sexta-feira, janeiro 30, 2009

A palavra aos leitores

• Contributo de leitor que não quer ser identificado:
    "É verdadeiramente interessante o escrutínio daquilo que jornalistas têm feito no chamado caso Freeport. Vejamos, a jornalista Felícia Cabrita escreve duas semanas seguidas sobre o caso nunca adiantando o nome do "ministro de Guterres" que, segundo uma investigação inglesa, estaria envolvido num caso de corrupção. Entretanto, munida de um gravador, a jornalista vai, antes das buscas judiciais se terem realizado, para a porta de um tio do ex-ministro guterrista e confronta-o, por um intercomunicador, com diversos dados que deveriam estar em segredo de justiça (entre os quais, extraordinário este jornalismo de investigação!, os dados sobre as contas off-shore do tio do antigo ministro de Guterres). Grava a conversa pelo intercomunicador, garantindo que não está a gravar a conversa.

    As explicações dadas pelo intercomunicador vão para a gaveta e a ilustre jornalista fica apenas à espera que as buscas se realizem. Depois de se realizarem, e de serem noticiadas em primeira mão pelo jornal Sol, a inestimável jornalista de investigação vai à gaveta e distribui a cassete pela TVI e pela Sic. Os jornais e as televisões passam as declarações dadas pelo intercomunicador como se fossem uma entrevista oficial dada pelo tio de um ex-ministro de Guterres.

    Por outro lado, os jornalistas da SIC cavalgam imparavelmente em direcção à verdade. Ana Lourenço, adoptando um estilo Mário Crespo, pergunta a um ex-secretário de estado se, numa reunião em que estiveram presentes dez pessoas, foram feitas propostas de corrupção em troca de um licenciamento urbanístico. José Manuel Mestre, num estilo Ana Lourenço, diz (ou insinua directamente) no Expresso da Meia-Noite que o ex-ministro de já se sabe quem recebeu luvas dos administradores do Freeport. Mário Crespo, no estilo Mário Crespo, pergunta a um ministro português se em Portugal havia “clima” para um ministro receber luvas.

    De regresso à inefável Cabrita, ficámos também a saber (seguem-se as cenas do próximo capítulo) que um corrupto inglês insinua num CD que o antigo ministro de já se sabe quem recebeu a “massa”. Não havendo qualquer dúvida que a PJ já terá dado o dito CD ao jornalismo de investigação, lá vamos nós ter de levar com uma "delicada" e "comprometedora" peça de investigação nos telejornais de um próximo fim-de-semana.

    E, entretanto, o que é que se passa fora do jornalismo de investigação? A Procuradoria garante duas vezes que o já se sabe quem não está a ser investigado. A Comissão garante que todas as queixas ambientalistas sobre o Freeport foram arquivadas. Descobre-se que o PSD, indignado com os contornos de uma decisão governamental, ratificou, uns meses depois de chegar ao poder, os termos de todas as decisões do dito Governo. Descobre-se ainda, por admissão dos próprios familiares, que o nome de já se sabe de quem foi usado abusivamente e ainda que, até prova em contrário, todas as decisões tomadas no caso foram estritamente legais. Finalmente, descobre-se, via Cândida Almeida, que toda a argumentação utilizada pelos ingleses teve origem numa carta anónima que já não é anónima, uma vez que foi escrita pela trupe santanista e o dito Boal. Enfim, nada que preocupe o jornalismo de investigação ou prejudique as manchetes do dia. O que interessa, como diria o inefável Ricardo Costa num estilo Pacheco Pereira é descobrir o rasto do dinheiro. Ou, no mínimo, ser digno da confiança de um Pacheco Pereira estilo Felícia Cabrita."
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Contributo de Manuel T.:
    "Eis a famigerada “carta rogatória (…). Carta cuja tradução insulta o uso normal da Língua Portuguesa, de tão redondo e oco, em termos de factos, se apresenta esse texto - cuja desmontagem é “brincadeira de crianças” para quem quiser estar a sério diante do problema e exigir perguntas directas e sem sofismas, assim como respostas frontais, transparentes e sem truques ou rodeios.

    Carta que serve aos ingleses para, no parágrafo 2º da 3ª página, explicarem a sua chamada ao processo Freeport, com a forte suspeita de corrupção que à nossa extremosa Polícia Judiciária pareceu haver na aprovação do Freeport em zona de protecção social – suspeita que, deve ser lembrado, foi levantada por um político municipal, passada a papel por sugestão de amigo seu agente da Polícia Judiciária, e atirada para a rua em vésperas de eleições graças a concluio dessa rapaziada com certo jornalismo.

    Polícia Judiciária que, de duas uma: ou não teve o cuidado de espiolhar todo o processo da Freeport, no sentido de encontrar documentos, tramitações e despachos passíveis de sustentar, com o mínimo de segurança, essa suspeita, ou, então, dispensou-se desse esforço e montou-se numa denúncia anónima...

    Carta onde, na página 4, se pode ler que alegadamente foram feitos pagamentos a terceiros relacionados com José Sócrates, alegadamente a pedido deste, pagamentos alegadamente feitos a um primo de José Sócrates e pagamentos alegadamente a empresa de advogados ligados a José Sócrates – alegadamente, alegadamente, alegadamente, como se a polícia inglesa se estivesse borrifando para quem inquiriu e para a verdade dos factos ou evidência de indícios que lhe foram requeridos pelas autoridades judiciárias portuguesas.

    Ou seja, a “carta rogatória” é uma bambochada que não abona nada a nossa Polícia Judiciária – isto face às respostas dos ingleses.

    Quanto ao dinheiro que alegadamente terá vindo da Grã Bretanha para Portugal, ficou hoje mesmo garantido que a ter havido essa movimentação, ela não passou por quaisquer contas bancárias de Sócrates, pelo menos desde 1995 – garantiu hoje no Público o José Mendes que também assina José António Cerejo, o conceituado especialista em investigação de Sócrates e Sócrates, mais Sócrates e sempre Sócrates (garantiu mas só de 1995 em diante – o que, aos cultores da insinuição e da suspeita, deixa margem para duvidar dos anos anteriores)...

    (Apêndices:

    - no “Jornal de Negócios” de hoje, Maria Filomena Mónica, confundindo opinião com descarga biliosa, avançou hoje uma prosa onde, depois de admitir o não envolvimento de Sócrates no processo Freeport, derreteu o homem mais a família a propósito não se sabe de quê – prosa que faz perguntar: que raio de país é este onde até professoras-doutoras mais sociólogas e investigadoras, cosmopolitas entre Lisboa e Londres com passagens por Cambridge e arredores, se consentem avacalhar quem desceu da província até Lisboa?!...

    - considerando que José Sócrates está ser grelhado em lume brando desde há vários dias, por onde anda Manuel Alegre que não se ouve a voz da ética nem da solidariedade, o discurso que exige respeito e transparência, o trajecto que não pactua com iniquidade?...)"

3 comentários :

Anónimo disse...

Duas opiniões excelentes que mais uma vez desmontam essas cabecinhas fascistas travestidos de camisas negras.

Socrates mais uma vez vai sair por cima desta cabala montada, pelas corporações e sindicatos judicais, pela direita e comunicação social em geral, são raras as excepções,dominada pelos ppds que não perdoam a perda de alguns previlegios e mordomias, aqui incluo os "jornaleiros".

Anónimo disse...

A mim parece-me que estes leitores são todos um e o mesmo, ou seja: o João que, tão laborioso quanto incógnito e profissional, "colabora" com este blogue

Anónimo disse...

Resultado disto tudo: deixei de comprar o Sol e o Expresso (já tinha deixado há muito de comprar o Público).