quarta-feira, julho 23, 2008

Leituras




Baptista-Bastos escreve sobre António Borges. Mas o outro artigo que cito também o poderia ser. É verdade que ambos os textos poderiam ter por musa inspiradora várias outras figuras da política doméstica, embora assentem bem neste descendente de Carlos Magno e Hugo Capeto:

Baptista-Bastos, O GÉNIO DOS CORREDORES:
    “Num curioso artigo editado no Público de anteontem, o dr. António Borges aplicou, como refrigério para a nossa crise, a extraordinária indicação: "Um grande desafio para o PSD: relançar a economia privada." O dr. Borges, ao que me dizem, é o resultado de uma adição entre conhecimentos gerais de economia e absolutos desconhecimentos da realidade concreta. Não está só, neste campo. Porém, é tido e havido como uma espécie de génio que veio de longe e, pois, marcado pelo toque de civilizações preciosamente trabalhadas.

    Com perdão da palavra, não me parece que o artigo em causa seja o produto de uma meninge propensa a grandes elucubrações. Redigido num português medíocre e um pouco confuso, nada diz de novo nem de relevante. O dr. Borges poderia escrever que o grande desafio para o PSD seria relançar a educação ou relançar a justiça ou relançar a saúde ou relançar as pescas ou relançar a agricultura ou relançar a auto-estima - a consequência dava no mesmo: inutilidade redonda.

    O dr. Borges possui (haja Freud!) ar grave e pose imponente. Poder-se-ia atribuir-lhe, com tal apresentação, a espessura de um pensamento incomum, a densidade de uma ideia inovadora, a eficácia de uma doutrina que fizesse estremecer de emoção os espíritos expectantes, a crença de um patriota que resgatasse esta atonia desequilibrada e mórbida. Nada. Além do mais, emaranha empresários com empreendimentos, as Descobertas com empresas, ignorando que, neste último caso, a grande empresa foi constituída pelo Estado: os "empresários" de então não arriscaram numa aventura de improváveis lucros. Um módico entendimento da História impediria o dr. Borges de cometer o desatino.”
• João Pinto e Castro, Contra o pensamento ocioso:
    “Insistir na ideia de que, se os portugueses se resignassem a consumir menos, o país entraria nos eixos é, nas actuais circunstâncias, uma piedosa intenção votada ao insucesso. Certos comentadores recusam-se a aceitar que algumas formas de ajustamento dos mercados são mais difíceis do que outras; mas todos sabemos que é mais fácil aumentar salários do que baixá-los, empregar pessoas do que dispensá-las e aumentar o consumo do que baixá-lo.

    E se, em vez de batermos com a cabeça nas paredes, encarássemos antes a coisa de uma perspectiva igualmente verdadeira, mas incomparavelmente mais útil? E se, em vez de dizermos que gastamos acima das nossas posses, sublinhássemos antes que produzimos abaixo das nossas capacidades? Onde a primeira formulação cria um muro psicológico que fomenta o medo e paralisa a vontade, a segunda oferece uma orientação positiva e mobiliza o esforço colectivo. A forma como se diz as coisas tem consequências. Temos um problema de produtividade que não se deve, nem a trabalharmos pouco, nem a investirmos de menos, antes a tirarmos medíocre partido dos recursos produtivos, em boa parte por os concentrarmos em actividades económicas de reduzido potencial. A boa notícia é que, na presente década, a nossa estrutura produtiva tem vindo a sofrer uma rápida transformação, sem paralelo desde os anos 60.

    Em poucos anos, a natureza do turismo alterou-se e os têxteis foram substituídos, na liderança das exportações, por máquinas e aparelhos eléctricos e serviços às empresas. A balança tecnológica tornou-se positiva (…).

    Os desafios superam-se potenciando a capacidade transformadora das nossas forças, não carpindo as fraquezas. É mais produtivo mobilizar as pessoas para fazerem coisas do que para se queixarem. É mais fácil mobilizá-las com uma visão coerente do futuro do que com ameaças de empobrecimento e resignação.

    Entre nós, o nível do debate económico é frequentemente rebaixado por insistentes prédicas acerca dos vícios e virtudes dos nossos concidadãos, porque esse tipo de abordagem não exige nem estudos nem conhecimentos especializados, apenas requer capacidade retórica.

    A mudança de perspectiva que recomendo não equivale a privilegiar o optimismo sobre o pessimismo, mas a valorizar o pensamento produtivo em detrimento do pensamento ocioso.”

2 comentários :

Anónimo disse...

Mais um intelectual da treta. Mas quem liga ao que este paroquiano diz?

aviador disse...

Dizer mal do vice-presidente nº2000da Goldman& Sachs?
O BB atreve-se?
Aquel homem providencial há quase trinta anos!
Sois uns ingratos!