[Continuamos no almoço entre Marques Mendes e o pequeno grande arquitecto Saraiva, de acordo com o que o próprio relata nas suas Confissões, pp. 403-4.]
- “[Marques Mendes] adiantou outra coisa de que eu ouvira vagamente falar mas que nunca confirmara: perante a contestação de que era alvo dentro e fora do Governo, Manuela Ferreira Leite percebera que já não podia integrar o Executivo seguinte — estando interessada em ir para Bruxelas, para um lugar de comissária (talvez da Concorrência).
Durão Barroso era favorável a esta hipótese, até porque queria meter Santana Lopes no Governo, como vice-primeiro-ministro, e isso implicava a saída de Ferreira Leite (que era número dois do Executivo).
Esta entrada de Santana para o Governo fazia parte de uma estratégia de Durão Barroso para o afastar da candidatura presidencial — onde, ainda segundo Mendes, Barroso queria Marcelo Rebelo de Sousa.
Como se vê, foi um almoço suculento!
(…) Já ouvira um zunzum ou outro sobre a saída de Ferreira Leite do Governo, já escutara rumores sobre a candidatura presidencial de Marcelo, já me tinham falado da possível ida de Santana Lopes para o Governo — mas o puzzle assim montado, completo, com as pedras nos sítios, era para mim uma completa novidade. E a fonte, repito, não poderia ser melhor, já que Mendes viera a ganhar progressivamente peso junto de Durão e estava certamente por dentro do que se preparava.
(…) Devo acrescentar que, embora dizendo sempre o contrário, Durão Barroso preferia claramente que o candidato a apoiar pelo PSD fosse Marcelo e não Cavaco. Até porque isso corresponderia à ideia, cara a Durão, de um ‘virar de página’ (como uma vez me disse), enquanto que a candidatura de Cavaco corresponderia a um regresso ao passado.
Esta também era a opinião de Marques Mendes (…).”
Sem comentários :
Enviar um comentário