sexta-feira, julho 26, 2013

"Ficaremos então a saber o que já se suspeitava: a identidade do CDS é revogável"


• Pedro Silva Pereira, A dissimulação:
    'No mesmo comunicado em que, por razões de alegada "consciência", anunciou a sua famosa demissão "irrevogável", Paulo Portas antecipou, com impressionante franqueza, o que significaria continuar no Governo. Explicou ele, preto no branco: "ficar no Governo seria um acto de dissimulação". É sabido que depois, pensando melhor entre a demissão e a dissimulação, Portas decidiu-se: escolheu dissimular. Assim sendo, o anunciado "segundo ciclo" de governação da direita será, assumidamente, o ciclo da dissimulação. E o espectáculo já começou.

    Como explica o Dicionário da Porto Editora, "dissimulação" é o "acto ou efeito de dissimular; fingimento, disfarce; ocultação". E "dissimular" é "fingir" ou "fazer parecer diferente". A propaganda ostensiva dos últimos dias prova que o desafio assumido por este Governo remodelado é esse mesmo: fazer parecer que é o que não é.

    O primeiro fingimento, demasiado grosseiro para passar despercebido, consiste na tentativa de fazer passar este Governo remodelado por um "novo Governo". A intenção é óbvia: fugir às responsabilidades pelos resultados desastrosos dos últimos dois anos - como se estes devessem ser facturados não ao Governo de Passos Coelho e Paulo Portas mas a essa outra entidade, entretanto desaparecida: o "Governo do primeiro ciclo". Mas não há disfarce que resista: o Governo que Gaspar reconheceu falhado e desacreditado, e que o País viu dividido e desautorizado, é este mesmo Governo que Passos Coelho e Portas conduziram até aqui, com 127% de dívida pública, 10,6% de défice, 4% de recessão e quase 18% de desemprego. Nenhuma renovação de caras, nenhuma revisão orgânica, nenhuma redistribuição de poder poderá apagar estes dois anos de falhanço, desastre económico e tragédia social.

    O segundo fingimento não é menor do que o primeiro e diz respeito à própria ideia de um "novo ciclo". É aí que Paulo Portas terá de jogar o melhor das suas habilidades na arte da dissimulação para cumprir uma estratégia de absoluta duplicidade: garantir continuidade à ‘troika' ao mesmo tempo que se promete mudança aos portugueses. É certo, a escolha do discurso e dos protagonistas pode ajudar. Mas não é tudo. Há-de chegar o momento da verdade, sem lugar para mais fingimentos nem disfarces: o Orçamento para 2014 e o corte de 4.700 milhões de euros. O novo ciclo confirmar-se-á, então, como um segundo ciclo de austeridade, com mais cortes nas pensões e nos salários. Com mais despedimentos na função pública e com mais desemprego. Nesse dia, cairá a máscara.

    Ao fim de dois anos de reconhecido falhanço e três semanas de crise política, o Governo, a mando do Presidente da República, propõe-se perguntar ao Parlamento se é digno de confiança. Mas, verdadeiramente, não é sobre isso que o Parlamento lhe vai responder. O que vai ser votado é o juramento de fidelidade do CDS a um Governo que queimou, uma a uma, todas as bandeiras políticas que fizeram a identidade do CDS - dos contribuintes, aos pensionistas. E que, com maior ou menor dissimulação, vai continuar a fazê-lo. Ficaremos então a saber o que já se suspeitava: a identidade do CDS é revogável.'

3 comentários :

Anónimo disse...

Mas qual falhanço qual quê! O falhanço é só para o país e para os portugueses. A ida ao pote continua agora com a privatização dos CTT. A seguir à privatização das águas e da Tap já podem ir embora. Jà tá o pote lambido!

Joaquim Camacho disse...

Ainda que a despropósito: e o FAL, pá? Fica-se, vai-se ou vem-se?

Anónimo disse...

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O homem é também matéria:concomitantemente são, pelo menos três, os estados da matéria:
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Primeiro;o estado sólido, que corresponde mais ou menos ao homem do Neólitico.
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Segundo: o estado líquido, que corresponde mais ou menos ao estado do homem transparente, do - penso logo existo.É estado da Modernidade.
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Terceiro; o estado gasoso, que coresponde mais ou menos ao estado do homem invisível, do peixe que não vê a água e do homem que não vê o ar. É o estado do homem, que - não vale a pena pensar.É o estado da Pós-Modernidade.
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O estado do Portas? É estado abaixo de cão.
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