As desonestidades intelectuais do Zé Manel (a que já estamos habituados)

Para grande desilusão dos leitores, o artigo do Zé Manel Fernandes no "Público" de ontem (link apenas para assinantes) não recorreu à estética nazi para adjectivar o Congresso do PS a que assistiu no passado fim-de-semana em Matosinhos, mas para tentar ter uma discussão civilizada sobre o Estado social, dando como exemplo as reformas feitas na Suécia depois da crise de 1993. Dá o exemplo da concorrência introduzida no sector dos serviços públicos e de como em "15 anos, o peso do Estado na economia desceu de 56 para 45 por cento do produto, uma quebra de 11 pontos".

Era giro ter uma conversa com o Zé Manel sobre esta questão, mas antes de perguntar como é que a concorrência na educação não evitou que a Suécia desse um trambolhão nos resultados dos seus alunos PISA - como demos conta aqui em Dezembro passado -, era necessário que ele soubesse usar as estatísticas.

Com efeito, como pode facilmente conferir neste documento do Eurostat (página 30), a Suécia não gasta 45% do produto: em 2009 gastou 54,9%. Aliás, nunca ao longo desses 15 anos a que se refere a despesa pública baixou dos 50%, como a OCDE documenta aqui (página 299).

Depois, falar das reformas na área social na Suécia, usando-as como exemplo do que Portugal podia fazer, ao mesmo tempo que ignora que a Suécia é o país economicamente mais igualitário do mundo, é uma daquelas desonestidades intelectuais a que já estamos habituados.

Pedro T.