sexta-feira, março 23, 2012

Se não houvesse o chumbo do PEC 4? "Estaríamos numa situação parecida com Espanha e Itália"

João Galamba em entrevista ao Jornal de Negócios:
    O PEC IV foi chumbado há um ano. Se tivesse sido aprovado, acredita que não seria necessário pedir ajuda?
    Nunca ninguém poderá afirmar isso com exactidão. O que sabemos é que era um esforço, que envolvia o Governo português e as instituições europeias que depois fizeram parte da troika, para evitar que esse pedido acontecesse. Era uma tentativa séria de evitar o que veio a acontecer, e muito provavelmente hoje estaríamos numa situação parecida com a espanhola e a italiana, que estão a ser ajudados de forma indirecta, através do BCE, e não através de uma ajuda externa que condiciona, e muito, a soberania do País.

    O chumbo não valeu a pena?
    Tendo nós uma oportunidade na qual BCE e Comissão também acreditavam não era só o Governo do PS que estava "cego", ele tinha o apoio dessas instituições e dos próprios bancos. O ultimato dos bancos foi posterior ao chumbo do PEC IV, quando os "ratings" começaram a cair em catadupa. BCE, Comissão, bancos, todos queriam evitar que Portugal pedisse ajuda externa. A oposição, numa coligação negativa profundamente irresponsável, decidiu desbaratar essa oportunidade.

    O PS tem-se distanciado de algumas matérias firmadas no MoU. É um princípio a seguir noutras áreas?
    Para o PS este memorando é uma fatalidade, não é uma coisa boa nem uma oportunidade para o País se transformar. Foi uma catástrofe que se abateu sobre nós e que o PS tentou negociar dentro das suas possibilidades. Foi o melhor acordo possível, mas não é um bom acordo. Para o CDS e o PSD, este programa é uma enorme oportunidade para fazerem aquilo que os portugueses nunca os deixariam fazer se apresentassem estas medidas nas eleições. O PS nunca diria que o seu objectivo é ir além da troika. Está vinculado ao memorando mas nunca à interpretação que a direita vai fazendo dele.

    Um Governo de Bloco Central teria sido uma boa opção para enfrentar este último ano?
    Olho sempre com enorme desconfiança para o bloco central. Uma oposição séria e responsável é tão importante quanto a actividade de governação. Numa altura difícil como esta, é mais útil ao País ter na oposição um grande partido como o PS, com sentido de Estado, que já foi governo e sabe o que é ser governo.

    O ajustamento português tem mesmo de ser prolongado? É improvável regressar aos mercados em 2013?
    O programa de ajustamento português, tal como está, é inexequível. O desemprego em Janeiro já era superior ao máximo que supostamente seria atingido em Dezembro de 2012, o PIB tem sido sucessivamente revisto em baixa, o investimento e o consumo também. Quando a realidade se altera, temos que adaptar o memorando à realidade. Isso sempre foi dito pelos responsáveis da troika. As circunstâncias exigem quanto antes uma revisão do memorando, alargamento de prazos e diluição da austeridade no tempo. Este programa prova que a estratégia da direita europeia para lidar com a crise das dívidas soberanas está errada.

2 comentários :

Picamilho é nome/elvas disse...

Lamento,por todos os trabalhadores portugueses que estão hoje a passar mal,e tambem pelos jovens que vêem o seu futuro tão comprometido ao ponto de serem convidados a emigrar.Lamento,que os partidos que se intitulam de extrema esquerda, que na hora da verdade tenham preferido arrumar com Socrates,com o desejo de ir ao pote eleitoral.Agora, andam a carpir as mágoas junto dos trabalhadores em manifestaçoes.A direita,com todo o patronato ao seu lado (poder despedir e baixar os salarios com "Alegria Borgiana") é oportunidade que não podem desperdiçar.A austeridade foi sempre castigada que o diga M.Soares quando governou com o FMI,só que Soares,não facilitou e bem despedimentos,tendo por isso sempre o patronato contra ele, o que não acontece hoje com a direita.Têm dificuldades no credito,mas agricultores empresarios e comerciantes andam todos,CALADINHOS,porque despedir e baixar salarios por via direta ou indireta, pesa mais nas sua balança.Numa altura tão dificil para os trabalhadores ,a extrema esquerda, pôs a direita no poder,para fazer aquilo que sempre desejou:pôr os trabalhadores no "seu lugar", que por domesticados,engolem tudo! como nos tempos negros do fascismo...Nota: A greve "geral" disse a Armenio Carlos (sindicalista mais inteligente que Carvalho da Silva) que a UGT não é para monesprezar.

Anónimo disse...

Nem o sr Galambra acredita no que diz, como posso eu acreditar. Primeiro tem de ele acreditar depois já pode tentar convencer os outros que isso é verdade.