• Alexandra Lucas Coelho, Etecétera e tal:
- «(…) 10. Voltando à última quarta-feira de Fevereiro, a que vai terminar com a lembrança do Parque Infantil das Angústias: desço a calçada ao lusco-fusco, ainda com o livrinho e já deixadas as fotografias na oficina, e só agora, ao fim de quase um mês a morar aqui, vejo que da minha porta a Basílica da Estrela se acende por cima do Parlamento. Então uma vizinha diz da varanda:
— Há que fazer pela vida…
E da varanda em frente a outra responde:
— Graças a Deus…
Casas que dão para casas, como espelhos, em que as frases acabam sempre em reticências, e quinta-feira será a solução de quarta se deus quiser.»
- «(…) Ri-se. "Quando começaram a ver-me com Paulo Portas julgavam que era segurança ou motorista. Depois já diziam: 'O preto até é esperto.'
Uma vez fui ao Parlamento europeu, na altura da presidência portuguesa. Às tantas sentei-me no lugar e vieram-me perguntar porque estava ali sentado. Tinha de liderar uns trabalhos e os espanhóis e os ingleses perguntaram quem eu era e queriam que lhes mostrasse o texto antes. Fui indagar se era normal e disseram-me que não." O riso desta vez traz amargura. "Não vale apena ter ilusões, há um tratamento diferenciado. Há gente escondida que não se quer chatear. E há momentos em que eu próprio digo: 'Vou para casa, já foi uma sorte chegar aqui.'"
Nascido em Angola, há 47 anos, veio de lá com seis, para uma aldeia nortenha onde a sua família era a única negra. "Fui a mascote. Aprendi a conviver bem com ser o único. Cabe-me a mim quebrar barreiras."
Ainda assim, nunca se dedicou especificamente, no seu trabalho parlamentar, à discriminação racial. (…)»
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