quinta-feira, dezembro 08, 2005

CP – Mais chefes do que índios

Folheando de novo o relatório da auditoria à CP, promovida pelo Tribunal de Contas, ficamos a saber que o “modelo organizacional da empresa integra-se na designada estrutura mecanicista, representada por uma elevada especialização (elevado grau de diferenciação horizontal) e formalização, departamentalmente rígida, clara cadeia de comando, elevados níveis hierárquicos de controlo e pequena participação na tomada de decisão pelos níveis mais baixos da organização (forte centralização).” [p. 25]

Ficamos ainda a saber que existem “em alguns órgãos (…) um número elevado de cargos de Chefia”, a saber:

    • na Direcção Instalações e Património, há um total de 16 efectivos, sendo que sete não têm cargos de chefia e nove, que representam 56,3 por cento do total, têm;
    • na Direcção de Marketing e Gestão de Clientes, dos 13 elementos que a compõem, quatro não têm funções de chefia, sendo que os restantes nove exercem funções de chefia (69,2 por cento);
    • na Direcção de Sistemas de Informação, composta por 57 efectivos, 35 não ocupam cargos de chefia, ao contrário dos outros 22, que exercem funções de chefia (38,6 por cento);
    • na Equipa de Gestão do Sistema de Qualidade, constituída por quatro pessoas, só uma não ocupa cargo de chefia;
    • na Equipa de Missão de Desenvolvimento dos Transportes Internacionais de Mercadorias, também constituída por quatro pessoas, verifica-se que, tal como na unidade orgânica referida anteriormente, só uma não ocupa cargo de chefia;
    • na CP Alta Velocidade, constituída por cinco pessoas, dois não ocupam cargos de chefia, ao contrário dos restantes três.

Segundo o presidente do conselho de gerência da CP, esta situação decorre da “necessidade de uma política de retenção de quadros [que] tem, por vezes, levado a usar o enquadramento estatutário como modelo remuneratório. Assim, existem 71 casos equiparados a chefias”.

O Tribunal de Contas parece ser sensível ao problema: “Para colmatar as desvantagens daquele modelo organizacional, a CP tem vindo a valorizar a constituição de Equipas Multidisciplinares, com membros possuidores de competências distintas, com vista a atingir objectivos específicos. Tem procurado, ainda, incrementar a comunicação a todos os níveis – descendente, ascendente e horizontal, bem como a delegação de competências.

É de enaltecer que, apesar do incremento da “comunicação a todos os níveis – descendente, ascendente e horizontal”, não haja acidentes a registar na CP.

11 comentários :

  1. Brilhante, o esquema organizacional da CP (em Angola, ficou famosa a expressão viver dos «esquemas»).
    Com tantos chefes, como pode ser possivel os comboios andarem a horas?
    Malaise da CP, malaise lusitana.
    Na Defea/FA, temos o esquema 17/17.
    Exactamente, 17 mil quadros versus 17 mil praças, um milhar de operacionais no terreno.
    Fôssemos à saude, à justiça, ao ensino, à brilhante agricultura/Ministério, chefes para se atropelarem uns aos outros...
    Nada a fazer, parece.

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  2. Aditamento:
    lamentável que o TC não tenha referido um outro nivel comunicacional seguramente praticado na CP, o «diagonal».
    Podemos estar todos descansados.

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  3. Pior do que a existência de + chefes do que índios é a complacência do burocrático Tribunal de Contas.

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  4. Em:

    http://menina-nao-entra.blogspot.com/2005/09/gesto-para-tts.html

    Gestão para Tótós


    Ora saboreiem esta deliciosa sandes de palha que encontrei na Exame deste mês:


    "Desde que iniciei a minha vida profissional, na McKinsey & Co, que tenho uma preocupação constante pela qualidade do trabalho e pela criação de valor (para clientes, accionistas e stakeholders).

    "Actualmente defendo que a gestão deve assentar em três princípios: boas ideias, superioridade de execução e timing certo".

    Há para aí muitos papagaios a debitar vacuidades como esta. Mas é preciso dar o seu a seu dono: quem, do alto das suas 34 risonhas primaveras, nos brinda com estas pérolas de sabedoria é Miguel Setas, feito administrador da CP por aquele Mexia que, até ver, já não mexe.

    Eis uma oportunidade para vos falar um bocadinho do sistema McKinsey. A McKinsey concede absoluta prioridade ao recrutamento de jovenzinhos munidos de um MBA tirado em Harvard. Os felizes eleitos tornam-se então consultores de empresas, condição em que terão oportunidade de perorar em Powerpoint sobre assuntos que não conhecem, sugando o know-how das empresas que os contratam e impondo as suas teorias pré-fabricadas a pessoas com real experiência e capacidade de resolução dos problemas.

    Como alguém disse, "management consultants steal your watch and then tell you the time".

    Porém, quase ninguém é consultor por muito tempo. Após um breve tirocínio na McKinsey, os jovens ambiciosos que aí começam as suas carreiras já estão preparados para ir dar cabo de empresas sem necessidade de intermediários. Como seria de esperar, esta linhagem de gestores de sangue azul é muito procurada no meio empresarial.

    Assim, vamos encontrar ex-McKinseys a dirigir um elevadíssimo número de grandes empresas que, como é natural, regularmente chamam a McKinsey para lhe encomendar trabalhos de consultoria. Depois, quando estes gestores são convidados a nomear a melhor escola americana de gestão, é evidente que votam na Harvard Business School. Como diriam os franceses - mas o que é que eles sabem, os franceses? - la boucle est bouclée.

    Tal como uma mulher que casa rica tem que comprar um casaco de peles, uma empresa à qual as coisas correm bem tem que contratar a McKinsey, um símbolo de status como qualquer outro, só que especialmente concebido para gestores. Valha a verdade, a McKinsey não lhes serve só para exibir - "vejam como a minha empresa tem dinheiro para esbanjar". Ela também os abastece com umas tantas frases feitas que lhes permitem fazer figura de inteligentes perante os mais tolos do que eles.

    Releiam, neste contexto, a citação do Miguel Setas com que iniciei este post. Como podem ver, ela é absolutamente destituída de conteúdo, limitando-se a sinalizar a pertença do seu autor a uma élite de poderosos que comandam os destinos do mundo. O seu valor é nulo para a gestão de qualquer empresa: não contêm qualquer ideia válida que possa ajudar a orientar uma empresa pequena, média ou grande.

    Porém, como há jornalistas que fazem constar que, depois da contratação da McKinsey, uma empresa fica munida de uma estratégia poderosa, como há gestores de fundos de investimento que acreditam nisso, e como há néscios que compram unidades desses fundos, até pode acontecer que o dinheiro gasto com os consultores seja parcialmente compensado com um aumento das cotações das suas acções na bolsa.

    Perceberam? Eu também não.

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  5. Delirei com o comentário anterior.
    Obrigada.

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  6. Mas os do tribunal de contas tão são uns totós ....

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  7. A CP, que manda na REFER e na RAVE, é um instrumento do Governo. Veja-se as colocações dos técnicos que estiveram ligados ao projecto do gás natural em Portugal (na sua maioria afins ao PSD) em cargos directivos da RAVE. O que é que a CP tem a ver com isto? Nada! O que é que estes "técnicos do gás" sabem de comboios? Nada!

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  8. O comentario das 10,59, mostra a evidencia como nascem ou se fabricam certos "gurus" da nossa praça.

    Se pusermos o filme ao contrario e constate-se, se os homens de sucesso neste País e ate com algum sucesso internacional, utilizam os "banha da cobra" da MBA.

    Foi muito oportuno o comentario citado

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  9. Uma pessoa fica meio atordoado com tanto chefe.

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  10. É muito parecido com este Blog: um autor - o "Miguel" - os seus heterónimos a comentar e duas ou três pessoas a ler...

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