quarta-feira, setembro 19, 2012

O desrespeito

• João Cardoso Rosas, O desrespeito:
    ‘Na minha opinião, aquilo que mais enfureceu os cidadãos, tanto na forma das mensagens governativas como no seu conteúdo, foi a falta de respeito por parte dos governantes. Viu-se isso nas manifestações e é também o que se ouve nas conversas do dia-a-dia. O respeito é um bem simbólico, não é um bem material, mas não é coisa de somenos. Em muitas situações, é mais importante do que o dinheiro ou o convencimento gerado pela propaganda.

    Recordemos o "truque"da comunicação inicial do primeiro-ministro (repetido depois com a conferência de imprensa do ministro das finanças). Os assessores governamentais terão pensado: embrulha-se a coisa numa linguagem pseudo-técnica e o povo não compreenderá sequer o que está em causa, lança-se a bomba minutos antes de um jogo de futebol, depois os "portugas" vão ver o Cristiano Ronaldo dar uns pontapés na bola e esquecem o assunto. Imagine-se o tipo de cabeça que pensa assim. Tem total desprezo pelos cidadãos e pela sua inteligência. A resposta que teve, nas manifestações e na indignação generalizada, esteve certamente à altura.

    Mas o problema não está apenas na forma. Está também no conteúdo. É óbvio que a medida relativa à TSU soa a verdadeira provocação. Todos sabemos que a austeridade tem sido tudo menos bem repartida e que as pensões e os rendimentos do trabalho, especialmente dos funcionários públicos, têm sido os mais penalizados. Acrescentar agora uma transferência directa dos rendimentos do trabalho, incluindo no sector privado, para as entidades patronais é uma forma de dizer à maioria dos portugueses que eles são apenas "carne para canhão". Mais uma vez, a resposta da cidadania - e até das próprias elites - esteve à altura.’

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