sexta-feira, março 27, 2009

Produções fictícias [4]

Num exercício digno de registo, a TVI mostrou como se pode fazer investigação criminal. Quando não há, inventa-se… Charles Smith terá identificado o primeiro-ministro português como beneficiário de corrupção. Não há imagens, mas não faz mal — faz-se uma reconstituição a preceito nos estúdios da TVI. Existe voz, embora não esteja reconhecida e a gravação não seja válida processualmente. Não faz mal, uma vez que é contra Sócrates — vale tudo.

Charles Smith, que cheira que tresanda a vigarista, é apresentado pela TVI como arauto da verdade. A sua história é ridiculamente inverosímil. Segundo ela, o ministro português à altura, hoje primeiro-ministro, recebeu envelopes mensais de três a quatro mil euros, tipo mesada, durante dois anos, para permitir a construção de um empreendimento nas Margem Sul.

Sem ofensa religiosa, nem os três pastorinhos ressuscitados acreditariam em tal coisa. Mas não faz mal — a TVI acredita em tudo, desde que seja contra Sócrates. Hipóteses óbvias, como Charles Smith e algum apaniguado terem-se aboletado com o dinheiro e dizerem que o deram aos portugas, não passam pela cabeça do CSI da TVI.

Esta estação tem um radar apontado para o primeiro-ministro. Quando esta história cair, hão-de descobrir que fanou um berlinde em miúdo, que deu um calduço a um colega e que espreitou por baixo das saias da professora, sempre em nome do Portugal de verdade da Dr.ª Manuela e do Dr. Pacheco, que nos garantem felicidade e moralidade.

Neste cálculo, a TVI só tem um pequeno problema: as pessoas podem divertir-se com estas tretas, mas isso não é sinónimo de ir na conversa. Afinal, é só entretenimento…

7 comentários :

Ana Paula Fitas disse...

Gostei particularmente deste post, Miguel. Realmente... é surpreendente que efabulações desta precariedade não suscitem, de imediato, a sua desconstrução...

josé neves disse...

Caro CC,
Um diálogo sobre sombras tão explicadindo e direccionado a um nome?
Como diria logo o Loução: aqui há marosca.
(ver opinião completa em "apcgorjeios.blogspot.com")

Anónimo disse...

5000000 libras dividir em média 3500 é igual a 1428 meses, por sua vez igual a 119 anos.

eu acho que socrates e o partido e a mãe e o primo com o tio mais o cão ainda estão a receber o tal suborno.

caramuru disse...

Os pulhas incluindo o casal da boca genital ñão olham a meios, dos mais negros, para atingir aquele que é o melhor 1º. Ministro de sempre.

Socrates vai aguentar-se e derrotar toda a mentira e infamia urdido contra ele.

Quem não deve não teme.

Jeronimo disse...

Também achei muita piada à resposta sobre a dúvida legitima que o representante da Freeport levantou: se já está aprovado, por que se continuou a pagar mesmo depois de Sócrates sair do Governo ? Resposta fantástica: porque Sócrates tem muitas ligações, é perigoso. Faltou acrescentar: nunca viram o Padrinho ? Ainda acabavamos com uma cabeça de cavalo na cama !!
Mais tarde, à meia-noite, uma eminência parda que eu nunca tinha tido o prazer de ouvir antes, teve a pulhice de destacar esta parte para insinuar isso mesmo, que esse "medo" é justificadissimo, atendendo ao perfil mafioso de Sócrates. Donde se conclui que o PM, para além de (comprovadamente, já que o Smith o afirmou) ser corrupto, é também um destacado mafioso !! Ainda bem que temos a TVI para deslindar em poucos minutos o que a generalidade da população. E a coragem daquela gente, senhores, que não hesita em colocar em risco a sua vida enfrentando um facínora da pior espécie.

Anónimo disse...

É interessante comparar a legendagem com o que realmente é dito.
Além de omitir partes significativas na legendagem, a TVI logo no ínicio começa a truncagem. Deliberadamente.
Charles Smith não afirma que Socretes é corrupto. O homem responde à pergunta que lhe é feita, e a pergunta é sobre o que é que foi dito em determinada ocasião por alguém que não percebi o nome. Então ele responde que (o que tinha sido dito nessa ocasião) "o PM, o MA é corrupto...".
O rigor, a isenção, o profissionalismo, o bom jornalismo...

lili disse...

Ai, Jerónimo, V, fez-me rir, obrigada.