Sinais de fogo

• Miguel Sousa Tavares, Sinais de fogo:

‘O que choca já nem são as nomeações políticas e mais uma promessa eleitoral de Passos Coelho quebrada sem pudor: as Águas, depois da EDP, depois das direcções de saúde, depois da Caixa. O que choca é o esforço canhestro de nos tomar a todos por parvos. Tentar, por exemplo, fazer-nos acreditar que os chineses, logo após terem adquirido a posição dominante na EDP, foram ter com o Governo e disseram: “E, pala o conselho de supelvisão da EDP, não vemos ninguém melhol do que o Catloga, o Blaga de Macedo e a Celeste Caldona”. Porque, ao contrário do que misericordiosamente escreveu Francisco Assis, o que aqui se coloca mesmo é um problema de competência — como ele muito bem sabe. Por muito respeito e ternura que nos inspire o dr. Catroga, custa-nos a entender como é que uma empresa tão endividada como a EDP e tão privada nos custos públicos exorbitantes que nos cobra de electricidade, pode pagar ao homem que negociou os “pintelhos” do último Orçamento do Estado do governo Sócrates 45.000 euros por mês, mais um plano de poupança-reforma de 10% desse valor, a que ele juntará a sua pensão de reforma pública de 10.000 euros. E custa-nos a entender como é que o sr. Manuel Frexes sai de presidente da Câmara do Fundão, onde acumulou uma dívida e um litígio de 7,5 milhões às Águas de Portugal, directamente para a administração desta. Diz-nos a ministra Cristas, com toda a candura correspondente à estupidez de que nos acha dotados, que isso o torna especialmente recomendável para as novas funções. E quando ele tiver de negociar, em nome das Águas de Portugal, as dívidas das câmaras, e particularmente a do Fundão, como será: atraiçoa a câmara de que ainda há pouco era presidente ou atraiçoa os interesses da empresa pública de que agora é administrador?’