quarta-feira, abril 07, 2010

Leituras

• João Pinto e Castro, Fantasia, empreendedorismo e desenvolvimento:
    Os ganhos que Henrique de início obteve não eram muito significativos no conjunto dos vastos negócios de um homem que, além de ser Grão-Mestre da poderosa Ordem de Cristo e Duque de Viseu, detinha, entre outros, os monopólios da pesca do atum no Algarve, do fabrico e comércio do sabão e da navegação para as Canárias. O mero ganho económico não explica o entusiasmo pelas navegações atlânticas, sobretudo tento presente quão elevado era o risco e incertos os lucros.

    Recordar esta estória pode porventura inspirar-nos alguns pensamentos úteis para os dias de hoje. A administração quotidiana de uma empresa, centrada na resolução de problemas triviais, é já de si uma tarefa altamente exigente, pouco tempo sobrando para conceber e pôr em prática novos projectos. Os recursos dedicados à inovação são retirados aos lucros actuais da empresa na mira de ganhos futuros cuja probabilidade não pode ser estimada. Não há nisto, reconheça-se, nada de financeiramente racional.

    O gestor comum cuida de resolver problemas ou de eliminar factores negativos. O empreendedor entusiasma-se com a possibilidade de fazer o que nunca ninguém fez: a sua motivação não é remendar, mas transformar. Este impulso pode ter as mais variadas origens - afirmação social, espírito competitivo, realização pessoal, alguma loucura - do que não sobra dúvida é que ele é extra-económico.

    Uma economia equilibrada, estável e bem administrada reproduz-se eternamente tal qual, não se desenvolve. O desenvolvimento vem de fora da economia, espicaçado pelo aguilhão da fantasia, do espírito de aventura e do optimismo imoderado. Um país macambúzio, cujos fazedores de opinião mesquinhamente se entretêm a apoucar toda e qualquer iniciativa que não provenha dos mais poderosos interesses instalados, não tem condições para progredir significativamente.

    Perceber isto é identificar o inimigo.

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