quarta-feira, agosto 28, 2013

Falsificar para continuar a desvalorizar salários



No âmbito da 7.ª avaliação, o Governo — através do ministro Mota Soares — forneceu à troika um conjunto de dados para aferir a evolução dos salários em Portugal.

As amostras seleccionadas, relativas a 2009 e 2012, deveriam conter dados de 18.600 trabalhadores do sector público e do sector privado. Estranhamente, ao fazer o tratamento da amostra relativa a 2009, o Governo expurgou os dados de 2.300 trabalhadores (13% do universo a examinar). E a amostra de 2012 sofreu uma amputação bem mais significativa: mais de 4.000 trabalhadores foram ignorados no tratamento dos dados (quase um quarto do universo considerado), dos quais três quartos respeitavam a trabalhadores cujas remunerações tinham sido objecto de cortes salariais.

A circunstância de não terem sido contemplados os dados destes mais de 4.000 trabalhadores no tratamento da amostra desfigurou por completo as conclusões que constam do relatório elaborado pelo FMI na sequência da 7.ª avaliação: em 2012, 20% dos trabalhadores sofreram cortes salariais (quando o FMI reporta apenas 7% nesta situação), a que há que acrescentar mais 45% que viram as suas remunerações estagnadas.

A ocultação da violenta desvalorização salarial a que os trabalhadores portugueses têm estado a ser sujeitos deu azo a que o FMI pudesse escrever no relatório da 7.ª avaliação que seria necessário tomar medidas mais gravosas tendentes a flexibilizar ainda mais o mercado de trabalho: “Até agora, os aumentos salariais para os contratos existentes no sector privado desaceleraram, mas permanecem positivos apesar do ambiente económico deprimido. Sem mais flexibilidade salarial, tal pode implicar mais destruição de empregos e menos rendimento”.

O notável trabalho de Rui Peres Jorge para o Jornal de Negócios pôs a nu esta fraude grosseira. Descoberta a falsificação, o FMI limitou-se a afirmar que fez o tratamento dos dados que lhe foram fornecidos pelo Governo. Entretanto, Mota Soares emitiu um comunicado, no qual afirma, sem nunca se referir ao facto de as amostras terem sido esquartejadas, que os dados entregues ao FMI “corresponderam exactamente ao que foi solicitado por esta entidade”.

Pouco relevante é saber se a manipulação grosseira de dados foi feita em consonância com o FMI (ou não). Ela interessa a ambos: ao Governo, porque coloca os representantes dos credores internacionais a fazer pressão para desregular ainda mais o mercado de trabalho; ao FMI, porque pode manter à tona da água a sua teoria de que a destruição do emprego se deve à rigidez do mercado de trabalho e não à austeridade que conduz ao colapso da procura interna.

O que o Jornal de Negócios hoje relata mostra que este governo quer impor ao país a desregulação completa do mercado de trabalho, dispondo-se a tudo, até a falsificar dados, para dar a ideia de que tal “reforma” é absolutamente necessária.

E é com esta realidade fictícia de que o mercado de trabalho continua muito rígido que o Governo tem “justificado” a adopção de constantes medidas no sentido de desarticular as defesas legais dos trabalhadores, como é o caso da lei, já promulgada e à espera de publicação, que volta a reduzir as compensações por despedimento, medida que se aplicará ao sector privado e vai influenciar a legislação que está a ser preparada para a função pública.

8 comentários :

Anónimo disse...

Qual o espanto? Não foi através de uma fraudulenta campanha eleitoral que estes rapazes chegaram ao poder? Quem mente uma vez, mente sempre!

Anónimo disse...

Aqui é mais do que mentir, é falsificar documentos oficiais. Estão por tudo.

Anónimo disse...

E o palhaço não faz nada?

Anónimo disse...

Espero que as forças políticas e sindicais que se opõem a este estado de coisas e a esta destruição façam ouvir a sua voz e a sua força

José Carvalho

Rosa disse...



É tão grave que nem tem classificação...ou terá, mas abstenho-me de a mencionar neste espaço público de opinião.

Anónimo disse...

Um imensa vergonha!

Nota curricular — Vogal Autoridade Concorrência
1 — Dados Pessoais:
Nome: Nuno Rocha de Carvalho
Data de Nascimento: 13 de maio de 1977
Naturalidade: Lisboa, Portugal
2 — Formação Académica:
2000 — Licenciatura em Direito, pela Faculdade de Direito de Lisboa,
Universidade de Lisboa
2001 — Pós-Graduação em Direito da Comunicação, pela Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra
3 — Atividade Profissional:
Junho 2008 até ao presente — Diretor Jurídico da Sagestamo — Sociedade
Gestora de Participações Sociais Imobiliárias, S.A.
Abril 2003 a junho 2008 — Advogado sénior no Departamento
Imobiliário, na Uría Menéndez Abogados, S.L.P. — Sucursal em Portugal
(Lisboa)

Fernando Romano disse...

Um governo de vendidos, de bandos, anti-patriótico, sem sensibilidade social, inimigo do próprio povo que o elegeu. Nunca me passou pela cabeça ter de assistir a uma situação destas depois da ditadura.

Um governo que tem no PCP o seu melhor aliado político. E um PS, maior partido da oposição, cuja direção é titubeante, medrosa, sem ambição, que anda por aí ao palpite. Não há medida tomada por este governo que não seja uma velhacada, feita à chucha-calada. Fazem o que querem e lhes apetece. E a resposta não surge de pronto, estudada, organizada, pedagógica, que inculca esperança. Entretanto, no seio do povo, cavam-se divisões, instalam-se ódios e invejas e um dirigente sindical reivindica cortes nas pensões mais elevadas!!! à mesa das negociações com esta cambada, floreado para disfarçar a capitulação - a cereja no bolo para os actuais governantes. Só faltava esta!

O nosso País tem tudo para que possamos ser mais felizes. Às vezes penso que precisamos de andar ao sopapo.


Anónimo disse...

não há palavras para o nojo total que representam estes desgovernantes.
a sociedade civil têm de se mexer e encher esta gente incompetente e de má indole de processos criminais.
antes que rebentem de vez com tudo.