- ‘(…) este é um bom pretexto para reflectir sobre a dívida portuguesa, onde a palavra "reestruturação" é hoje tabu. Num esforço de simplificação, vou assumir o seguinte para o final de 2012: a dívida pública é igual ao PIB; o saldo primário é nulo; e a taxa de juro implícita é 5% ao ano. Como sair daqui?
Seja então Dívida=PIB=100 e projectemos 2013. Como a taxa de juro implícita é igual a 5%, a dívida sobe para 105. E, para que o peso relativo se mantenha, é preciso que o PIB nominal também suba 5%. Mas o BCE insiste em limitar a inflação a 2%, o que significa que o PIB real teria de crescer 3%, um cenário irrealista. Então, para que a dívida relativa não aumente, terá de haver excedentes orçamentais. E nunca mais saímos da recessão.
Ao problema da dívida, que terá de ser reduzida não se sabe como, junta-se o problema do financiamento. Em 2013 vamos ter de financiar duas parcelas: a dívida vincenda nesse ano e que terá de ser substituída e o défice de 2012 que acresce à dívida global. Agora imaginem-nos no mercado a negociar este pacote: não é óbvio que não nos financiam, porque somos "lixo", ou que apenas o farão a taxas proibitivas? E lá teremos de pedir ajuda...
Quem diz ajuda diz ‘troika', e já estou a ver o sorrisinho deles a apontar-nos a solução: do que nós precisamos é de mais austeridade e, no limite, de trazer a dívida face ao PIB para os 60%, como mandavam as regras que nós furámos ao entrar no euro. Admitamos que nos dão 20 anos para fazer isso: serão dois pontos do PIB em cada ano, algo como €3,4 mil milhões a preços de hoje, uma loucura. Cortamos onde? Vivemos como? A fazer o quê?’
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