- «Vem isto ao caso quando vemos Manuela Ferreira Leite proclamar que "não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite". Bom, naquele tempo podia. O que não havia era garantia alguma sobre a extensão do que se podia transmitir. E eu, que conheci esses tempos durante alguns anos menos do que MFL, habituei-me a associar à ditadura a possibilidade de nos calar, mas nunca me ocorreu essa violência maior que teria sido pôr-nos a falar por ela. Claro que nunca a censura deixaria passar um "abaixo Salazar". Mas não há memória de ter querido que publicássemos um "viva Salazar" em nosso nome.
Bem me podem dizer que nem pensou o que disse. Eu sei. Se pensasse, até não era mau para o nosso combate ao tédio: um partido do centro-direita com um pensamento nazi converteria esta democracia num parque de folguedos para o mundo inteiro. O problema não é ela pensar. É, sim, dizê-lo, sem se aperceber da enormidade. Ou deixar para a entrevista seguinte, sempre tarde de mais, a necessária correcção.
É certo que já tínhamos feito o tirocínio, quando MFL enunciou o seu pensamento sobre o propósito essencialmente procriador da família, em termos que, nem um patriarca quaker, nem o mais caceteiro homofóbico, ousariam usar. Também aí, não creio que a sua ideia fosse impedir o casamento a um casal previamente conhecedor da sua infertilidade ou a um parzinho de octogenários que decidissem enfim coroar o seu amor platónico de vida inteira. Mas disse-o.
Isto sugere falta de mundo e de vida. O que ainda piora as coisas quando extravasa para a politicazinha, esse calvário de ser e fazer oposição até depois de o Sol se pôr todos os dias. Porque aí, não se pode dizer que não se apresentam ideias "para os socialistas não as copiarem". A questão nem é que o risco não exista: os governos têm o péssimo hábito de roubar ideias à oposição, se e quando as acham boas. É, de resto, um comércio respeitável, pois MFL também gosta de proclamar que foi ela quem pôs na agenda as PME ou as preocupações sociais - presume-se que a contragosto de uma comunicação social apostada em não deixar passar a mensagem (e com a assinalável excepção da oposição à subida do salário mínimo, que conseguiu pôr em torno do Governo todos os partidos e sindicatos e a Igreja). A questão é que torna absolutamente inverosímil o chavão predilecto da "respeitabilidade" política: pôr sempre os interesses nacionais acima dos interesses partidários. Esse, sim, é um terreno armadilhado. Porque o eleitor interroga-se: se as ideias são boas e instantes para o País, em nome de que bizarro altruísmo é que as guardam para a "altura própria" (ou seja, a campanha eleitoral)? Claro que, também aqui, sabemos que as ideias e as propostas alternativas não existem. O erro é fingir que sim e tentar apresentar como "táctica" a sua retenção.»
1 comentário :
Ma ra Vi lha!!!!
Obrigada Nuno!
Abraço Miguel
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