domingo, setembro 12, 2010

A palavra aos economistas: que alternativas se abrem à economia alemã?



• Paulo Pinto Mascarenhas, Os alemães que paguem a crise:
    Portugal é um país endividado a caminho de se transformar numa região subsidiada. Falta saber se os alemães estão dispostos a pagar a nossa crise.



• Martin Wolf, O equívoco alemão: a zona euro é benéfica para eles:
    Qual o país que mais beneficiou com a criação da zona euro? Eu diria que foi a Alemanha.

    Esta opinião tem fraca aceitação na própria Alemanha. Todavia, este cepticismo precisa de ser contrariado. Não somente a Alemanha é beneficiária, como também precisa de reconhecer este facto de forma mais clara. Só então os alemães poderão apoiar as reformas que a zona euro necessita.

    (…)

    Perante estas convulsões, por que razão deveriam os alemães aceitar que têm um interesse especial no sucesso da zona euro? A resposta imediata é que a economia está largamente dependente da procura por exportações (ver quadro). De 2000 a 2008, a procura externa gerou cerca de dois terços do crescimento da procura total pela produção da Alemanha. Este país precisa tanto de mercados cativos como de uma taxa de câmbio competitiva. A zona euro proporcionou ambos os cenários de uma forma desproporcionada: a crise na periferia provocou a queda do valor do euro; e muitos dos parceiros da Alemanha na zona euro (que absorvem dois quintos das suas exportações - nove vezes mais do que a China) não são competitivos após uma década de aumento dos custos relativos.

    Agora imaginem o que teria acontecido na ausência do euro. A taxa de câmbio do marco alemão teria subido exponencialmente, à medida que as crises monetárias arrasavam a economia europeia, como aconteceu nos anos 90. Na Europa periférica, as depreciações monetárias teriam sido, no mínimo, tão ou mais elevadas do que as da libra esterlina. A ausência destas convulsões aumentou as perspectivas de recuperação alemã. A criação da zona euro foi, por si só, muito mais do que um favor que a Alemanha fez aos seus parceiros. Revelou-se igualmente um grande ganho económico (sem falar no político) para a Alemanha. Os industriais alemães estão cientes disto, tal como o próprio governo.

    (…)

    Concluo que a Alemanha foi (e é) um grande beneficiário da existência da zona euro. É do interesse da Alemanha apoiar a sobrevivência da zona euro e o ajustamento bem-sucedido dos países periféricos. Vejamos dois aspectos: a procura e a reforma institucional.

    (…)

    A Alemanha tem um enorme interesse político e económico no funcionamento da zona euro, por muito impopular que seja esta visão. O euro tem sido uma moeda estável: aliás, a taxa de inflação tem sido inferior ao que era no tempo do Bundesbank. O euro protegeu igualmente a economia germânica de maiores convulsões. O desafio consiste em mudar o funcionamento da zona euro e reformar as suas instituições a fim de fazer funcionar a economia para todos. As mudanças são dolorosas, mas a Alemanha não tem outras alternativas.

4 comentários :

Anónimo disse...

É a diferença entre um contabilista graduado em economista e um economista que leva em conta todas as variantes da evolução económica.
Ou a vontade de dizer coisas sem as aprofundar! Situação muito comum em Portugal, não só entre os "Taxistas".

António Cordeiro disse...

Estrategicamente omitiram a opinião contrário citada no mesmo artigo e que poderá ser consultada em http://www.cesifo-group.de/pls/guestci/download/CESifo%20Forum%202010/Special%20Issue%20August%202010/Forum-Sonderheft-Aug-2010.pdf
Interessante também é o resumo do que sucedeu com as economias do sul da Europa com acesso a empréstimos com taxas de juro reduzidas “...os ganhos para a periferia foram passageiros ou mesmo ilusórios. Os fluxos de capital foram predominantemente canalizados para a construção e outras actividades não transaccionáveis. Além disso, alimentou um aumento insustentável do consumo. Os défices das transacções correntes tornaram-se avultados. É certo novamente que os investidores e contribuintes alemães irão perder algum do dinheiro que investiram em economias muito menos seguras do que pensavam...” – acho que já ouvi isto (há uns anos) pelo Medina Carreira...

Miguel Abrantes disse...

António Cordeiro:

Os seus "comentários" espremidos não passam nunca de insinuações baratas. O que é que omiti se chamo a atenção para o excelente artigo de Martin Wolf?

Rosa disse...

Medina Carreira?
Já me sinto a resvalar por um plano inclinado...
E por falar em "contabilista graduado em economista"...