segunda-feira, outubro 22, 2012

Altura de o Governo fazer o ponto da situação das reformas estruturais

• António Correia de Campos, Pensamento positivo [hoje no Público]:
    ‘Não é necessário um doutoramento em Economia para se antever o definhamento e a agonia dos cavalos. O que já se não tolera é a batota na pesagem da ração. Quando se promete um efeito recessivo benigno (-1,0) que vai contra toda a lógica e até contra as previsões do credor mais experiente, quando se amaciam previsões do desemprego, quando se arvora um optimismo mítico sobre a meta de 4,5 % no défice para 2013, esquecendo a dívida - essa galopa já pelos 120% -, estamos a confundir desejos com realidades. Claro que a economia é feita de gestão de expectativas e deve-se ser optimista à partida, para encorajar os agentes económicos. Mas a recidiva em tantos erros de previsão em escassos dezassete meses, vai levar à substituir da crença pela zombaria.

    Voltemos às reformas estruturais. Já passou ano e meio de governação, devemos pedir ao Governo que nos faça o ponto da situação. Os comentadores têm sido cáusticos, mas as análises parecem contaminadas com o que se passa na área orçamental e na raiva fiscal que despontou e se espraia. Era a altura de, sector a sector, se fazer a análise do que se conseguiu, aproveitando o torpor do doloroso ajustamento. De vez em quando, surgem comentários positivos sobre as reformas do trabalho, nomeadamente aquelas que tiveram a concordância da UGT, ou sobre reformas da justiça, ou até da educação. Na segurança social, as reformas essenciais vinham de Sócrates e não consta que se tenha agora feito outra coisa que não cortar. Ora reformar não é cortar. É substituir um modelo por outro, não apenas cessar uma prática. Até mesmo na saúde, onde é voz comum se estar perante uma governação positiva, parece existir uma grande distância entre reduzir despesa e acrescentar eficiência.’

1 comentário :

Rosa disse...



Sempre prático, lúcido e sabedor António Correia de Campos!
Concordo inteiramente com o que aqui é dito.