segunda-feira, novembro 07, 2011

Um despacho que vale (centenas de) milhões (4)

Figura rapinada (e adaptada) aqui


      ‘Vocês são uns cretinos. Querem que numa SGPS todas as empresas paguem impostos sobre os mesmos lucros?’


Suponha o leitor a existência de três sociedades:
    A é uma sociedade operativa que compra e vende bens e serviços; • B é uma SGPS (sub-holding) da qual depende a sociedade A; • C é também uma SGPS (holding), a qual integra, entre outras, as sociedades B e A.

Aquando da distribuição de dividendos da sociedade A à sociedade B, é pago imposto. Para evitar uma dupla tributação, é compreensível que os dividendos da sociedade A, que já foram tributados, não voltem a ser tributados quando a sociedade B distribui esses mesmos dividendos à sociedade C (representados na figura por X) e, em seguida, aos accionistas.

O que está em causa é a tributação dos dividendos que resultem de operações da própria sociedade B (representados na figura por Y): prestações de serviços de consultadoria (até a outras empresas do grupo económico) ou mais-valias, por exemplo. Ou seja, corre-se o risco de que a sociedade B, nos dividendos que distribui à sociedade C, adicionar lucros gerados na sua própria actividade aos dividendos (já tributados) da sociedade A. Subindo na cadeia de tributação, observa-se então que, na distribuição de dividendos aos accionistas, uma parte deles será distribuída sem que tivesse havido lugar a retenção na fonte.

O despacho do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais estabelece que, desde que tenha havido “tributação efectiva” na sociedade B, os dividendos distribuídos à sociedade C não serão tributados. Isto permite conceber um conjunto de engenhocas que tenham como resultado que uma parcela significativa dos dividendos distribuídos aos accionistas não é tributada (ou é sujeita a uma tributação irrisória).

Assim sendo, enquanto à distribuição de dividendos da sociedade A será aplicada a taxa de 21,5%, aos dividendos da sociedade B (gerados no seu seio) poderá aplicar-se uma taxa muito inferior ou mesmo residual, se esta SGPS estiver localizada num país estrangeiro ou numa zona de baixa tributação.

Se esta artimanha define a natureza de um governo, ela é ainda mais chocante quando se estão a pedir sacrifícios insuportáveis a quem vive (e mal) do seu trabalho e aos accionistas dos grandes grupos económicos permite-se a utilização de esquemas em que uma parte dos lucros não é tributada.

5 comentários :

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

se são insuportáveis onde é questão os gaijos a arrojarem-se no gasoil e a fazerem churrascos humanos?

mais sacrifícios havia nos anos 80
onde nem os caixotes de lixo a arder
(por causa de greves várias) davam pizzas e franguinhos assados e restos de bolos do jumbo meio comidos e latas de fruta meio cheias
e zapotes (de importação meio-podres)

Anónimo disse...

É dado adquirido que a matéria cinzenta não abunda entre os cometadores do "basófias, perdão Blasfémias".
É mais um blog-poluição no espaço cibernauta.

Luís Lavoura disse...

Eu pergunto por que motivos é que a tributação não se efetua apenas, e somente, no ponto final - na distribuição de dividendos aos acionistas.

Isto é, em vez de estar a tributar os lucros e os dividendos das sociedades, das empresas, das SGPSs, etc etc etc, tributar-se-ia (através de IRS) apenas o dinheiro que essas entidades distribuem, no fim do ano, aos seus acionistas.

Presmir-se-ia que todos os restantes lucros, isto é, aqueles que não são distribuídos como dividendos, constituem investimento e/ou aumento de capital das empresas, sociedades, SGPSs, etc.

Isto não seria mais simples? E não funcionaria? Por quê?

Anónimo disse...

Os lucros e dividendos das sociedades já são tributados. Em minha opinião deviam ser ainda mais, muito mais, especialmente para as grandes corporações. Infelizmente não parece haver grande vontade politica de o fazer e as poucas pequenas tentativas de fazer alguma coisa ( como o eram este diploma) são imediatamente desvirtuadas e tornadas ineficazes por um governo que está claramente do lado do capital e não do pais.

Anónimo disse...

Faça-se um pedido à NASA para incluir numa sonda não tripulada a Marte, João Caetano do Blasfémias e já agora se houver espaço também o C. Amorim. Daqui ficariamos livres de algum lixo e os Marcianos iriam adorar...

R Cardoso