“O discurso do fim é emotivo.
Quando saltamos da análise sociológica
para o registo profético,
o discurso vale tanto como o da astróloga Maya”
• João Cardoso Rosas, A profecia do fim:
- ‘Como o país atravessa um momento depressivo, abre-se mais espaço para o discurso apocalíptico e para a profecia do fim. Há uma série de novos profetas, enquanto os mais velhos e respeitados - Vasco Pulido Valente, António Barreto - batem recordes de audiências. O último declarou solenemente ao i, na semana passada, que "Portugal está à beira da irrelevância, talvez do desaparecimento". Mas esqueceu-se de substanciar pelo menos a segunda parte da sua afirmação: o que significa tal "desaparecimento"? Desaparecer do mapa? Deixar de ser um estado independente? Mas de que forma?
Ao contrário do que os nossos profetas do fim gostam de sugerir - obcecados com a pretensa originalidade do seu oráculo -, este registo é recorrente noutras paragens. Quando, nos Estados Unidos, alguém constrói um discurso sobre a decadência inexorável da nação americana, tem garantida a venda de milhares de livros. Se, por exemplo em França, alguém fustiga a República e anuncia a débâcle final, facilmente se torna ícone da moda.
(…)
As nossas elites intelectuais estão obcecadas com o tema da decadência há mais de dois séculos. Mas qual a relação entre esta obsessão e a história recente do país? Se olharmos para os indicadores económicos, de saúde, de educação, etc., do Portugal das últimas três ou quatro décadas, parece óbvio que houve uma evolução muito positiva. Poderia ter sido mais rápida em alguns aspectos, ou mais consolidada. Mas era difícil fazê-lo partindo de onde partimos. Objectivamente, portanto, não parece haver razões para um pessimismo hiperbólico, e ainda menos para o discurso do fim.
Porém, este discurso nada tem de objectivo. Não se inscreve no domínio do racional mas antes na esfera do emotivo. Há aqui uma perversão que convém assinalar. Quem protagoniza este discurso usa a sua respeitabilidade académica para fazer profecias que apelam à emoção e não à razão - mas ao saltar da análise sociológica para o registo profético, o seu discurso passa a valer tanto como o da astróloga Maya.’
3 comentários :
Curioso referir que esta prática tem apenas dois séculos. Se nos lembrar-mos do Velho do Restelo, a vaticinar desgraças aos velejadores dos descobrimentos e ao país, já lá vão mais de cinco séculos!!!!
O que é novo não é o discurso de desgraça apocalíptica, mas sim o tempo de antena que se dá a esta gente sempre que o PS está no Governo.
Lembram-se dos telejornais do tempo do Guterres, a abrir sistematicamente com assaltos a velhinhas e outros crimes, no sentido de criar insegurança nas populações.
Os pretensos escândalos que nunca existiram e mereceram pareceres da PGR sobre a sua regularidade, Fundação Prevenção e Segurança etc.
Faz parte de estratégia do Pântano como, muito bem lembrou o Guterres!
O azar desta gentalha é que, o Socras é um sempre em pé e não desarma.....
Mas conseguem com o apoio de uma imprensa e televisão manhosas difundir as suas profecias e deprimir ainda mais os cidadãos.Nunca mais perdemos esta sina da espera do regresso de D.Sebastião.O optimismo excessivo tambem não é bom conselheiro,mas temos que levantar os braços e seguir em frente na procura da melhor solução para os problemas.O caminho é longo e demorado,temos que proteger os mais atingidos,mas não pudemos desistir.Com lamúrias não se faz nada.
Acho que todas estas "cassandras" tem um faro mais comercial do que visionário. São intelectuais, estão bem na vida e dizem ràpidamente que estão enojados da política e são independentes. Sabem quais os temas da moda e que dão dinheiro. As desgraças deram sempre dinheiro e nunca me recordo de ser muito atrativo falar das coisas positivas. Repare-se no esforço que o Sócrates e algumas vezes o Cavaco fazem para mostrar empresas de sucesso que também as há!De resto também gostaría de perguntar como vamos desaparecer e quando. Eles dizem que sabem tudo mas para além das críticas dizem que são o governo a ter de encontrar as soluções. Não há muito a fazer e parece-me que o melhor é ir denunciando estas manobras pantanosas e fazer o contra- ataque sempre que pudermos. Mal do mundo, dos países e das pessoas se não conseguissem resolver estes problemas e com os instrumentos económicos , financeiros e sociais que existem hoje em dia. assim haja vontade colectiva e contribuições efectivas de quem sabe para colaborar e que esteja disposto a deixar de olhar para o umbigo.
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