quarta-feira, setembro 19, 2012

Santiago Carrillo


    ‘Por essa exata hora do dia 23 de fevereiro de 1981, em Madrid, o Parlamento foi invadido por um bando e o chefe deste, um tenente-coronel bigodudo, subiu à tribuna e gritou: "Quieto todo el mundo!" Assistiu-se à humilhação: todos os deputados (quer dizer, toda a nação) encafuaram-se que nem coelhos sob as cadeiras e o tampo das mesas. Um militar na tribuna com uma pistola na mão - cujo disparo para o teto convenceu os hesitantes - dominava a casa dos representantes do povo. Mas quer a história que por vezes haja uns mais representantes do que outros. Três homens não obedeceram: um velho general, então ministro da Defesa, Gutiérrez Mellado, um homem de direita, o chefe do Governo demissionário, Adolfo Suárez, e um homem de esquerda, o comunista Santiago Carrillo. O general levantou-se para interpelar o bando e foi agredido, Suárez e Carrillo mantiveram-se sentados, soberbos. O general morreu em 1995, Suárez perdeu a lucidez e vive retirado e Santiago Carrillo morreu ontem.’

2 comentários :

ams disse...

Um... excelente texto, como tantos outros afinal do FF. Levou-me a 'Anatomia de um Instante', de Javier Cercas, só para reler algumas passagens sublinhadas. Ah!, estou certa que faria um bom texto sobre o assunto, Miguel Abrantes.

Miguel Abrantes disse...

Obrigado, ams.