sábado, abril 12, 2014

O dia em que Vasco Lourenço ligou para o Fórum da TSF [1]

A generosidade com que se entregou ao desígnio de apear o governo de Marcello, o inabalável ânimo de manter o comboio nos carris no período conturbado do PREC e o desprendimento que revelou em relação a honrarias e sinecuras fazem de Vasco Lourenço, a par de Salgueiro Maia, talvez a figura que melhor simbolize o papel desempenhado pelos capitães de Abril. Mas a entrevista que hoje o presidente da Associação 25 de Abril dá ao i revela sobretudo as fragilidades de que o movimento dos capitães nunca conseguiu desembaraçar-se. Veja-se:

1. Vasco Lourenço queixa-se na entrevista de que a «estrutura militar» prejudicou os «militares de Abril», que «eram os melhores, os mais capazes profissionalmente, e por isso fizeram um acto que foi a operação militar mais bem planeada e mais bem conseguida em toda a história das Forças Armadas.» Tendo sido uma figura de proa do Movimento das Forças Armadas e do Conselho da Revolução, que fez Vasco Lourenço (ou melhor, os capitães de Abril) para obstar a que a direita militar, tão pública e notoriamente ligada à ditadura deposta, retomasse quase de imediato o poder nas Forças Armadas, transformando, de resto, o Conselho da Revolução numa flor na lapela que legitimou a sua actuação, designadamente quanto ao afastamento de militares conotados com o 25 de Abril?

Foi por isto que Sá Carneiro pôde, na noite da vitória nas eleições legislativas de 1979, antecipar o regresso aos quartéis, quando disse não estar preocupado com o Conselho da Revolução, porque não se faziam revoluções com esferográficas. A revisão constitucional estava traçada.

2. Embora reconheça que «estamos numa situação em que os actuais detentores do poder agem como se fossem os herdeiros de quem foi derrotado no 25 de Abril», Vasco Lourenço aproveitou a entrevista para mostrar a sua desilusão em relação a todos os partidos políticos, que «falharam rotundamente», e considerar que «os partidos acabaram por transformar-se em agências de emprego e agências de conquista do poder pelo poder.» Quando assistimos à mais brutal transferência de riqueza e de redução dos direitos sociais e laborais de que há memória, Vasco Lourenço ataca indiscriminadamente o sistema político, como se todos os partidos estivessem a ser coniventes no virar do avesso do regime democrático? Eis o contributo involuntário do presidente da Associação 25 de Abril para o branqueamento do saque em curso: «Não mudam, porque têm interesses. Fala-se no arco da governação e eu falo no arco do sistema. Todos eles estão interessados em manter o sistema porque lhes convém e por isso é difícil dar a volta a isto

Vasco Lourenço parece não compreender que existem na sociedade interesses contraditórios e que esses interesses se manifestam através da luta de classes (fenómeno que já tinha sido estudado antes de Marx). Por isso, enquanto ele se entretém a resmungar que «nós lutámos por valores, não lutámos por interesses» e se dispõe a lutar contra imaginários moinhos de vento, a direita aproveita para tentar virar do avesso o regime democrático.

O corolário lógico desta enublada visão não poderia ser outro: «Criaram um sistema em que vão das jotas e começam a ter empregos assim que chegam aos 20 anos, bem remunerados, muitos deles.» Dantes é que havia grandes políticos. Agora, são todos uns incompetentes e corruptos. Vasco Lourenço vale mais do que se propôs mostrar nesta entrevista.

18 comentários :

Anónimo disse...

O que Vasco Lourenço afirma em relação aos Partidos é matéria fática, o PS só tem a ganhar em internamente reconhecer que o rei vai nu. É uma vergonha o que acontece nas Concelhias espalhadas pelo país, qualquer "jovem" chega ao poder, sem qualquer preparação...ou os Partidos abrem os olhos ou acabam.

Victor Nogueira disse...

Não tivessem milhares de populares, sobretudo jovens, "desobedecido" às instruções do Posto de Comando do MFA, não tivesse a população de imediato apoiado os "insurrectos", com Marcelo aconselhado pela PIDE a ir não para Monsanto mas para o Quartel General da GNR, com a Pide "esquecida" mas com a liberdade de movimentos cortada não pelo MFA mas pelos populares, com os prisioneiros políticos "abandonados" em Caxias e Peniche e sujeitos à discussão se seria legal ou não libertá-los, e a permitida encenação da passagem do poder de Marcelo para Spínola e deste para os "seus" oficiais teria resultado em pleno, e não teria havido esses "sobressaltos" de partidos políticos como o PS e sobretudo o PCP,entre outros, nem a extinção da PIDE/DGS, ou a Constituição em 1976, nacionalizações, reforma agrária e outras minudências como o PREC. Nem necessidade dessa salgalhada que foi o 25 de Novembro de Lourenço, Antunes e Eanes ao ELP/MDLP. Nem Vasco Lourenço teria espaço para se "lamentar".

Vasco Lourenço e os "vencedores" do 25 de Novembro logo (quase) de imediato descartados têm o cobertor à medida do futuro que deliberadamente "talharam". Ou ... "atalharam" ? Ao menos Vasco Gonçalves, um dos autores do Programa do MFA que não apenas Melo Antunes, nunca se queixou nem se arrependeu de ter participado no 25 de Abril nem puxou lustro aos galões.

Anónimo disse...

Deram um espaço de comentário à Assunção Esteves aqui no Blog ou trata-se de um caso de carapuça?

João.

ignatz disse...

"Vasco Lourenço vale mais do que se propôs mostrar nesta entrevista."

duvido, é bazófia de circunstância. todos os anos faz uma cena para repararmos que existe para além dos enfardamentos confraternizantes e conbébios cindycalistas.

Anónimo disse...

Vasco Lourenço tem razão e como diz o caro anónimo das 12:23 o rei vai nú dentro dos partidos. Estão apodrecidos e o PS não é excepção, embora em muito menor escala que a associação de bandidos e ladrões chamada coligação PSD-CDS.
É preciso limpar por dentro. É preciso levantar a poeira dentro de casa e varre-la para fora. Pensar que há partidos impolutos é uma ingenuidade completa. Os partidos são feitos de pessoas e as pessoas não são perfeitas. É preciso que os homens bons dentro do PS reconheçam isso e exponham os homens maus que por lá também andam. Não há mal nenhum em assumir os erros e mostrar que se quer mudar. O povo certamente apreciará isso, pois é o que exige neste momento : gente competente, honesta e com sentido de estado e defesa nacional, para nos liderar no que será o periodo mais dificil da nossa história nos ultimos séculos.

Anónimo disse...

é verdade que os partidos do "arco do sistema" (PS, PSD, e CDS) estão podres. acredito que no PS ainda existam pessoas com boas intenções, mas não têm peso nenhum. alimentar as clientelas que depois os adoptam quando saem da "vida política activa" passou a ser a missão dos partidos. e o PS não é excepção. e as pessoas percebem isso.
o (in)seguro, filho duma jota tal como o passos coelho, será (caso chegue a primeiro ministro) outro carrasco dos portugueses honestos, trabalhadores e pagadores de impostos. tal como o Hollande, o Blair/Brown, o PA.SO.K., a terceira via socialista é apenas um desvio com mais curvas para o neo-liberalismo.

Anónimo disse...

E no entanto...o Vasco Lourenço, tem (quase) toda a razão.
Os políticos são uma corja.
Este (des)governo e os que o apoiam são apenas, a corja da corja!

jose neves disse...

É quase dramático, no momento como o que vivemos actualmente, que Vasco Lourenço se junte ao coro demagógico de que " é tudo igual" e "são todos o mesmo" embarcando na propalação de uma mentalidade paralisante individualista e para-anarquista.
A criação deste pensamento, não por acaso também propalado pelo PCP, divide e afasta todos os homens democratas, sérios e capazes, que vivem ao centro no interior da classe média e que poderiam ser o melhor parceiro aliado e a mola para os velhos militares se poderem unir aos novos militares e forças de segurança afim de forçar a imposição do poder democrático sobre a plutocracia actual.
VL já se esqueceu de como venceu o PREC? Que alianças teve de fazer para vencer e sobreviver? O que foi o Grupo dos Nove e quem na sociedade civil era-foi o seu apoio e sua rectaguarda civil democrática sem a qual teria sido derrotado?
Pois muitos desses homens desse tempo ainda andam por aí e muitos mais como esses existem hoje na sociedade portuguesa para apoiar uma solução de reforço democrático para o país, contudo, com o pensamento anti-político a eito de VL tudo se manterá no caminho que nos conduzirá para algo muito pior ainda.


Anónimo disse...

Foi juiz do Tribunal Constitucional durante 9 anos e há 16 anos que recebe choruda pensão...Esta senhora não vive acima das suas possibilidades. Nós é que vivemos quando pagamos uma pensão de mais de 7000 euros (há 16 anos!!!!, quando a "aposentada" tinha 42 anos)...Fazemos vida de ricos...é o que é!!!!http://s3.amazonaws.com/cuttings/cuttingpdfs/68478/498034aaba7818186153c1659dc052b4.pdf

Anónimo disse...

O mal é historico e prende-se à mediocridade das nossas elites intelectuais e politicas. Quanto considerações de V. Lourenço e os partidos, é claro que tem toda a razão. O descontentamento vem do povo. Oiçam-no! Os partidos - todos eles - protegem-se. Desde os empregos para os Jotas até aos aumentos e privilégios aprovados na Assembleia (aumentos etc) em tempo de crise a austeridade para os outros. Das 230 alminhas com assento parlamentar, não houve uma que estremecesse e votasse contra. É triste ter de reconhece-lo! Muito triste!

José Silva disse...

Vasco Lourenço perdeu a credibilidade que ainda lhe restava ao meter tudo no mesmo saco. Cavaco é igual a Sampaio, Relvas igual a Santos Silva, Passos igual a Sócrates. Os Loureiros iguais a Guterres, os Marcelos, Altinos, Oliveira e Costa, Portas, Marques Mendes e quejandos, iguais a gente dedicada, honesta e nobre que integrou governos do PS. É comparar gente impoluta à corja que medrou à sombra do cavaquismo e construiu o BPN, o BPP, o BCP, O Banif...Haja decoro, senhor Vasco Lourenço. O senhor está a borrar a escrita toda. Cale-se, ao menos, para preservar a dignidade do acto que fez o 25 de Abril.

Anónimo disse...

comeo alguém disse uma vez vasco lourenço é bom é no terreno a executar ordens. não lhe peçam para pensar muito nem para reflectir. o que ele anda a dizer valida estes que nos calharam em sorte. mas o vasco não é capaz de ver isso.

João Santos disse...

Mas afinal não se pode dizer nada menos bem sobre o PS?
Também por lá há muito "mete nojo".

ignatz disse...

lembraram-se agora que não bate bem da bola. os ex-subsídiodependentes não perdem tempo, aí tão eles a surfar a onda do isto-é-tudo-a-mesma-merda e a dizerem que tamém querem.
http://expresso.sapo.pt/assuncao-esteves-nunca-foi-tida-como-muito-sa-da-cabeca=f865421

Anónimo disse...

Parece-me óbvio que os políticos de hoje não são todos iguais (vasco lourenço peca por exagero), encontramos honrosas excepções em todos os campos do espectro político nacional. O que me parece ter-se desvanecido, de forma marcante, nestes últimos 40 anos é o sentido de serviço público. Todos os postos políticos de hoje são muito bem remunerados e, em grande parte dos casos, não é evidente o retorno para a população (os políticos são assalariados da população). è neste aspeto que Vasco Lourenço tem alguma razão.
Uma breve nota pessoal para terminar: O meu avô foi durante 34 anos presidente de uma junta de freguesia na província. Nunca teve vencimento. Muitas vezes, afim de garantir que o trabalho se fazia, levava o almoço de sua casa para os cantoneiros que 'remendavam' as estradas da freguesia. Nunca foi rico. Conseguiu alimentar os seus 9 filhos que, como era inevitável, começaram todos a trabalhar em muito tenra idade.
Seria bom que hoje pudessem ver a diferença entre o meu avô e o atual detentor do cargo.

Engenheiro de almas disse...



Pois. Mas o que é que queriam que o Vasco Lourenço dissesse? Que votassem todos no Franc.º Assis, na Maria João Rodrigues, na menina do Porto e no rapaz açoriano do Mar para ajudar o Tó-Zé? Ganhem juízo.


Oiçam-no. Oiçam a voz do Vasco Lourenço, que não é Economista nem Jurista, não é culto, nem um intelectual, mas FALA DE MANEIRA QUE O ENTENDAM! E TEM UM ROSTO SÉRIO! E UMA VIDA QUE NUNCA O ENVERGONHOU!


Não foi ele que meteu o Socialismo na gaveta!


Não foi ele que sabotou a re-candidatura de Eanes em 80, pondo em risco a própria Democracia!


Não foi ele que meteu Portugal na camisa-de-forças do Euro e que aprovou Maastricht, Nice e Lisboa!!!


Não foi ele que acabou com o regime de EXCLUSIVIDADE DOS DEPUTADOS!


Não foi ele que aplaudiu DE PÉ o discurso hipócrita e canalha do Cavaco, em pleno assalto final para o derrube de José Sócrates!!!!


ELE APENAS ESPELHA BEM A REVOLTA LATENTE DO POVO PORTUGUÊS!



Ou então não o escutem, não lhe liguem, não o compreendam, não lhe dêem importância nenhuma.


E, um dia, sofram as consequências.

ricest disse...

...vasco lourenço sem o melo antunes não passa para além de «vasco lourenço» e temos pena

O mais arrozeiro disse...




Já o «ricest», com ou sem o melo antunes, continua sempre a ser o «ricest» e não temos pena nenhuma