segunda-feira, janeiro 14, 2008

Pacheco e Valente “em estilo críptico de treinador de futebol”


"Vocês sabem do que eu estou a falar"



Rui Tavares no Público de hoje:

    «(…) Não há melhor país para um cronista senão Portugal. Numa semana, está prestes a ser implantado um regime fascista. Na outra, já toda a gente se esqueceu disso, mas em seu lugar está em curso um ataque concertado à liberdade de opinião. A sério.

    O tema do fascismo fora proclamado por Pacheco Pereira e Pulido Valente, o mesmo que em tempos escarnecera do PCP por "não haver nada a que não tenha chamado fascista". Há efectivamente uma diferença crucial. Para os dois historiadores nem tudo é fascista. Só enxergam sinais de fascismo que lhes cheguem da esquerda. A Lei do Tabaco e a acção da ASAE são dois desses sinais. Já a invasão de países sob falsos pretextos, as leis de espionagem interna do Patriot Act, a conversa sobre civilizações "superiores" e "inferiores", e extraordinariamente até o racismo ostensivo dos skinheads portugueses - tudo isto lhes tem passado tranquilamente sob uma certa indiferença, branqueamento, e por vezes até aplauso. Por isso, onde e quando a direita estiver no poder, lá esperaremos pelas novas lições de boa-educação e rigor conceptual dos mesmos autores.

    Uma vez que o tema do "fascismo higiénico" não foi recebido com a devida reverência, note-se então como foi discretamente abandonado, embora não pareça.

    Pulido Valente respondeu a Pedro Magalhães com a má vontade habitual, mas sem verdadeiramente defender o que dissera antes ou contrariar o que lhe haviam dito. Até ao último parágrafo: depois de ter sugerido que o seu oponente é adepto da "ordem e muito respeitinho", remata avisando que "ou muito me engano ou já ouvi isto". Isto o quê? Ouviu onde? Não nos é dito, só insinuado.

    A resposta de Pacheco Pereira é ainda mais bizarra. Começa por denunciar que está em curso um "ataque à independência da opinião" (viram?) cujos alvos são "[ele] próprio, Vasco Pulido Valente e António Barreto". E depois segue-se uma longa lista de pessoas que Pacheco Pereira acha que não gostam de Pacheco Pereira.

    Lista de pessoas, não. Como opinador independente e corajoso que é, Pacheco não consegue citar um nome, responder a uma opinião, refutar um argumento. O seu confronto faz-se fantasmagoricamente, contra categorias vagas de gente - os "modernizadores", os "pensadores-engraçadistas", os "inocentes úteis" - em estilo críptico de treinador de futebol.

    E é assim que numa semana a conversa deixou de ser sobre o "fascismo higiénico": passou a ser sobre eles. Deixou de ser sobre as posições que defendem: passou a ser sobre as posições que detêm. Para dizer a verdade, nem reconhecem poder existir qualquer debate, a não ser sobre a pura ilegitimidade de alguém lhes interpelar as opiniões. E é uma pena, porque estes novos temas têm pouquíssimo interesse.»

8 comentários :

João Pinto e Castro disse...

O Rui ofendeu sem necessidade esses cavalheiros que, gabando-se tanto de detestarem o futebol, foram agora surpreendidos a falar futebolês.

Anónimo disse...

A lei anti-tabaco é uma espécie de protocolo de quioto aplicado aos fumadores. E bem aplicado.

Anónimo disse...

Não devemos levar a serio estes pobres-pensadores de pacotilha esfarrapada. O seu tempo já lá vai, são passado, ninguém os leva a serio. São hiperbólicos assim como mutantes na escrita e no verbo. O futuro está noutras paragens mais abertas, livres e tolerantes.
Estas peças de museu, sem historia, ressentidos e ressabiados prestam-se ao papel de hospedeiros dos interesses do militante nº.1 do PPD, contra tudo que venha do Governo.
Já percebemos o que o sr. Balsemão quer. E para o conseguir vai utilizando os peões de brega que se subordinam a essa estratégia. A SIC e o expresso também fazem parte desses objectivos. È claro como a água.

Anónimo disse...

não li os artigos citados, pelo que me não vou pronunciar sobre eles. Mas que está em curso um "fascismo higienista", está. Esta lei do tabaco não é uma lei anti-tabaco, mas uma lei anti-fumadores. Se um restaurante tem 2 salas, porque não pode ser uma para fumadores e outra para não fumadores? Porque os "arianos" não fumadores têm o direito de ir a qualquer uma das duas salas; por isso, mesmo a sala onde se pode fumar tem que ter uns dispositivos complicadíssimos para proteger os impolutos pulmões dos impolutos não fumadores!
E porque não há-de poder fumar-se nos espaços entre duas carruagens dos combóios?
Esta lei, tal como está redigida, é pior que fascista, é nazi, pois discrimina os "arianos" não fumadores, considerados cidadãos de 1ª, dos "porcos fumadores", cidadãos de 2ª ou nem sequer cidadãos. E a verdade é que as primeiras leis anti-fumadores foram justamente feitas pelo Hitler; e não foi certamente por acaso.

Anónimo disse...

E por que é proibido fumar com a porta da carruagem aberta (em andamento)?
Já não há pachorra para estes nazis.

Tenho um primo que tem o vício de fazer festas na cara das pessoas. É absolutamente inócuo, não fazendo mal à saúde de ninguém.
Agora querem proibi-lo de livremente exercer o seu direito ao vício. Ele ainda sugeriu que os restaurantes tivessem 30% do seu espaço dedicado às pessoas com a mesma adição (e nem era necessário gastarem rores de dinheiro em sistemas de extracção de ar cujo custo também se iria repercutir no preço das refeições dos NÃO fumadores!), mas não teve muita sorte.
Fascismo, é o que é!

Anónimo disse...

estas novas regras, que serão eventualmente demasiado rigidas,
tem um merito indiscutivel de fazer estas "beldades do pensamento inútil" darem de si, e colocarem-se no centro do mundo das nossas preocupações.
completamente de acordo com artigo...
abraço parabens!

Anónimo disse...

O que Rui Tavares não consegue é desmentir as afirmações de JPP sobre si próprio, Barreto e Pulido Valente e que em boa verdade explicam porque é que eles são os mais influentes e os mais lidos,
Ora vejam o que diz JPP:

"O que é que os "velhos do Restelo" têm que irrita particularmente?


Primeiro, poucas ilusões, o que não é propriamente um mérito, é mais para o lado da desgraça, mas não há volta a dar. Nisso, de facto, estão velhos e já viram tanta coisa que não se lhes pode pedir que pensem como o secretário de Estado que resolveu disciplinar os reformados dando-lhes 68 cêntimos por mês em nome da racionalidade dos gastos e da sua alta visão. Foi preciso um velho, que também não deve ter muitas ilusões, o ministro da pasta, para terminar com essa patetice em 24 horas, porque ele sabe o que é um reformado e o jovem imberbe não.

Depois, uma atitude, que hoje se considera cada vez mais bizarra e antiquada, face à liberdade. Prezam a liberdade de uma forma que só pode ser prezada por quem não a teve, e isso também não há volta a dar, só acaba com o túmulo. Nunca falarão de Salazar, da censura, da polícia, com a displicência yuppie dos nossos dias. Não têm "distância", embora o arranque da historiografia e da sociologia para fora das baías do antifascismo e do jacobinismo se lhes deva em parte, quando a academia permanecia gloriosamente dominada pelo PCP e pelos esquerdistas.

Aquilo que, na sua imensa ignorância, alguns consideram ser as ideias dos anos 60, o mal que Sarkozy e os seus imitadores querem extirpar, é uma noção individual da liberdade, um gosto pela vida autónoma, uma vontade de não depender de ninguém, uma desconfiança natural da autoridade presumida e arrogante, que sempre foi mais forte do que o invólucro radical desses mesmos anos. Por estranho que pareça, esta liberdade libertária tem continuidade na profunda convicção de que a revolução dos costumes desses anos, o que deles vai ficar, só é garantida pela riqueza, riqueza de dentro, a "cultura", esse termo tão abastardado, e riqueza de fora, posse das coisas, de bens, do tempo próprio.

Essa liberdade antiquada é vista quase como um atavismo, um resquício do pecado original inexpiável de terem sido comunistas, maoístas, esquerdistas, ou suspeitos anti-salazaristas e terem abandonado esses lugares do crime 20 anos antes do dr. Pina Moura, que, pelos vistos, o fez no tempo certo. O absurdo é ver ataques a António Barreto por ter sido comunista há 40 anos, ele que foi o alvo principal do PCP, junto com Soares, na questão da Reforma Agrária.

Não adianta sequer dizer à ignorância impante que, com excepção de meia dúzia de conservadores, poucos, aliás, a "luta final" que terminou em 1989 com a queda do Muro de Berlim, como escreveu Silone, foi mais entre comunistas e ex-comunistas. Os grandes textos simbólicos contra o comunismo, O Retorno da URSS, O Zero e o Infinito, o 1984 e O Triunfo dos Porcos, vieram de homens como Gide, Koestler e Orwell. Nos momentos mais duros da guerra fria, os ex-comunistas e os liberais mais radicais com quem se aliaram foram os únicos a travar o combate intelectual contra a hegemonia intelectual comunista. Revistas como o Encounter ficaram como exemplo dessa aliança em tempos bem mais difíceis do que os de hoje. E que, nos momentos decisivos do fim do império soviético, quando o expansionismo soviético conheceu o seu espasmo agressivo entre o Afeganistão e Angola, só ex-comunistas, como Mário Soares, e ex-maoístas lutaram contra a URSS, a favor de dissidentes soviéticos como Sakharov, em Portugal, em França com os "novos filósofos", mesmo nos EUA, onde muitos neocons vinham da esquerda radical americana.

Depois os "velhos do Restelo" são também antiquados por não gostarem muito da redução da política ao marketing, à publicidade e à substituição da decisão política pela parafernália da gestão da imagem, das sondagens e dos aconselhamentos pelas agências de comunicação. Tendem a ver a substituição dos órgãos políticos de decisão, eleitos e tendo que prestar contas, por gabinetes de assessores e agências de comunicação, por spin doctors e "marqueteiros", como uma degradação e uma opacidade. Não gostam dos homens de plástico que nos vendem hoje e do mundo de plástico que vem com eles. E isso gera um conflito de interesses com o crescente papel no mundo comunicacional dos profissionais da propaganda moderna e dos políticos que se moldam a esta realidade "comprando" a sua imagem."

Anónimo disse...

Os ex-qualquer coisa definem-se assim, por:

- Os que opinam em total liberdade, com lucidez e frontalidade;

- Os que opinam de acordo com certos interesses,escrevem autenticos absurdos, utilizando a arma da arruaça, chegando ao ridiculo.
No segundo grupo, encontram-se figurantes de opinião, como sejam, Ab,Pv,Pp,Ms,Mf e mais uns filhotes.