luís Cabral é ele pressentir que as palavras do Papa Francisco possam ter aberto a porta a que o bebé seja atirado fora com a água do banho: “O commentariat de esquerda descobriu aqui uma oportunidade única: ‘Agora, até a Igreja condena a economia de mercado’, é a ideia que mais se lê nos blogues e páginas de opinião.

Para evitar a consumação do desastre que antevê, Luís Cabral propõe: mais “justiça judicial” e “um Estado mais preocupado em fornecer meios do que em fornecer bens e serviços”. É impressão minha ou todos os caminhos (que nos propõem) vão dar a Roma ao (desmantelamento do) Estado Social?

7 comentários :

  1. who the fuck is luis cabral? o da guiné?

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  2. É uma maçada o papa Francisco vir agora com esta conversa contra "os mercados" e vir com esse populismo de que as pessoas são mais importantes que os swaps e os CDS e que os produtos financeiros: os derivados e os derivados de derivados e os derivados de derivados de derivados. Afinal isto já foi tudo dito nas encíclatas tal e tal e além disso "não há alternativa". Bom Ano (se trabalharmos o bastante para isso)

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  3. ... E foi essa a ideia com que fiquei na Quadratura do Círculo, já agora. No final, passadas as primeiras frases, o António Costa passou à rapidamente à segunda página do print da exortação papal e, por umas fracções de segundos, as câmaras da SIC N captaram o António Lobo Xavier a rir-se de tamanha ousadia com a tez avermelhada enquanto o texto prosseguia em sucessivas arremetidas contra as ideologias que propagam o capitalissmo selvagem, os pobres, etc. Na última página, por fim, a personagem do CDS (e da Opus Dei) lá se recompôs e, passando de avermelhado a um sorriso amarelado, disse leia, leia que esse parágrafo é pequeno. Pois, é como olhar e não ver.

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  4. Este Francisco começa a incomodar muita gente...até os denominados democratas-cristãos (entre eles Paulo Portas e mais uns tantos...)Não haverá, por aqui,um "conflito de interesses"?

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  5. O texto citado é de uma pobreza a toda a prova. Efetivamente, é urgente, para determinados setores, dar uma nova roupagem às palavras do Papa. Para tal, nada melhor do que adquirir os préstimos (a que preço?) de mais uma catefrada de comentadores (a coisa até tem resultado em Portugal). Mas o stock está em vias de se esgotar (o de ideias já se esgotou há muito tempo).
    Os Policarpos e quejandos, misturados com os Braga de Macedo (desigualdade? isso é conversa de dona-de-casa) e com a inefável personagem do João das Neves, devem estar a preparar com os seus congéneres americanos e europeus uma nova Contra-Reforma.

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  6. Diz a D. Rosa o seguinte: "Este Francisco começa a incomodar muita gente...até os denominados democratas-cristãos (entre eles Paulo Portas e mais uns tantos...)"
    Oh D. Rosa, desculpe mas não sabia que o calhordas do Portas era democrata e muito menos cristão. A mãe dele saber melhor que nós o filho que tem. E já se deve ter arrependido de não ter abortado para não sair o irrevogável aldrabão dos submarinos e outras trapalhadas e aldrabices em que anda metido há mais de 20 anos.

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