terça-feira, abril 10, 2012

Energia nuclear

António Vidigal, Energia nuclear:
    ‘Surgiram-me as primeiras dúvidas em 1979 com "Three Miles Island", mas dei algum desconto, porque afinal não houve mortos e a Central mantem-se, até hoje, em funcionamento. O desastre de Chernobil, em 1986, foi de tal ordem que se tornou impossível de minimizar. Mas havia a justificação que a central não cumpria minimamente as normas de segurança ocidentais e que um desastre desta dimensão seria impossível num reator que respeitasse as normas da indústria nuclear. Já o desastre de Fukushima, em Março de 2011, em sequência do terramoto e tsunami Tohoku, elevou o problema a outro nível, levando países como a Alemanha a abandonar a opção nuclear. Porque se um desastre desta dimensão pode ocorrer num país com a qualidade da engenharia e a disciplina do Japão, nenhum outro país está imune.

    (…)

    Mas, nos próximos 40 anos, a importância da energia nuclear tenderá a diminuir e as energias renováveis tornar-se-ão progressivamente dominantes; terá especial relevância a energia fotovoltaica distribuída, que aliada a armazenamento de energia distribuído e a redes inteligentes, que promovam a eficiência energética, permitirá reinventar o sector elétrico. Para nós, a grande vantagem desta evolução é que recorre a tecnologias ao nosso alcance e que podemos ter a pretensão de desenvolver no País.’

11 comentários :

Zé da Minda sempre disse...

Nem mais.Contra factos não há argumentos.O Senhor Patrick de Barros e o seu agente Mira Amaral(este senhor, está em todo lado onde cheire a dinheiro...) vai ter que esperar até que a vaca tussa...

Gungunhana Meirelles disse...

CHERNOBYL (pior desastre nuclear de sempre, com destruição do edificio de contenção): 31 mortos (na vizinhança imediata do reactor, um deles de queimaduras convencionais e outro de causa cardíaca), algumas centenas de cancros em excesso (absorção de radiação na proximidade de 30 km), com a mortalidade que isso implica, mais os ligeiros riscos possivelmente expectáveis -- mas indetectáveis nas estatísticas, dada a sua pequenez -- de ocorrência de cancros da ordem dos provocados por uma única radiografia ao tórax durante toda uma vida na URSS ocidental e Escandinávia (onde se podem ter verificado casos de absorção de pouco mais de 10 milirems de radiação), ou ainda menos que isso (doses inferiores a 10 mrem) nas regiões da Europa central atingidas pelas «catástrofes locais» resultantes.

FUKUSHIMA (acidente nuclear ocasionado por um dos piores desastres naturais de sempre, apesar disso sem destruição do edifício de contenção nem consequências minimamente significativas fora do âmbito próximo, uma vez que não houve escape de gases radioactivos para a atmosfera, a pior consequência possível de acidentes em centrais nucleares): ainda não vi nada minimamente fundamentado em matéria de números de vítimas, nem reais, nem especulativos, nem imediatos, nem a prazo. Porque será?

Eu sei que tentar convencer os crentes com argumentos racionais é tempo perdido, mas de qualquer modo aqui fica desde já a solicitação de melhores estimativas, se possível, pelo menos para minha elucidação.

Façam este exercício: comecem a prestar atenção à lista de catástrofes máximas relacionadas com outras formas de produção de energia e a frequência com que essa lista se altera para pior (quase todas as décadas), e tentem explicar a extrema dificuldade em fazer o mesmo com a energia nuclear. Porque será? Porque os desastres são escondidos? Porque gozam de boa imprensa?
_________________

[*] Numa radiografia ao tórax absorve-se aproximadamente 25 mrem de radiação (para comparação: num TAC ao tórax e abdomen absorve-se uns 1.000 mrem). As doses de radiação que dizem respeito às especulações estatísticas sobre a mortalidade devida ao acidente de Chernobyl na URSS ocidental e Escandinávia são, na pior das hipóteses, da ordem do que seria de esperar se, digamos, se tivesse submetido toda a população dessas regiões a um rastreio pulmonar através de uma única radiografia.

Gungunhana Meirelles disse...

Segundo o artigo que o post cita: «14% da energia elétrica do Mundo é gerada a partir de centenas de reatores nucleares, um pouco por toda a parte, muitos com idade avançada; países como a França geram a maior parte da energia elétrica a partir desta tecnologia. Os Estados Unidos têm em funcionamento 104 reatores que geram 20% da sua energia elétrica. A China tem 77 reatores nucleares em planeamento e construção e a Rússia 10.»

Breve comentário:

-- Resultados catastróficos (recordes porque não há outros acidentes susceptíveis de menção): Chernobyl (31 mortos contados, algumas centenas de cancros em excesso), Fukushima (?).

- Para comparação (recordes de 1987, hoje na sua maioria ultrapassados, dada a frequencia destes tipos de desastres):

Rebentamento de barragem: 5.000 mortos (Morvi, Índia, 1979).
Fumos de carvão: 3.900 mortos (Londres, 1952).
Incêndio de petróleos: 500+ mortos, 4.000+ feridos (Cidade do México,1984).
Explosão de gasolina: 500+ mortos (Cubatão, Brasil, 1984).
Mina de carvão: 400+ mortos (Índia, 1975).
Explosão de gás: 215 mortos (La Rapita, Espanha, 1978).
Plataforma petrolífera: 123 mortos (Mar do Norte, 1980).
Acidente de avião: 583 mortos (Tenerife, 1984).
Acidente químico: 2.500+ mortos imediatos, 200.000+ feridos/cegos (Bhopal, Índia, 1984).

Gungunhana Meirelles disse...

Disse eu, a propósito do acidente de Fukushima: «sem destruição do edifício de contenção nem consequências minimamente significativas fora do âmbito próximo, uma vez que não houve escape de gases radioactivos para a atmosfera, a pior consequência possível de acidentes em centrais nucleares».

Devia ter dito: «com destruição parcial dos meios de contenção do conjunto de reactores, mas sem consequências significativas fora do âmbito próximo, uma vez que o escape de gases radioactivos para a atmosfera, a pior consequência possível de acidentes em centrais nucleares, foi muito menor que em Chernobyl e portanto as projecções estatísticas são ainda mais ínfimas».

Fica a correcção feita.

Gungunhana Meirelles disse...

Para dar uma ideia do que se consegue -- ou não -- descobrir em termos de números, recorrendo ao actual artigo da Wikipedia sobre o assunto de Fukushima (texto inglês transcrito, meus comentários em português):

Major news source reporting at least 2 TEPCO employees confirmed dead from "disaster conditions" following the earthquake. "The two workers, aged 21 and 24, sustained multiple external injuries and were believed to have died from blood loss, TEPCO said. Their bodies were decontaminated as radiation has been spewing from the plant for three weeks."

[Tradução: 2 morreram de mútiplos ferimentos, como sucede em qualquer outro tipo de desastre industrial ou natural]

45 patients were reported dead after the evacuation of a hospital in Futaba due to lack of food, water and medical care as evacuation was delayed by three days.

[Tradução: 45 morreram de fome, sede ou falta de cuidados médicos resultante do atraso no auxílio a um hospital]

The Associated Press reported that fourteen senior citizens died after being moved from their hospital which was in the Fukushima plant evacuation zone.

[Tradução: 14 idosos morreram depois de terem sido mudados de hospital]

On 14 April 2011, it was reported that the oldest resident of Iitate, a 102-year-old, committed suicide rather than to leave following the announcement of his village's evacuation.

[Tradução: suicidou-se um idoso]

According to the Japanese Government, over 160,000 people in the general population were screened in March 2011 for radiation exposure and no case was found which affects health. Thirty workers conducting operations at the plant had exposure levels greater than 100 mSv.

[Tradução: 160.000 pessoas foram examinadas e nenhum caso de exposição a radiação susceptível de apresentar perigo para a saúde foi encontrado; 30 dos trabalhadores da central apresentavam níveis de exposição superiores a 100 mSv (i.e. potencialemente -- e não «efectivamente» -- causadores de cancro, numa medida que equivale a qualquer coisa como uma dezena de TACs ao tórax)]

In April 2011, the United States Department of Energy published projections of the radiation risks over the next year for people living in the neighborhood of the plant. Potential exposure could exceed 20 mSv/year (2 rems/year) in some areas up to 50 kilometers from the plant. That is the level at which relocation would be considered in the USA, and it is a level that could cause roughly one extra cancer case in 500 young adults.

[Tradução: a exposição de pessoas vivendo na vizinhança até 50 km do reactor acidentado durante o ano seguinte poderia atingir 20 mSv/ano (i.e. o equivalente cancerígeno de um ou dois TACs ao tórax, ou de fumar 7 a 10 cigarros por dia durante um ano)]

However, natural radiation levels are higher in some part of the world than the projected level mentioned above, and about 4 people out of 10 can be expected to develop cancer without exposure to radiation. Further, the radiation exposure resulting from the accident for most people living in Fukushima is so small compared to background radiation that it may be impossible to find statistically significant evidence of increases in cancer.

[Tradução: o impacto sobre os locais do excesso de radiação comparado com o do background normal vai ser tão fraco que pode não ser estatisticamente detectável]

As of September 2011, six workers at the Fukushima Daiichi site have exceeded lifetime legal limits for radiation and more than 300 have received significant radiation doses.

[Tradução: até Setembro de 2011, 6 trabalhadores no sítio do reactor tinham excedido as doses legais de radiação absorvida (nos EUA, por exemplo, a dose habitual legal para os trabalhadores da indústria nuclear é de 20 mSv/ano) e outros 300, doses com algum significado inferiores a isso]

[continua]

Gungunhana Meirelles disse...

[continuação]

Workers on-site now wear full-body radiation protection gear, including masks and helmets covering their entire heads, but it means they have another enemy: heat. As of 19 July 2011, 33 cases of heat stroke had been recorded. In these harsh working conditions, two workers in their 60s have died from heart failure.

[Tradução: verificou-se entre os trabalhadores 33 casos de "heat stroke" (casos de excesso de calor / insolação, não se diz se fatais ou não) e 2 ataques cardíacos fatais em trabalhadores com mais de 60 anos]

Two other worker deaths have been reported so far. By mid-August 2011, a man in his 40s who had worked for a week on the Fukushima Daiichi site was hospitalized and died of acute leukemia not long after passing a physical test. It was not caused by occupational exposure, according to Tepco officials, as "it is medically impossible for symptoms of acute leukemia to manifest from occupational radiation exposure from a few weeks ago." In October 2011, another worker died in his 50s for an undisclosed reason which, according to TEPCO, "had nothing to do with exposure to radiation."

[Tradução: morreram mais dois trabalhadores, um de leucemia sem relação possível com a radiação resultante do acidente (demasiado próximo no tempo) e outro de causas desconhecidas mas sem relação com a exposição à radiação]

As of September 2011, there were no deaths or serious injuries due to direct radiation exposures. Cancer deaths due to accumulated radiation exposures cannot be ruled out, and according to one expert, might be in the order of 100 cases.

[Tradução: até Setembro de 2011, não se verificaram mais mortes ou ferimentos sérios devidos à radiação; os futuros casos de cancro podem ser, na opinião de um perito, da ordem dos 100]

Frank N. von Hippel, a U.S. scientist, has estimated that "on the order of 1,000" people will die from cancer as a result of their exposure to radiation from the Fukushima Daiichi disaster, that is, an increase of 0.1 percent in the incidence of cancer, and much less than the approximately 20,000 people killed directly by the earthquake and tsunami.

[Tradução: outro cientista estimou o número de fatalidades futuras devidas a cancro na ordem dos 1.000, i.e. um aumento de 0,1 % na incidência de cancro, muito inferior aos 20.000 mortos pelo terramoto e tsunami propriamente ditos]

Because contaminated milk was "interdicted in Japan" the number of (mostly non-fatal) thyroid cancer cases will probably be less than 1 percent of similar cases at Chernobyl. Von Hippel added that "fear of ionizing radiation could have long-term psychological effects on a large portion of the population in the contaminated areas".

[Tradução: o número de cancros da tiróide (maioritariamente não fatais) vai ser menos de 1% dos similares de Chernobyl, mas o medo da radiação vai causar efeitos psicológicos duradouros nas áreas contaminadas]

According to a 2012 Yomiuri Shimbun survey, 573 deaths have been certified as "disaster-related" by 13 municipalities affected by the Fukushima nuclear disaster. These municipalities are in the no-entry, emergency evacuation preparation or expanded evacuation zones around the crippled Fukushima nuclear plant. A disaster-related death certificate is issued when a death is not directly caused by a tragedy, but by "fatigue or the aggravation of a chronic disease due to the disaster".

[Tradução: uma investigação jornalística contou 573 casos fatais certificados como «relacionados com o desastre» nos 13 municípios afectados; cada um desses «certificados de relacionamento» é passado quando uma morte ocorre como consequência, não do desastre em si, mas de «fadiga ou agravamento de uma doença crónica devido ao desastre»]

Rabino disse...

Obrigado Meireles pelo seu excelente trabalho.No CC é tudo gente solidaria.

Gungunhana Meirelles disse...

Ora essa, Rabino, não custa nada. É só copiar e colar de mim para mim, com uns aconchegos apropriados à mistura.

Mas, Jesús!, Maria!, essa coisa de pensar que as pessoas são solidárias em bloco é contra a comum decência. Caso lhe interesse, lancei mais algum radioactivismo sobre estes aqui:
http://aspirinab.com/penelope/as-noites-parvas-do-psd/#comment-123053

É o mesmo que tentar convencer cristãos que Nosso Senhor nunca se materializou com um cartão de identidade do império romano, ou judeus que o Hitler -- outro grande injustiçado histórico, ao lado de Judas o imaginário, Ricardo III de Inglaterra (que por pouco não casou com a nossa Santa de Aveiro) e os dois Sócrates, o que não quer dizer que tenha sido politicamente virtuoso -- andou para aí a mandar matar judeus com pesticida para os transformar em sabonetes.

Oy vey. Have a naguila!
http://www.unhommefaurisson.com
http://robertfaurisson.blogspot.pt

Anónimo disse...

Ficou por mencionar a inutilização por décadas, provavelmente seculos das áreas afectadas.O problema está aqui. O problema está não nos acidentes efectivos mas na probabilidade de destruição massiva que o nuclear têm. Basta pensar em nagasaki e hiroshima.
É um potencial demasiado perigoso para deixar á mercê de interesses puramente económicos e de busca do lucro.
Se me disserem que as centrais serão estatais, talvez seja algo a considerar. Mas pelo que percebi, o lobby em Portugal é para licenças privadas de construção e exploração.

Gungunhana Meirelles disse...

Anónimo das 12:27:00: «Ficou por mencionar a inutilização por décadas, provavelmente seculos das áreas afectadas. O problema está aqui. O problema está não nos acidentes efectivos mas na probabilidade de destruição massiva que o nuclear têm. Basta pensar em nagasaki e hiroshima.»

... onde hoje, claro está, não vive ninguém, como aliás nas décadas que imediatamente se seguiram a 1945...

E o que é isso de «probabilidade de destruição massiva do nuclear»? Que probabilida e que nuclear? Combustível nuclear? Armas nucleares? A probablidade de numa central nuclear ocorrer uma reacção em cadeia explosiva, como sucede com o material com um grau de enriquecimento muito diferente empregue nas armas nucleares, é estritamente igual a zero. Só se as leis da física forem milagrosamente alteradas.

Gungunhana Meirelles disse...

Oops. Onde escrevi «andou para aí a mandar matar» leia-se «não andou para aí a mandar matar». E onde acentuei Nosso Senhor Jesús, retire-se o acento que me esqueci de retirar quando resolvi acrescentar o «s» a Jesú! As pressas dão nisto. Ou então é da radiação.