- 'A economia portuguesa tem o infortúnio de estar há muito tempo dentro de uma Nação cercada por fronteiras. Às vezes esquecemo-nos, mas é isso que faz um país. Por várias razões que não nos interessam aqui pois levar-nos-iam a períodos muito recuados na História, essa economia é há muito tempo mais pobre do que as suas vizinhas, incluindo a espanhola.
Ser uma economia separada atrasada significa que há diferenças muito grandes entre os dois lados da fronteira que separa a economia nacional do resto do mundo. Entre essas diferenças contam-se os níveis de investimento em capital físico e em capital humano, podendo-se incluir neste último não só educação como a saúde.
Quando se abrem as fronteiras de uma economia assim, o que acontece? Acontecem várias coisas, algumas más outras boas. E pode acontecer que a importância das coisas más seja superior à das coisas boas.
Entre as coisas boas, conta-se, acima de tudo, a possibilidade de melhorar a especialização produtiva e, através disso, a competitividade e a capacidade de exportação. Mas as coisas más podem ser piores - pelo menos nas fases iniciais de transição. É que essas economias mais pobres, quando abrem as fronteiras a vizinhos mais ricos, passam a querer importar mais produtos para satisfazer desníveis de bem-estar e, mais importante, a querer importar bens de capital.
Afinal, como dizem os manuais, os capitais passam de onde são abundantes e por isso recebem menos rendimento, isto é, dos países ricos, para onde são mais escassos e por isso melhor remunerados, isto é, os países mais pobres. Como Portugal.
Foi isso que aconteceu no caminho para a crise financeira de 1891. E foi isso que aconteceu também no caminho para a mais recente crise financeira.
Claro que o rastilho pode ser externo ou interno e, em ambos os casos - o que porventura não será uma coincidência -, esse rastilho foi externo. Em 1891, os maus negócios internacionais, cá, em França, na América Latina; em 2009, a crise financeira internacional.'
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