quarta-feira, novembro 02, 2005

Sugestão de leitura

M. Fátima Bonifácio escreve hoje um artigo no Público, intitulado Ilusões, do qual se transcreve o seguinte extracto:

    "A justiça, toda a justiça, está em greve. No que em particular respeita aos juízes, a greve é justa e seria a bem dizer imprescindível, como explica Ricardo de Sá Fernandes no PÚBLICO de 25 de Outubro. O “quadro económico” em que os juízes exercem as suas funções é crucial para “assegurar a independência da função e, por isso, o exercício da própria justiça”. À primeira vista, o argumento intimida, mas não convence: as medidas até agora decretadas pelo Governo não degradam em nada de essencial o quadro económico actualmente existente. É verdade que esfriam as expectativas quanto à sua melhoria já no próximo ano, na medida em que, tal como acontece na generalidade da função pública, suspendem a promoção automática nas carreiras. Mas é necessário um grande esforço de imaginação para discernir como pode a supressão de um subsistema de saúde ou o condicionamento do direito a férias minar a independência dos juízes e apoucar o estatuto requerido pelo exercício cabal das suas funções. E, olhando a coisa pelo lado económico, confesso que, pessoalmente, não compreendo por que tenho eu, beneficiária da ADSE, de complementar os cuidados de saúde que o Estado me dispensa com um seguro de internamento privado, quando um juiz é poupado a essa despesa. De resto, também não vislumbro por que motivo a ADSE serve para os professores e outros funcionários públicos, mas não serve para os juízes.

    Seria, em suma, inaceitável que juízes e magistrados e, por maioria de razão, funcionários judiciais fossem poupados aos sacrifícios que a dramática situação das finanças públicas impõe a todos os servidores do Estado, incluindo as próprias Forças Armadas. Por mais que se argumente com a alegada “especificidade” da função, verifica-se, afinal, que também os protestos dos juízes não escapam a um quadro geral em que ninguém se dispõe a acatar a perda de regalias que comprovadamente não há dinheiro para pagar, por mais que, por outro lado, o Estado continue a espremer os contribuintes. Esta impossibilidade tem sido demonstrada de forma tão eloquente que é difícil entender como consegue a demagogia dos sindicatos e dos partidos da esquerda radical mater tanta gente persuadida de que possui “direitos adquiridos” intocáveis e, mais do que isso, de que pode legitima e realisticamente aspirar, nas condições vigentes, a ver a sua situação melhorar num futuro próximo. É difícil mas não é impossível."

10 comentários :

Anónimo disse...

Em cheio. A grande reforma da justiça pretendida pela corporação dos juízes ... é fugirem à ADSE.

Anónimo disse...

E ao IRS sobre o subsídio de residência, acrescento eu!

Anónimo disse...

Cluny e Coelho clamam vitórias com a adesão à greve dos seus privilegiados associados. De vitória em vitória, até à derrota final. É óbvio, só eles não sabem ver.

Anónimo disse...

Se a funcionária da secretaria, e o professor universitário, entre centenas de milhares de funcionários públicos, têm a ADSE. por que razão é a mesma indigna para os juízes ? Órgãos de soberania!!! Ganham tão bem os juízes, se não querem a ADSE, façam seguros de saúde privados. Até os podem descontar no IRS, pormenor este que lhes é tão precioso.

Anónimo disse...

Mas, a ser assim, com esse argumento simplicista ( o regime da ADSE é mais caro para o erário público do que os SSMJ , porque razão manteve o Estado esse mesmo subsistema para outros funcionários públicos, tais como técnicos do IRS ?
Dá que pensar ou não vale a pena ?
Não vale a pena. Hoje ningém ouve ninguém. Todos olham com inveja para o quintal do vizinho, mas ai de quem toque nas penas da sua própria galinha.
Sabes que mais Miguel, colocando-me ao teu nível, vai apanhar onde leva essa galinha

Anónimo disse...

Anonymous da 2:25:57:
Pela mesma razão que manteve para os guardas prisionais, PJ, PSP, etc.: profissões de risco com elevado desgaste e perigosidade física. COMPREENDE?

Anónimo disse...

Sou funcionário público - e se a questão é essa - adiro desde já aos serviços de saúde do MJ!!! Ofereço a ADSE, se até é mais cara.

Anónimo disse...

Um professor, ainda que do ensino básico, chega ao fim da carreira com uma reforma de quase 500 contos, das mais altas reformas da função publica (basta ver o DR) que mais querem eles? Se começamos a tratar os juizes como o resto da FP qq dia ninguem os respeita e isto vai ser a anarquia, é isso que querem?
Ao governo dá jeito pois enquanto colocam o povo contra os juizes, não estão contra ele mas até quando?
Se lhes faz tanta confusão os SSMJ olhem para os SS da GNR ou dos militares e vejam o que são beneficios e despesa para o estado. Nos SSMJ a despesa é inferior ah da ADSE pq ah uma boa gestão das convenções, na ADSE ah um poço sem fundo. Mas se o governo prefere estragar tudo, estejam á vontade com a certeza que va dar barraca.
Quanto ahs pessoas que estão muito invejosas com os "beneficios" dos outros, também querem as obrigações???

Anónimo disse...

"Mas é necessário um grande esforço de imaginação para discernir como pode a supressão de um subsistema de saúde ou o condicionamento do direito a férias minar a independência dos juízes e apoucar o estatuto requerido pelo exercício cabal das suas funções."

Muito bem !

João Carlos Mendes da Silva disse...

No que toca aos Funcionários Judiciais, o post não assenta nem serve, apenas demonstra um carisma de ignorância. Desde logo todos os funcionários judiciais descontam do seu vencimento para os SSMJ, tal e qual como pagassem no final do mês um seguro privado de saúde. Saí-nos do bolso.
Em segundo, os SSMJ foram criados com um fim, não por mero "fetiche".
Dos indignados que aqui comentam, revelem quem é obrigado a trabalhar para além do horário normal sem receber um tostão.
Basta ver TV para se perceber, pelo menos nos casos mais mediáticos que Oficiais de Justiça trabalham até à 1, 2, 3, 4, 5 horas da madrugada e às 9 horas tem que estar no seu local de trabalho, e relembro não ganhamos "cheta", e estes são uma minoria. Todos os dias em vários tribunais isto repete-se dia após dia.
Indignados!? É por causa desse sentimento que nem andamos nem desencravamos. Os utentes da ADSE deveriam exigir serviços iguais ao melhor subsistema de saúde público, que não é certamente os SSMJ.