segunda-feira, janeiro 20, 2014

Beco sem saída

• João Galamba, Beco sem saída:
    ‘A somar à irrelevância na política europeia, cujo consenso austeritário tinha prometido combater mas que se mantém totalmente inalterado, na frente doméstica Hollande anunciou que vai cortar na despesa pública para abrir espaço à redução de impostos das empresas: "Chegou o tempo de resolver o principal problema de França: a sua produção. Sim, disse bem, a produção. Temos de produzir mais, temos de produzir melhor. É sobre a oferta que temos de agir. Sobre a oferta! Isto não é contraditório com a procura. Na verdade, a oferta cria procura". Isto não é um mero recuo ou uma inflexão, é a total capitulação de Hollande.

    Um partido que para sobreviver adere às teses dos seus adversários não terá nunca grande futuro, porque os eleitores preferem o original à cópia; quem procurou no PSF uma alternativa às atuais políticas, não tardará muito em olhar para outro lado, provavelmente para a FN, que tem sabido falar para a tradicional base de apoio dos socialistas e que já lidera as sondagens.

    Ninguém questiona que a economia e o Estado francês têm problemas que carecem de reformas. O problema do Presidente francês é outro: pior que não ter ideias próprias é optar pelas ideias erradas dos adversários. Se o desafio é produzir mais e melhor, não se percebe em que medida é que reforçar a austeridade, cortando na despesa pública e aumentando o IVA, e baixar as contribuições sociais de todas as empresas resolve o problema: a austeridade deprime a procura, que já é hoje, segundo os próprios empresários franceses, a principal limitação à actividade das empresas, e a redução dos custos de todas as empresas só leva a mais produção, investimento e emprego se as empresas tiveram a quem vender os seus produtos, algo que a austeridade trata de garantir que não acontecerá.

    A social-democracia europeia tem de perceber que não poderá ter sucesso enquanto não contestar a política da direita que aposta na compressão da procura interna e na redução dos custos das empresas como via única para a prosperidade. Este não é, em rigor, um problema francês: é um problema europeu. O problema de Hollande é não perceber isto e escolher aderir às políticas que estão a condenar a Europa (e a França) ao definhamento económico, a um crescente descontentamento social e a uma frustração política explosiva.

    A resposta da social-democracia não pode ser a de aderir a este suicídio colectivo, mas sim o de procurar enfrentar o problema na sua raiz, que é a de uma estratégia europeia que insiste em tratar a maior zona económica do planeta como se esta fosse uma pequena economia aberta, que pode sacrificar o mercado interno e o poder dos seus cidadãos no altar das exportações. Esta estratégia pode ter resultado para a Alemanha isoladamente, mas não poderá nunca ser generalizada: se todos os países tentarem comprimir a procura e baixar os seus custos de produção, o resultado final será mais recessão em todo o lado e ganhos de competitividade nulos, porque, quando todos fazem o mesmo, ninguém ganha.’

9 comentários :

Anónimo disse...

o homem esta a ser chantageado...simples. bastou uma Gayetzinha e pronto, ja "amochou"!

Rosa disse...



"Na mouche", João Galamba! O que todos os europeus sob intervenção da troika já concluíram parece escapar, por completo, ao senhor Hollande...é lamentável e pode vir a ser muito prejudicial para os franceses e não só...

Anónimo disse...

Parece escapar ao Senhor Hollande, ao senhor correia de campos, ao senhor bessa, ao senhor mateus, ao senhor vital moreira, ao senhor francisco de assis, ao senhor amado, ao senhor costa.

Galambas, delgados alves, duartes cordeiros, pednos nunos santos precisa-se.

james disse...



Sempre foi um pateta este Hollande.

james disse...



P.S. ao meu comentário anterior:

E agora António José Seguro fica com as calças na mão?

Anónimo disse...

Mas James, que sugere como alternativa ao Seguro - que ao menos ainda não abriu a boca sobre este desenvolvimento hollandesco, ao contrário de outros muito desejados ou em facções muito desejadas?

james disse...



Caro Anónimo seg Jan 20, 06:25:00 da tarde,

Sugiro tudo menos o panhonhas do Seguro. Entendido?

Anónimo disse...

Em favor de António José Seguro: Onde estão os chamados rabos de palha, ligações aos grupos de interesses? Quem informa? quem denuncia? Nem banqueiros, nem Mexia... Vá lá contem lá o que sabem, já que sabem sempre tanto e têm tanta pica na ponta da língua e da caneta...

Anónimo disse...

Caro James, entendido, Até podia ser o Hollande de cá que isso não fazia diferença.