sexta-feira, janeiro 22, 2010

Adeus salário mínimo! Viva a ditadura do proletariado!

Tiago Moreira Ramalho acha que Portugal devia abandonar o salário mínimo formalmente fixado pelo Estado, porque ele não existe, segundo diz, em países prósperos como a Noruega, a Dinamarca, a Islândia, a Finlândia, a Itália, a Suíça ou a Áustria.

Isabel Moreira chamou então a atenção para a circunstância de a Constituição poder atrapalhar o voluntarismo do Tiago. Mas há mais.

Talvez o Tiago não tenha reparado, mas praticamente todos os exemplos que apresenta são países onde os sindicatos, historicamente ligados a partidos social-democratas/trabalhistas/socialistas, conseguiram ao longo da história instituir mecanismos e práticas que lhes conferem influência na forma como o mercado de trabalho funciona; onde os níveis de contratação colectiva são elevados; onde o grau de coordenação na negociação salarial é relativamente centralizada, e onde a taxa de sindicalização é, para os padrões actuais, altos. E, já agora, onde a maioria das empresas — pela pressão sindical e pela estratégia de mercado que escolhem — prefere trabalhadores qualificados e bem pagos a trabalhadores indiferenciados e mal pagos, quanto mais não seja porque a maioria dos seus produtos não concorre com aqueles produzidos na China ou nos países Bálticos (inversamente, os países e empresas que concorrem directamente com países de baixos salários são muito sensíveis aos custos do trabalho, pelo que tendência para manter estes ao mínimo é muito forte — daí a necessidade do estabelecer um salário mínimo).

É por causa destes mecanismos, Tiago, que as desigualdades salariais e de rendimento nesses países são mais baixas que em Portugal — não porque deixaram o mercado fixar os preços de forma “livre” e “natural”.

Por outras palavras: nestes países, não foi necessário instituir um salário mínimo oficial porque ele existe na prática, sustentado por mecanismos compensatórios que impedem as empresas de abusar dos baixos salários.

Enfim, aquele tipo de mecanismos que os liberais conotam rapidamente com a ditadura do proletariado.

2 comentários :

Anónimo disse...

Essa agora? Mas desde quando deixou a Dinamarca de ter salário minímo? Desde ontem?

xicoribeiro disse...

Este tiago é mais um paquiderme que não sabe o que diz. Já visitei a Noruega e lá há salario minimo, alias são bem conhecidas as razões porque em Portugal ele existe. Na eventualidade de não ser uma imposição constitucional,a classe patronal poria uma pratica dos países do 3 mundo, ou seja pagar o minimo dos minimos, explorando ainda mais os trabalhadores.
O gajo que se vá catar para a miserabunlandia e por lá fique.