quinta-feira, maio 05, 2011

Contorcionismo

Muito jornalismo é, nos dias que correm, mero cortorcionismo.
Sócrates poderia ter saído a ganhar - posto o País a ganhar - numa negociação com a UE e o FMI?
Nunca, jamais, em tempo algum.
O acordo só não é "tão mau", diz Filipe Santos Costa num artigo que o Expresso não quis publicar, porque:

a) Portugal já tomou algumas das medidas (como o famoso corte dos salários) que
os outros foram obrigados;
b) a troika (e em particualr o FMI) aprendeu alguma coisa com os erros da Grécia e da Irlanda.
Façamos um exercício. Retiremos o contorcionismo. Ficaria assim:

a) Portugal estava no caminho certo: já tinha tomado algumas das medidas necessárias e tinha proposto um PEC que dispensaria este acordo;
b) nas reuniões europeias que antecederam a vinda da troika, Portugal fez "o seu trabalho". Por exemplo, no Ecofin de 8 de Abril:
The programme will be based on three pillars:
- An ambitious fiscal adjustment to restore fiscal sustainability.
- Growth and competitiveness enhancing reforms by removing rigidities in the
product and labour markets and by encouraging entrepreneurship and innovation,
allowing for a sustainable and balanced growth and unwinding internal and
external macroeconomic imbalances, while safeguarding the economic and social
position of its citizens. This should include an ambitious privatisation programme.
- Measures to maintain the liquidity and solvency of the financial sector.
The set of measures announced by the Portuguese authorities on 11 March is a starting point in this regard.
Mas isto daria muito trabalho. E, principalmente, o resultado seria uma enorme contrariedade: o acordo, afinal, "não é tão mau" devido, precisamente, ao trabalho e à capacidade negocial do governo. Uma enorme contrariedade, de facto.

4 comentários :

António Carlos disse...

Talvez fosse útil comparar as medidas sectoriais do Memorando de Entendimento com as propostas para o mesmo sector que constam do Programa Eleitoral do PS. Para termos uma ideia do desfasamento entre a realidade do que vai ser aplicado e a fantasia cor de rosa do que é proposto aos eleitores.

João Dias disse...

Obrigado pelo link. Li o post com grande gosto e proveito.

Anónimo disse...

Por muito que o PEC fosse igual que não é... mas mesmo que fosse igual letra a letra, a pergunta é? Será que com as revisões do défice não haveria mais PECs? Claro que sim!
Será que com o PEC tínhamos 78 mil milhões a taxa de juro que temos agora? Claro que não.
O PEC partia de bases erradas (o défice revisto duas x) e tentava atingir objectivos mais difíceis (metas orçamentais)... logo nunca poderia ter sucesso! Acho límpido como a agua.

Farense disse...

O trabalho de base para o acordo foi o PEC. Disse a Troika, preto no branco. O resto é AZIA...!