segunda-feira, março 07, 2011

"O BE tem vindo a desbaratar uma boa parte do seu potencial contributo para a renovação do sistema político português"

• André Freire, A moção, o passado e o futuro [hoje no Público]:
    O problema com esta moção de censura do BE, sobretudo porque ela representa o culminar de vários passos no mesmo sentido empreendidos pelo partido, é que ela representa um enorme passo atrás na afirmação da nova esquerda radical em Portugal, e, por acréscimo, um desbaratar do contributo que ela poderia trazer para a renovação do sistema político, designadamente em matéria de governabilidade. Em primeiro lugar, cedo o BE percebeu que se se levasse a sério a sua própria moção o resultado poderia ser pior do que aquilo que pretendia censurar: se o Governo socialista caísse e, na sequência de novas eleições, se formasse um novo governo (agora de direita), a neoliberalização das políticas públicas seria muito mais cavada do que com o PS. Por isso, tratou de criar condições para que a moção de censura não tivesse consequências políticas: passou a ser "uma censura às políticas de direita (do PS e do PSD)". Tudo isto, além de ser muito difícil de entender para qualquer cidadão, designadamente porque assenta num raciocínio tortuoso, representa uma desvalorização brutal de um instrumento essencial da democracia parlamentar. A moção de censura é e sempre foi uma censura ao Governo (dizer o contrário é querer reescrever a história) e representou um passo essencial da parlamentarização/democratização dos sistemas políticos modernos, ao tornar os governos responsáveis perante o Parlamento e não perante os monarcas.

    Em segundo lugar, esta moção, tal como a recusa de quaisquer entendimentos pré ou pós-eleitorais com o PS, representam uma enorme desvalorização da democracia política, designadamente do princípio "um homem, um voto". A recusa de tais entendimentos já teve vários episódios e vários líderes do lado do PS, e, portanto, não radica nas dificuldades de entendimento com José Sócrates. Tal recusa ocorreu já duas vezes na Câmara de Lisboa: primeiro, aquando da retirada do apoio a José Sá Fernandes (eleito como independente nas listas do BE), ainda durante o primeiro consulado de António Costa, e depois quando Costa convidou o BE (e os "Cidadãos por Lisboa") para uma "frente de esquerda" nas autárquicas de 2009. Note-se que esta recusa foi severamente punida na urnas: o BE ficou sem nenhum vereador e teve uns humilhantes três por cento nas eleições para o executivo municipal. E depois tivemos o episódio das legislativas de 2009: confrontados perante a escolha popular do PS como o vencedor das eleições, logo de partido que deveria liderar a formação do Governo, nunca o BE se mostrou disponível para qualquer entendimento (ao contrário do PS) e nem sequer se deu ao trabalho de apresentar um caderno de encargos para admitir conversar sobre um eventual entendimento. Não tem por isso qualquer autoridade para criticar o apoio do PSD ao Governo: como poderia ser de outro modo? Mais: como as sondagens recentes sugerem, estes comportamentos serão muito provavelmente punidos nas urnas. Aliás, como já escrevi e demonstrei, esta recusa absoluta de entendimentos representa um cavar de distâncias entre a elite política do BE e a maioria do seu eleitorado, logo tenderá a ser punida nas urnas.

4 comentários :

Anónimo disse...

André Freire parece querer trazer o Bloco para o caminho da realidade, para o que seria necessário, em primeiro lugar, que o Bloco aceitasse uma série de princípios que, sendo radical, não pode aceitar por lhe causarem urticária: a economia de mercado, a iniciativa privada e o lucro, o sistema capitalista, a União Europeia, a democracia representativa, a existência de bancos privados. Enquanto esses rapazes não abandonarem de vez o trotzquismo e o espírito revolucionário à moda do século passado, pouco haverá a concertar com eles. Talvez quando afastarem o Louçã e quiserem crescer e fazer alguma coisa de útil, para além do protesto.

Rabino disse...

Branco é! galinha o põe...mais claro do que isto,não há...

Nuno disse...

Isto de governar ou de se coligar implica cedências parte a parte, como se de um casal se tratasse. O BE é incapaz de ceder nas suas posições. Isso torna-os inconsequentes e irresponsáveis!

jeronimo disse...

BE é um autentico corvo da politica.Não tem substancia e a breve prazo estara insolvente.Juntem-se aos apravalhados "homens da luta" para segurar rendimento sem trabalhar.