- ‘Então estamos assim: as escutas existem, Pacheco Pereira (PP) ouviu-as. Tal como já outros disseram: "Deus existe, eu vi-o!" Mas estes dizem-no para afirmar a sua fé, não na presunção disso ser uma prova da existência de Deus. Eles viram-no e acreditam por isso. Não presumem que por eles o terem visto, a Deus, eu seja obrigado a acreditar na existência dele. Já PP vai mais longe, quer-me envolver na epifania dele. Ele viu o morto, a bala, a pólvora e a pistola e, por causa disso, eu também sou obrigado a gritar para prender o mordomo. Pois eu digo que não. Não vejo, não acredito. Repito-me, de crónicas passadas: se Sócrates gamou, prendam-no. Quem de direito, que o prenda. Mas em sendo incapazes, esses magistrados que já deviam ter prendido Sócrates se ele foi criminoso não contem comigo para cúmplice da impotência deles. Não, não debico o milho que me atiram, milho a milho sem eu ver o filme todo. Nem o milho dos magistrados, nem agora PP que diz "eu ouvi", mas não pode dizer exactamente o quê porque não o deixam. E quem não deixa? Mota Amaral: "A Constituição não permite o uso de escutas a não ser em processo penal." Ah, sim? E a Constituição só foi inventada depois de PP ter ido espreitar? Eu vou dizer exactamente o que vejo: magistrados e políticos como baratas tontas. E, o que me chateia mais, a tomarem-me por tonto.’
sexta-feira, maio 21, 2010
Leituras [2]
• Ferreira Fernandes, Escutar com as orelhas d'outro?!:
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3 comentários :
Cito: «E a Constituição só foi inventada depois de PP ter ido espreitar?»
Nem mais. É bom que Mota Amaral compreenda o beco sem saída em que se meteu. Pessoalmente acredito na sua boa fé, mas será que ele percebeu a situação ideal com que presenteou o examinador-mor do reino?
Quem acreditar na boa fé do dito examinador, pode igualmente acreditar nas proverbiais «Armas de Destruicao Maciça» de antanho (continuamos, diga-se de passagem, à espera de desculpas), mas essas ao menos sempre se esperava que fossem produzidas pelos que garantiam a sua existência. Estas agora, pelos vistos, podem ficar à espera, sem qualquer urgência...
Ocorre perguntar por que razão acha o examinador-mor que a revelação dos tenebrosos segredos por si descobertos pode e deve esperar por mais algum tempo. É muito fácil dizer que a seu tempo tudo será minuciosamente exibido e provado. É mais difícil explicar porque é que se deve esperar. Seria muito compreensível se a sua posição fosse a de Mota Amaral, ou seja, a da inconstitucionalidade da revelação extra-judicial das escutas. Mas não. Nada disso. O examinador já examinou, e precisamente por rejeitar essa posição.
De modo que só falta a revelação. Mas em vez disso, o que temos são mais «uis» e «ais» prenunciadores de revelações cataclísmicas que terão de esperar por melhores dias. Ou seja: graças á situação criada, o examinador-mor pode continuar a espalhar insinuações, sem ter de produzir transcrições exactas do que quer que seja, e sem sequer correr o risco de se ver eventualmente processado pelos alvos das escutas, adiando sine die a confissão de que a suposta montanha mais não fez e continua a fazer do que parir ratos sobre ratos...
Apenas um comentário mais: seria intessantíssimo saber se o examinador-mor teve ou não o cuidado de tomar notas precisas para futuramente poder alicercar as suas acusações presentes com base em transcrições precisas.
Esperemos não ter de vir a ouvir -- quando o tal dia da revelação chegar -- um «não pude, não me deixaram, só me foi concedida uma rápida olhadela e não pude tomar notas exactas...».
Isso então, a aceitação de uma tal anedota, é que seria ainda mais revelador do grau zero da honestidade intelectual.
Um Grande Senhor da escrita. Para quê mais palavras?
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