quinta-feira, dezembro 14, 2006

LER OS OUTROS

Miguel Vale de Almeida [Não obrigada?]:

    “Segunda Circular, Lisboa. Pelo menos três grandes outdoors do movimento "Não Obrigada", contra a despenalização do aborto. Tudo bem: quem tem dinheiro pode. Mas podiam ter arranjado um copywriter um pouquinho mais inteligente, tipo com o cérebro completamente formado. É que "Não obrigada" sem vírgula entre as duas palavras mais parece slogan a favor da despenalização: "Grávida? Não obrigada (apenas se quiser...)". Fugiu-lhes a boca para a verdade, para a obrigação da gravidez pelo estado, dono dos úteros das fêmeas, propriedade colectiva.”

    “A questão da despenalização da IVG é tão excêntrica para a hierarquia religiosa porque trata de uma arbitragem de direitos tocada pelas consequências da grande questão do século XX que continua a passar marginalmente pela Igreja Católica: a da igualdade plena entre mulheres e homens.”

João Pinto e Castro [O estado do ensino superior]:

    “Na opinião de Manuel Castells, expressa aquando da sua última passagem por Portugal, o único factor comum a todos os surtos de desenvolvimento que estudou foi o papel central desempenhado pelas universidades.

    Se ele estiver certo, é caso para dizer que estamos bem lixados, visto que as universidades são, em termos relativos, aquilo que pior funciona em Portugal. E o mais grave é que, ao contrário do que se passa em áreas como a saúde ou a justiça, nesta não foi ainda traçada qualquer linha de rumo estruturada e coerente tendo em vista a transformação do actual estado de coisas.

    Os problemas do ensino superior público têm semelhanças com os dos tribunais e dos hospitais, mas fala-se pouco deles. Será porque a grande maioria dos comentadores com assento nos media são professores universitários?”

Ivan Nunes [Pinochet no inferno]:

    “É certo que Pinochet nunca foi levado à justiça. Mas, desde 1998 - ano do mandato de captura do juiz Garzón - e até depois de morto, o antigo ditador não fez outra coisa senão inventar esquemas e fugir. É um caso (e talvez raro) de quem, por mais que se proteja, não fica a coberto dos crimes que praticou. Pelas suas decisões e subterfúgios, os seus familiares revelam que têm consciência disso. Suponho que o inferno seja isto.”

João Paulo Sousa [Antiquíssimo circo]:

    “Mas não, a coisa tinha de ser feita de outro modo, com La Féria a fazer-se de desinteressado e a apresentar a candidatura no último dia do prazo, com a comissão a atrasar a decisão óbvia, à espera do cansaço de quem gosta de teatro. Porque é essa a questão que aqui se coloca. Do conceito de teatro à maneira dos gregos, como instrumento de formação da cidadania, vai passar-se para o circo dos romanos, para o divertimento acrítico, para o entretenimento das massas. Música no Coração? A Canção de Lisboa? Passa por mim no Rossio? E qual é a diferença entre um destes espectáculos e uma partida de futebol? Ah, talvez haja. Afinal, um bom jogo de futebol sempre nos permite percorrer um leque variado de emoções. Quanto ao resto, apenas uma certeza: o Rivoli deixará de ser um palco privilegiado do Novo Circo e tornar-se-á arena do velho, antiquíssimo, circo. Para gáudio do povo, como então se dizia, e de quem não o quer a pensar.”

2 comentários :

Anónimo disse...

Pois ó Paulo Pedroso:
Os homens, em princípio não podem abortar.
Salvo casos raros, claro.

Anónimo disse...

Para acabar com os abortos não vote PS nas próximas eleições.