- ‘Em 2010, a UE absorveu quase 80% do excedente comercial alemão (56% para a Zona Euro). Apenas uma parte de 20% desse excedente alemão resultou de exportações para o resto do mundo. A França foi, de longe, o maior contribuinte do excedente alemão (29 mil milhões de euros de saldo favorável para a Alemanha nas trocas entre os dois países). Ao longo dos últimos anos, e sobretudo desde o surgimento do euro, este fosso foi sendo cavado e alimentado pelo recurso ao endividamento (público e privado) pela maioria dos países da UE, numa pirâmide de dívida que tem, no seu topo - sem surpresa -, os maiores bancos alemães. Ou seja, os mesmos que os actuais planos de resgate visam agora proteger, depois de anos a emprestar à tripa forra. A imprudência não veio apenas de quem pediu emprestado (a taxas de juro que eram inferiores à inflação, é bom lembrar), mas também de quem emprestou.
A Alemanha teve o mérito de saber prosperar à custa dos outros europeus, mas está na hora de o resto da Europa acordar, incluindo Portugal. Sem o conjunto das cigarras europeias (do qual fazem parte a francesa e a italiana, que estão agora aflitas), não haveria nenhuma formiga rica alemã.
(…)
Os ditames externos de austeridade não podem servir de pretexto para um ajuste de contas ideológico em Portugal, com o qual a direita sempre sonhou.
É tempo de compreender que este não é um ciclo político normal. O Governo está a aproveitar a crise para fazer uma revolução ideológica, conservadora e ultraliberal. Essa é a estratégia consagrada no OE. Ultrapassa a agenda da troika e põe em causa o consenso sobre o nosso modelo de organização democrática e social. Passos Coelho o disse, no Paraguai: "Temos de mudar o regime económico." Só que essa mudança significa uma mudança de democracia. O que já nada tem a ver com a consolidação das contas públicas nem com o interesse nacional. É um PREC de direita. Contra o qual têm de estar todos aqueles, em primeiro lugar os socialistas, que ajudaram a construir a nossa democracia.’
4 comentários :
«A Alemanha teve o mérito de saber prosperar à custa dos outros europeus»?
Começa a ser irritante: se «mérito» existe, é para ser penalizado pelos mal-agradecidos...
E eu a julgar que a Alemanha tinha -- mais uma vez -- prosperado à custa do seu esforço, depois de receber, por duas vezes, os tratamentos mais escandalosamente injustos jamais proporcionados a um país derrotado: a imposição de Versalhes e o bloqueio marítimo de alimentos e matérias primas pós-armistício da Grande Guerra, primeiro; e depois, a paz cartaginesa de 1945, que se estendeu, na sua forma mais sinistra, até aos anos cinquenta, e só a Guerra Fria pode ter feito esquecer.
Mas que amontoado de baboseiras! Só falta o argumento do Plano Marshall que, aliás, no que toca à Alemanha, é de uma hipocrisia a toda a prova. Na realidade, o tratamento que lhe foi dispensado depois da Segunda Guerra Mundial (declarada pelos aliados ocidentais) pode ser classificado como o maior saque de uma nação militarmente derrotada dos tempos modernos, e foi praticado tanto pelos aliados ocidentais como pelos soviéticos. Até a propriedade intelectual das patentes alemãs foi confiscada!
E até em artigos da Wikipedia -- apesar dos habituais comités de vigilância politicamente correcta -- transparece nalguma medida isso mesmo. Mas, é claro, é preciso ler criticamente as entrelinhas da pseudo-história oficial. Ver aqui, aqui e aqui, por exemplo.
Cito: "This account has not mentioned the Marshall Plan. Can't the German revival be attributed mainly to that? The answer is no. The reason is simple: Marshall Plan aid to Germany was not that large. Cumulative aid from the Marshall Plan and other aid programs totaled only $2 billion through October 1954. Even in 1948 and 1949, when aid was at its peak, Marshall Plan aid was less than 5 percent of German national income. Other countries that received substantial Marshall Plan aid had lower growth than Germany. Moreover, while Germany was receiving aid, it was also making reparations and restitution payments that were well over $1 billion. Finally, and most important, the Allies charged the Germans DM7.2 billion annually ($2.4 billion) for their costs of occupying Germany."
A que se deve então a prosperidade da Alemanha, até recentemente primeiro exportador mundial, só ultrapassado desde há poucos anos pela China? A resposta é simples: a prosperidade da Alemanha deve-se aos alemães. Será assim tão difícil de aceitar?
Não sou alemão, nem tenho particular simpatia por várias das características nacionais germânicas, mas esta onda de desculpas de maus pagadores, à sombra da ininterrupta barragem de mentiras históricas, só pode revoltar qualquer pessoa bem formada.
Pena foi que Manuel Alegre , a determinada altura, tivesse ajudado, e muito , o Bloco a deitar abaixo o Governo PS liderado por Sócrates.
Nem as cigarras fizeram o seu trabalho como deve ser, nem a Alemanha é inocente em todo este processo.
Os bancos alemães precisam que lhes sejam pagas as dividas, sob pena de colapsarem por completo, tal como os irlandeses. Um credor que não sabe sangrar como deve ser o devedor depressa se virá também ele no papel de devedor sem cheta. Parar para pensar que o mundo é globalizado há pelo menos uma década e que um peido na grécia pode ter consequencias imprevisiveis em toda a economia mundial é algo que o eixo Merkle-Sarcosy não estão a fazer como deviam. Em vez disso fecham-se na sua fantasia de formiguinha sem perceberem que se o ramo for cortado caiem as cigarras E as formigas...
Eleitor, é verdade que a industriosidade alemã é inquestionável.
O problema aqui é que a Alemanha aproveitou-se da UE para tornar as suas exportações mais baratas, através do euro que é uma moeda mais fraca que o Deutschmark.
Sobre as reparações de guerra, uns comentários:
1) as reparaçoes não foram pagas totalmente
2) Foi a Alemanha a responsável pelas duas guerras, as mais terríveis de sempre da história!
3) O tratamento da Alemanha no pós-2a guerra teve mais a ver com a clima de guerra fria que outra coisa.
No entanto, é verdade que a França e a NATO no geral sempre tiveram medo de uma re-afirmação da Alemanha no pós-guerra, daí os conflictos pelo Ruhr e Saarland, e a criação da EEC
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