sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Ir além da troika

• Pedro Silva Pereira, Erro de cálculo:
    «Enganaram-se nos cálculos os que prometiam aos quatro ventos que não iriam aumentar os impostos e juravam salvaguardar os empregos, os salários e as pensões. De visita a São Francisco, nos Estados Unidos da América, o Presidente da República, talvez inspirado pela distância, deixou escapar uma meditação: o programa de ajustamento, disse ele, "tem sido duro para os portugueses". E acrescentou: "tem sido mesmo mais duro do que aquilo que inicialmente se antecipava". Mas seria um engano grave atribuir a "dureza inesperada" do programa a um "erro de cálculo".

    Sem dúvida, impressiona o contraste entre as metas iniciais do programa de ajustamento e os resultados alcançados. Vejam-se, por exemplo, os indicadores onde mais se exprime a dureza do "ajustamento" - recessão e desemprego. As diferenças são enormes: segundo a previsão inicial, a economia, depois de cair -1,8% em 2012, já deveria ter um crescimento de 1,2% em 2013 e de 2,5% em 2014; a realidade, porém, revelou uma recessão profunda e prolongada, de -3,2% em 2012 e de -1,4% em 2013, prevendo-se apenas algum crescimento para 2014 mas a um ritmo que deverá ser inferior a metade do inicialmente previsto. Por consequência, também a taxa de desemprego acabou por superar todas as previsões: em vez de cumprir a previsão inicial alcançando um pico máximo em 2012, com 13,4% (em média anual), na realidade o desemprego disparou a ponto de atingir os 16,3% em 2013.

    Todavia, esta análise simplista é tão tentadora como enganadora. A verdade é que a diferença entre previsões e resultados só exprimiria um verdadeiro "erro de cálculo" do programa de ajustamento inicial se o programa executado tivesse sido o programa inicialmente previsto. Mas isso não aconteceu: as múltiplas alterações introduzidas nas dez revisões trimestrais do programa subverteram radicalmente os equilíbrios do programa inicial e conduziram à execução do dobro (!) das medidas de austeridade inicialmente previstas. Em 2012 e 2013, por exemplo, e segundo os números do próprio Governo, o programa inicial previa medidas de austeridade no valor total de 7,6 mil milhões de euros mas foram executadas medidas no valor de 15,4 mil milhões de euros. Ora, um programa diferente só podia ter resultados diferentes.

    A esta luz, a conclusão é simples: o programa de ajustamento revelou-se, como diz o Presidente, "mais duro do que aquilo que inicialmente se antecipava" não em resultado de um qualquer "erro de cálculo" do programa inicial mas sim porque foi executado um programa diferente e bastante mais duro do que o programa inicialmente previsto.

    Erros de cálculo houve, mas foram outros. Engaram-se nos cálculos os que, em plena crise das dívidas soberanas, e contra o parecer do Conselho Europeu e do Banco Central Europeu, optaram por provocar a crise política que arrastou o País para a ajuda externa ou que nada fizeram para a evitar. Enganaram-se nos cálculos os que julgavam que, depois dessa crise política, o ‘rating' da República recuperaria logo que os mercados se apercebessem da mudança de Governo. Enganaram-se nos cálculos os que prometiam resolver tudo cortando nas gorduras do Estado, nos desperdícios, nas fundações e no "Estado paralelo". Enganaram-se nos cálculos os que prometiam aos quatro ventos que não iriam aumentar os impostos e juravam salvaguardar os empregos, os salários e as pensões. E enganaram-se nos cálculos os que confiaram neles

9 comentários :

  1. E os que esconderam a verdadeira situação do país? Os que mesmo perante a evidência do desfecho ainda usavam a narrativa do oásis?

    Esses não se enganaram nos cálculos?

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  2. Mais uma vez, aliás como é seu hábito, faz o balanço que dói a esta direita rançosa e incompetente. Mas como se pode constatar ainda existem crentes que teimam em ver oásis quando os avisos andavam no ar que eram recebidos com um esgar de desdém.

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  3. Oásis?! Mas essa era a tanga dos tempos dele, o sabão e prof. de Económicas, como 1º-menistro!

    Quando Portugal tinha menistros das Finanças do calibre intelectual, profissional e ético dum Braga de Macedo, ou dum Cadilhe...

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  4. Espiral recessiva, desemprego a subir sem soluções à vista, o crescimento, precisa-se!

    Espiral recessiva Dr. SIlva PEreira??? Erro de calculo Ultima avaliação da Troika a esta hora diz-nos, bem como a UTAO, que a economia vai crescer 1,2%

    Desemprego sempre a subir? Dr. SIlva Pereira erro de calculo! Dez meses consecutivos o desemprego a descer, estabilização em Janeiro, e queda em periodo homologo de 2,5%.

    Erro de calculo Dr. Silva Pereira foi do PS que desenhou um programa para falhar. Se o PS ficasse no governo não cumpririam, se fossem os outros tudo apontava que a coisa não iria funcionar. Erro de calculo de quem desenhou o programa com a Troika. Foi isso Dr. SIlva Pereira.

    E agora a culpa é do Seguro que não sabe ser oposição. Não não é! A culpa é de todos os portugueses que responderam à chamada, familias e empresários que arregaçaram as mangas e ajudaram a dar a volta.

    Saiu.vos furado? Erro de calculo. E que erro!

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  5. As arrastadeiras do "doutor da mula ruça" -- o Miguel Relvas -- já estão no terreno a preparar a campanha eleitoral dos donos do "pote". Têm vistas curtas e parecem de outro planeta. Querem fazer-nos esquecer os esqueletos deixados pela gula dos "Mercados". Querem rasurar a memória do "sub-prime", a morte do Merryl Linche, do J.P.Morgan, a cesariana feita ao Citibank e á AIG, a morte do Déxia, os regates do Anglo Irich Bank, do IceSave, do Amro Bank, do BNParibas, do Commerze Bank, do Deutche Bank, das Cajas de Aforro espanhois, do Bankia, e do BNP do cavaquismo.
    As máfias gulosas da banca internacional de investimento varreram tudo, mas as arrastadeiras não conhecem esta canção. A canção deles é o giro-flé, giro-flá. Tadinhos!

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  6. Apetece-me afirmar: O Evaristo tens cá disto ?..."Eles" ainda estão convencidos que o culpado da CRISE MUNDIAL, foi Sócrates!...Recordam-se quando afirmavam no parlamento, que a crise mundial estava sòmente na cabeça de Sócrates? e até que não passava de um "crizezinha" ? Que a crise era em Portugal ? Quando Teixeira dos Santos/Sócrates, afirmaram que esta seria a maior crise, até maior até que 1934!!!! Gargalharam de ignorância...É esta gente que governa, Portugal e a Europa e tudo farão para não serem duramente penalizados em próximos combates eleitorais....Não me queria enganar...Mas o CDS não meterá o seu 1º candidato, e sendo assim,
    lá se vai a coligação...Adeus até ao meu regresso....

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  7. Excelente, Pedro Silva Pereira.

    Ângelo

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  8. A dar a volta? Qual volta?!!! Desemprego acima do que o governo anterior deixou. Exportações em valores mais baixos do que o governo anterior deixou. Divida mais elevada ( 130% ! ) da que o governo anterior deixou. O país sobe duas posições nos indicadores de pobreza. Foram retirados á economia por via do empobrecimento das pessoas mais de 15 mil milhões e o governo continua a produzir defices...
    MAS QUAL VOLTA, MEU IMBECIL?!!!

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  9. Colega dele no "Gambrinus"quinta mar. 06, 04:25:00 da tarde



    O meu Colega não é só imbecil, nem só cretino. É também (e sobretudo) um avençado do Reles. Outro reles, portanto, mas anónimo. E ganha à peça...

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