terça-feira, março 22, 2011

Pronunciando-se, pela primeira vez, sobre a actuação de um dos seus sucessores na Presidência da República



• Mário Soares, Um apelo angustiado:
    No meu modesto entender, só uma pessoa, neste momento, tem possibilidade de intervir, ser ouvido e impedir a catástrofe anunciada: o Senhor Presidente da República. Tem ainda um ou dois dias para intervir. Conhece bem a realidade nacional e europeia e, ainda por cima, é economista. Por isso, não pode - nem deve - sacudir a água do capote e deixar correr. Como se não pudesse intervir no Parlamento - enviando uma mensagem ou chamando os partidos a Belém - quando estão em jogo, talvez como nunca, "os superiores interesses nacionais". Tanto mais que, durante a campanha eleitoral para a Presidência, prometeu exercer uma magistratura de influência activa. Não pode assim permitir, sem que se oiça a sua voz, que os partidos reclamem insensatamente eleições, que paralisarão, nos próximos dois meses cruciais, a vida nacional, em perigo iminente de bancarrota.

    Se não intervier agora, quando será o momento para se pronunciar? É uma responsabilidade que necessariamente ficará a pesar-lhe. Por isso - e com o devido respeito - lhe dirijo este apelo angustiado, quebrando um silêncio que sempre tenho mantido em relação ao exercício das funções dos meus sucessores, no alto cargo de Presidente da República.

    E, já agora, seja-me permitida uma última nota. Também não me agradou nada o exemplo que o Senhor Presidente deu aos nossos jovens, apontando-lhes os também então jovens, que se bateram - a maior parte deles forçados - nas guerras coloniais do salazarismo. Inúteis, como se viu, obsoletas e altamente prejudiciais para Portugal. Foi uma forma de esquecer o sentido essencial do 25 de Abril que, aliás, tantas vezes, elogiou - e bem - nos últimos anos. Podendo, com este exemplo infeliz, lesar as excelentes relações que temos vindo a construir, no quadro da CPLP. Sobretudo, quando essas relações nos são tão necessárias, no momento de crise que atravessamos.

4 comentários :

Rosa disse...

Mário Soares sempre igual a ele próprio...
Que pena não ser ocasião para ainda se encontrar no "activo"...
É um exercício de lucidez - da lucidez que tem faltado a muitos dos responsáveis por este POaís...
Era bom que fosse escutado por quem de direito.

Anónimo disse...

Ele agora esta a mastigar o bolo rei

Anónimo disse...

Se não fosse o Alegre,seria,ainda,Presidente e não o Cavaco,que tanto mal tem feito ao País.Precisamos de gente patriótica e não de pessoas amorfas.

Anónimo disse...

Depois daquele discurso inflamado aquando da posse esperava-se que Cavaco tivesse um rasgo de bom senso e interviesse a fim de evitar uma crise política. Mas não, limitou-se a dizer: “não antecipo cenários. Não faço especulações em público. Devemos esperar pelo debate que vai ter lugar na Assembleia da República”, para mais tarde vir com o argumento de que “ficou sem margem de manobra para actuar preventivamente”. Por favor....