- ‘No fim, fica uma certeza: da mesma forma que o país tem na factura energética uma das principais causas do endividamento externo, tem na factura dos professores uma das causas do crescimento da despesa orçamental. A este propósito, muitos têm optado por demonizar o papel dos sindicatos. Parece-me que é errado fazê-lo. Os sindicatos fizeram o seu trabalho. O que não se esperava era que os partidos, bem como o Presidente da República, sempre tão preocupados com os desequilíbrios orçamentais, tivessem dado cobertura política às reivindicações dos professores. No fundo, tudo isto serve para tornar claro como o discurso sobre a contenção da despesa não resiste ao teste da realidade.’
- ‘É aqui que entram as dificuldades por banda do PSD, que desde que perdeu as eleições parlamentares passou o tempo a enviar sinais de que só está interessado em fazer a vida negra ao Governo, através de uma situação de asfixia financeira, mesmo à custa do agravamento dos problemas financeiros e económicos do país. A suspensão do Código Contributivo da segurança social e a eliminação do "pagamento especial por conta" do IRC, em ambos os casos em convergência com a "esquerda de protesto", revelam uma pulsão politicamente irresponsável. Se a isso somarmos a continuada cruzada contra os projetos de infraestruturas de transporte - mesmo quando eles não têm impacto orçamental, por serem assumidos por empresas privadas -, bem como a provável reivindicação de mais transferências orçamentais para a Madeira, como é habitual, não custa imaginar que não vai ser fácil compatibilizar estas posições com as prioridades do Governo, aliás eleitoralmente sufragadas, ao contrário daquelas. A não ser que o PSD tenha reconsiderado a sua atitude, ou que o PS esteja disponível para tudo, o sucesso das negociações não está antecipadamente seguro.
Mesmo que essa dificuldade seja ultrapassada, outra não menos grave se suscita quanto à previsibilidade e fiabilidade dos compromissos políticos do PSD. Neste momento, com uma liderança terminal e descredibilizada, em vésperas de nova liderança, não há ninguém que o vincule com autoridade. Acresce que o PSD é useiro e vezeiro na desautorização dos compromissos anteriores pelos novos líderes. Ainda na legislatura passada, recusou-se a honrar dois pactos políticos que tinham sido celebrados sob a liderança de Marques Mendes com o PS (acordos sobre a justiça e sobre o sistema de governo das autarquias locais). Quem pode garantir que um eventual acordo sobre matéria orçamental será respeitado pela próxima futura direção social-democrata?’
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