O inacreditável Catroga

Catroga está imparável desde que, por indicação de Passos Coelho, a EDP lhe deposita 45 mil euros por mês na conta. Numa entrevista à última edição do Expresso, mostra-se encantado com Passos (“tenho uma ótima impressão do primeiro-ministro e da sua grande determinação”), quer impor o silêncio à Dr.ª Manuela (“Manuela Ferreira Leite devia estar calada”), dá conselhos públicos ao amigo Aníbal em jeito de aviso (“Eu, se estivesse no lugar do senhor Presidente da República, deixava claro que os mandatos são para se cumprir”), dá um tabefe ao Álvaro (“As medidas do ministro da Economia vêm com um ano e meio de atraso”), mete os pés pelas mãos e, no meio daquela algaraviada, mente com um à-vontade que a idade nos obriga a alguma condescendência.

Mas há dois aspectos da entrevista que não podem passar em claro. O primeiro respeita à circunstância de o acelerado Catroga afirmar que o défice em Junho de 2011 era de 12%. O Pedro T. irá desmontar, num próximo post, esta intrujice.

O segundo aspecto é que Catroga tenta, na hora actual, reescrever as razões por que o memorando da troika ficou aquém do programa do PSD. Ainda todos estamos lembrados de ver um Catroga alucinado por o Governo do PS ter impedido que o PSD (e a troika) incluísse no memorando medidas mais gravosas para os portugueses. Na candura dos 70 anos, diz-nos ele agora que a sua proposta que não foi aceite em 2011 respeitava à reindustrialização do país. Deveria ser a essa industrialização que Passos Coelho também se referia quando afirmou: “disse sempre que o programa do PSD está muito para além daquilo que a troika propõe”.

Quem diria, ao ouvi-lo, ao longo de dois anos, a insistir na austeridade como única via para o ajustamento orçamental, que Catroga tinha uma “agenda para o crescimento e emprego”? O chairman da EDP não tem um pingo de decoro.