O novo realismo é o título do artigo que António Guerreiro hoje escreve no
Público. Vale a pena ler e guardar. Eis uma passagem:

«Na busca de uma opinião universal como consenso, o posto mais avançado é ocupado pelos novos realistas. Trata-se de uma categoria de gente munida de argumentos que conservam, como armas, as receitas da propaganda maoísta e leninista importada de outrora, postas agora ao serviço de uma ideologia que não ousa nomear-se como tal: um novo realismo tão avesso à política das ideias que se entrega de maneira servil à política das coisas. Não há pior ideologia. Estes realistas por princípio, injuriosos face aos sonhos do passado de muitos deles, chamam utopia a tudo o que não se conforma o seu realismo dogmático e, contra ela, fazem constantes apelos à ordem: o novo realismo convoca prontamente o argumento moral. Utopia é, para eles, tudo o que lhes parece oferecer resistência ao presente. Qualquer forma de resistência é uma abominação, um idealismo criminoso, já que pensam conhecer melhor a realidade do que todos os outros. Não condenam apenas a resistência que se traduz em actos, mas também a resistência que se exerce pelo pensamento. “Não te obrigarei a pensar”, porque o que conta é a realidade: eis a injunção implícita em todo o novo realismo, que promete verdade e realidade a baixo preço. O novo realismo é um ressentimento anti-filosófico. E o novo realista é um conservador cínico e trocista: “Não te vergas à realidade, não aceitas a políticas das coisas-tal-como-elas-são? Vais ver o inferno a que te condenas e os castigos que te esperam”. (…)»