quinta-feira, junho 02, 2011

A manipulação continua
— o regresso do Freeport

Dois coelhos, de uma só cajadada, acabam de se atirar ao Freeport. Já cá fazia falta uma insinuação contra José Sócrates à altura das que foram feitas em eleições anteriores, desde 2005.

Primeiro, foi o número folclórico de um alucinado que levou um pato para a frente do outlet. Depois, desconfiado de que o efeito não seria suficiente, o partido do outro coelho resolveu pegar no tema e plantá-lo convenientemente nos jornais: Castro Caldas, ex-ministro de António Guterres, teria defendido no Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), diz esta gente, que José Sócrates e Pedro Silva Pereira deveriam ter sido constituídos arguidos. Quem diz arguidos, diz acusados; quem diz acusados, diz condenados; quem diz condenados, diz criminosos.

À falta de melhores argumentos, aqueles que abriram as portas à intervenção externa, provocaram a crise política e se candidatam a coveiros do Estado Social descobriram o último argumento, que, em desespero de causa, os companheiros Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite já utilizaram sem êxito: a calúnia do Freeport.

Sabendo-se que a justiça concluiu que José Sócrates e Pedro Silva Pereira não cometeram nenhum ilícito e nem sequer foram arguidos ou acusados pela sua prática, resta perguntar se é mesmo verdade que Castro Caldas tinha uma posição diferente sobre este assunto.

Castro Caldas não é magistrado nem teve intervenção nenhuma no processo. Os magistrados que intervieram no processo Freeport consideraram que havia suspeitos, constituíram-nos arguidos e acusaram-nos. Castro Caldas limitou-se a apreciar a responsabilidade disciplinar dos dois procuradores que intervieram no processo Freeport e que, com grande surpresa para todos, depois de concluírem o inquérito vieram afirmar que gostariam de ter feito umas perguntas a Sócrates, mas que não as fizeram por falta de tempo.

Esta justificação dos procuradores é aberrante, sabendo-se que o processo demorou cinco ou seis anos sem sequer ter sido constituído um único arguido. Falta de tempo é que não houve. Houve até tempo a mais e ninguém se pode queixar dos expedientes dos advogados, que não intervieram durante esses cinco ou seis anos em que os autos estiveram a aboborar e só emergiram, através de notícias plantadas, nas campanhas eleitorias.

O procurador-geral da República não compreendeu nem aceitou que os procuradores do Freeport não tivessem conseguido fazer as perguntas e instaurou-lhes um processo disciplinar, extensivo à superiora hierárquica. O processo acabou por ser arquivado pelo órgão disciplinar, o CSMP.

Que disse Castro Caldas no CSMP? A fazer fé no que referem os jornais, Castro Caldas disse: “se os procuradores tinham perguntas a fazer que consubstanciavam suspeitas, deveriam tê-las feito e constituir arguidos aqueles sobre quem as suspeitas recaíam.” Os procuradores não podem, ao mesmo tempo, querer e não querer fazer perguntas, considerar as pessoas suspeitas e não suspeitas, jogar a seu bel-prazer com o instituto de arguido e fazer considerações fora do inquérito quando estão em causa actos processuais do inquérito.

Castro Caldas dirigiu, portanto, um juízo de censura aos procuradores, que entendia deverem sofrer uma sanção disciplinar. Foi esse o sentido do seu voto.

Os manipuladores do costume, capazes de transformar água em azeite, verdade em mentira, factos inócuos em crimes e assim sucessivamente, vieram mistificar o sentido de voto do Castro Caldas. Dizem que Castro Caldas defendeu que Sócrates e Silva Pereira deveriam ter sido constituídos arguidos, quando nada disso estava em causa e era da responsabilidade dos magistrados do Ministério Público que se tratava.

Esperemos que, no próximo domingo, estes mistificadores tenham a sorte que tiveram noutras eleições, desde há seis anos a esta parte.

7 comentários :

Anónimo disse...

É simplesmente asqueroso.Se o povo lhes der a maioria,é como eles.Cá estamos para ver.Ainda não atingimos a maioridade.Quantas décadas vão ser precisas para termos uma comunicação social livre e responsável,não manipuladora? Assim não vamos lá.

Teófilo M. disse...

Neste pobre país em que todos pretendem ser juízes e ditar sentenças, na sua maioria esquecem-se que o não ser arguido num determinado processo pode ser mais grave do que sê-lo!
Ser arguido permite ao cidadão, em sede própria defender a sua honra e provar a sua inocência definitivamente, não o ser, pelo contrário, permite que sejam feitos juízos de valor que a maior parte das vezes não tem ponta por onde se lhe pegue mas que afetam por muitos e bons anos a honorabilidade de pessoas que, sendo inocentes, poderão ficar sempre sobre o ónus de uma suspeição.
Esse o grande erro dos processos mediáticos em que muito boa gente passa a ser acusada de tudo e mais alguma coisa só porque alguém entende lançar sobre os mesmos o labéu da desconfiança mesmo que para isso se socorra apenas de convicções muito próprias ou de sofismas amplamente divulgados.

Passostrocados disse...

Isto só visto.
Será que a Europa acompanha esta forma de linchamento politico, à base da mentira, da manipulação TOTALITARIA dos media e da calúnia?
N me revejo nesta forma de democracia.
Aliás para mim vivemos ja num regime de partido único.
O PS tem sido muito frouxo na denuncia desta e outras situações!
E estes erros, pagam-se caro!

Anónimo disse...

olha...olha... o que vem aí se os direitolos ganharem as eleições. vamos ter mais freeport e coisa pia até incrimarem tudo o que lhes possa fazer sombra. já estam previstos aumentos para os ganhos de produtividade da justiça nestes processos e consequente abafanço de outros. a partir de 5 de junho até o ip vai para uma offshore.

Anónimo disse...

Leiam e comparem:

http://verdadeirolapisazul.blogspot.com/

FARENSE2 disse...

Comprem uma lira e ofereçam-na ao presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva. Cingida que esteja a cabeça deste grande estadista, com uma coroa de louros flamejante de clorofila, ofereçam-lhe, com gestos tão épicos como os gestos daqueles que levaram a Herodes, numa bandeja, a cabeça de São João Batista, os olhos ou o olhar dessa grande pítonisa que foi, é e será, Manuela Ferreira Leite,e então, na presença dessa Maria Madalena do cavaquismo, orientem o inibriante vulto estético de Aníbal para o grandioso espetáculo de Portugal em chamas. Com as feras, os homens e os deuses grávidos de silêncio, Aníbal, passada que foi a banalidade de responsabilizar Sócrates, tal como Nero responsabilizou os cristãos pelos fogos que martirizaram Roma, recolhe-se na divindade da sua intimidade, move os dedos sobre as cordas da lira, orienta os olhinhos para o céu e, pasme-se, arranca com a música maior da sua vida interior: A TIA ANICA DE LOULÉ.

Jorge Silva Paulo disse...

Então eu era livre de "aparecer" e afinal não publicam os meus comentários contra Sousa?
Iguais a Sousa: falam muito de liberdade e de democracia, mas não as praticam.