terça-feira, abril 10, 2012

Da rejeição do PEC IV por Passos Coelho

• António Correia de Campos, O biombo [ontem no Público]:
    ‘Enganaram-se todos aqueles que, como eu próprio, tinham declarado há meses, o fim precoce do estado de graça do Governo coligado PSD/ /CDS. Na verdade, o estado de graça continua: o Governo prolonga até 2015 o corte dos dois subsídios aos funcionários e nada lhe acontece. A Unidade de Execução Orçamental da AR declara que, até agora, o ajustamento do OE foi conseguido em ¾ à custa de aumento de receita, leia-se impostos, e só ¼ à custa de redução da despesa; a carga fiscal sobe pelo menos mais dois pontos no PIB, começando a revelar a fadiga e o declínio fiscal previstos na curva de Lafer; a dívida aumenta, o défice, que baixou artificialmente em 2011, por força da receita temporária do fundo de pensões dos bancários, revela agora uma renitente incapacidade de se sustentar; o desemprego atinge o número simbólico de 15%, sabendo-se que vai continuar a aumentar; o investimento público evaporou-se e o privado apenas aproveita as portas da especulação financeira, ou, pior ainda, retoma o pior hábito dos piores anos de manipulação da Caixa Geral de Depósitos, em proveito de alguns felizardos poderosos, happy few; as exportações, que se julgava resistirem, ainda não afundaram, mas dão sinais de baixarem vários pontos na sua linha de crescimento, sem conhecermos ainda o que nos pode vir da renovada crise de Espanha; o consumo interno reduziu- -se em dois dígitos e naturalmente só o défice externo melhora pela redução das importações, uma prova real da recessão. Não vale a pena jogar com décimas de PIB para saber se a recessão é igual ou pior do que o previsto. É certamente pior, como não podia deixar de acontecer com terapia de garrote. Não cabe sequer a discussão sobre se teria sido possível, com políticas deliberadamente recessivas, fazer melhor: os maledicentes dizem que era fatal, os cínicos afirmam-se surpreendidos pelo efeito do arrocho no desemprego. Na verdade, o estado de graça continua, ou parece continuar, o que é bem diferente.

    Confirma-se agora, pela análise isenta que este jornal desenvolveu sobre a anatomia da crise há um ano, que a rejeição do PEC IV por Passos Coelho, por pressão reconhecida do - pasme-se - Dr. Marco António Costa, teria podido evitar não apenas o cataclismo momentâneo que levou ao afundamento imediato dos juros como a sua insusceptível recuperação, apesar do contentamento fagueiro da Passos Coelho e Vítor Gaspar, ambos atingidos já pela doença infantil do optimismo ministerial.’

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