• António Correia de Campos, Urgências, de novo:
- «O panorama apresentado num canal da TV sobre urgências em diversos hospitais tem duas características que aumentam a gravidade do problema desvendado há três meses. Não é conjuntural, mas cumulativo. Doravante será provavelmente sempre pior, se não forem tomadas medidas radicais. Já veremos quais.
A segunda circunstância é a intenção deliberada de esconder o problema. Visível na comparação entre as imagens da câmara indiscreta e as da câmara autorizada. Já se sabia que em algumas urgências se mostra a jornalistas apenas a parte civilizada, externa. Portas adentro, o inferno é outro. Um imenso desafecto à verdade acompanha esta atitude.
Vamos à realidade: as urgências são hoje um inferno, porque foi destruída a sua capacidade: escalas de dimensão "económica", redução a 50% do pagamento de horas extra, não substituição de profissionais reformados, emigrados ou desistentes; paragem na constituição das unidades de saúde familiar (USF) a montante do problema e congelamento da criação de cuidados continuados a idosos e dependentes (CCI) a jusante, recurso a médicos tarefeiros arregimentados por empresas, entrega das chefias a profissionais de bom nível, mas muito jovens, sem senioridade para imporem respeito e sem que a equipa que precariamente dirigem assegure produtividade no trabalho de banco e continuidade de cuidados. Sabemos que no afã de agradar, alguns administradores cortaram camas de internamento, sem precaver o futuro, ou sequer o presente. Sabemos que a procura se alterou com o envelhecimento, a pluripatologia, a prática recorrente de alguns lares lucrativos despejarem na urgência os idosos doentes com patologias ignobilmente agravadas, por não quererem contratar pessoal de saúde e não haver quem a tal os obrigue. Sabemos que emigraram em 2014, segundo as respectivas ordens, 400 médicos, (tal como 500 médicos dentistas) e outros tantos enfermeiros. Sabemos que começa a faltar o material de consumo. Já agora, sabemos também que os hospitais devem hoje cerca de 700 milhões de euros à indústria farmacêutica e cerca de 600 milhões às empresas que vendem dispositivos médicos, tornando a gestão do quotidiano um permanente operação de relações públicas com credores.
Tudo isto era previsível se tivesse havido quem pensasse no cavalo do inglês, morto pela redução a quase zero, da ração inicial. Se tivesse havido quem olhasse o sistema de forma global, e não de forma orçamental. Quem ouvisse os interessados, visitasse urgências de surpresa, falasse mais com o povo, andasse de metro e autocarro, desse crédito a jornalistas sérios e experientes.
Impossível, o governo cegou em vários gradientes. A cegueira de pensar que a fome salvadora regenerava o espírito e curava o organismo. Depois, ainda, por os seus amigos lá de fora e alguns opinadores cá de dentro, prescreverem o mercado e suas falhas como terapêutica única contra as falhas de governo.
- Quando a evidência ultrapassa a razão, recorre-se à negação e ao absurdo de transformar o mau em bom. O comentário de um responsável político valorizando o facto de os doentes estarem em boas camas e não em macas, tão espontâneo quanto insensato, entristece-nos duplamente: por vermos a negação erigida em doutrina e por o improviso infeliz se arriscar a ser confundido com cinismo. Agora que aqui chegámos, que fazer, para recuperar a confiança dos cidadãos nos seus hospitais?
Estudem ou mandem estudar rapidamente a dimensão e profundidade do problema. Vão aos locais, ver com os próprios olhos e sem aviso. Têm que incidir sobre as causas: acelerar a criação de USF e CCI; rever os pagamentos de horas extra; tentar substituir tarefeiros por médicos do hospital, com incentivos adequados; tentar, onde possível, profissionalizar equipes de urgencialistas; readmitir médicos reformados em regime de acumulação com pensão, sem cortes, por um período transitório de três anos, até os seis mil internos em formação a terem concluído; visitar lares privados obrigando-os a contratar enfermeiros e médicos para não deixar descompensados doentes idosos; visitar lares públicos e particulares, aconselhando a colaboração estreita com o centro de saúde e hospitais da área, sem pensar em dois ministérios diferentes.
E fugir das falsas soluções: pensar que instituições particulares podem criar bons serviços de urgência é um insulto a essas instituições, voltando ao erro dos SAP. Cuidados de urgência são cuidados a sério, bem organizados, bem instalados e com pessoal suficiente, treinado e variado. Custa dinheiro? Pois custa, mais uma razão para não aliciar instituições honradas com ofertas envenenadas. (…)»
O inefável professor Marcelo não disse que discordava do secretário de estado, disse é que ele não devia ter comentado o filme, ou ouvi mal? Subtilezas!
ResponderEliminaro sonho destes charlatões é tornar o sns numa espécie de sistema americano em que existe um hospital municipal para indigentes e o resto é tudo privado,quem n tem emprego e seguro morre à porta dos locais q os deviam salvar, enfim esta gentalha adora tanto o modelo neoliberal dos us q devia emigrar p lá e ficar por lá,certamente que o ar em Portugal se tornaria muito mais respirável!
ResponderEliminarSubtilezas não, HIPOCRISIA !
ResponderEliminarO Prof. Marcelo é um cínico, um hipócrita, um fascista salazarento, em resumo, é pessoa de muito mau carácter.
E sim, ele não disse que o outro não devia ter dito aquilo porque aquilo era uma pulhice. Não, ele disse é que o outro não devia ter dito aquilo porque parecia mal e podia custar votos. Assim mesmo, "à moda dos ordinários" !