segunda-feira, outubro 22, 2012

E o pânico instalou-se no escritório de representação dos credores externos


João Galamba, Escolher o desastre:
    ‘No World Outlook Report de Outubro, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, publicou uma análise que conclui que o multiplicador orçamental implícito aos processos de consolidação dos últimos anos em 28 economias avançadas pode variar entre 0,9 e 1,7 pontos – valor muito superior àquele que se convencionou usar a partir de experiencias nas três décadas antes de 2009, e que se cifra em 0,5.

    Traduzindo para linguagem corrente: o economista-chefe do FMI concluiu que todas as instituições internacionais, incluindo o próprio FMI, subestimaram, de forma grosseira, os efeitos recessivos da austeridade. Isto não pode deixar de constituir um enorme revés para a estratégia austeritária em curso, uma vez que põe em causa a eficácia deste tipo de política. Christine Lagarde, directora-geral do FMI, chegou mesmo a dizer que a posição do FMI é a de que, no contexto actual, os países que estão a aplicar este tipo de políticas, sobretudo na zona euro, devem abandonar metas nominais para o défice e deixar os estabilizadores automáticos funcionar.

    A reacção do ministro Vítor Gaspar a este ‘mea culpa' (inédito) por parte do FMI é perturbadora. Ao invés de considerar o reconhecimento oficial por parte do FMI de que os efeitos negativos da austeridade foram subestimados como uma oportunidade negocial para melhorar as condições do programa português, evitando o agudizar da espiral recessiva, Vítor Gaspar reagiu como se estivesse perante um problema para a sua própria estratégia. Ficamos portanto a saber que a inevitabilidade é, afinal, uma escolha de Vítor Gaspar: não há alternativa, não porque esta não exista, mas porque Gaspar, pura e simplesmente, não a deseja. Se dúvidas houvesse, fica claro que as cinco revisões do memorando de entendimento foram conduzidas por um ministro das Finanças que usa a ‘troika' apenas como pretexto.

    Numa carta divulgada esta semana, Abebe Selassie, representante do FMI na ‘troika', veio dizer que o orçamento inexequível e alucinado de Gaspar é inevitável e é para aprovar, acrescentando que o estudo de Blanchard já foi tido em conta aquando da última revisão do programa português. Ora esta afirmação, pura e simplesmente, não pode ser verdadeira. Se a 5ª revisão do memorando tivesse incorporado os resultados do estudo de Blanchard, Portugal teria visto a austeridade reduzida. Mas não foi isto que aconteceu, uma vez que a flexibilização das metas do défice não teve como objetivo reduzir a austeridade - aliás, agravou-a -, nem correspondeu a qualquer alteração de estratégia: flexibilizou-se a meta para acomodar um falhanço, não para o corrigir. O objetivo parece ser o de, tendo falhado, falhar de novo e, como é evidente, falhar pior. A carta de Selassie pode ter salvo Gaspar, mas tramou o País.’

7 comentários :

pedro disse...

Em primeiro lugar, uma declaração de interesses: o partido com que mais me identifico (ou com que menos divirjo) é o PS.
Em segundo, acho lamentável e incompreensível e gostava que alguém tivesse a santa paciência de me explicar como é que o João Galamba se absteve na moção de censura apresentada pelo PCP e BE. É ABSOLUTAMENTE INCOMPREENSÍVEL numa análise séria em que os interesses do país devem estar em primeiro lugar, que as palavras gravíssima do sr. João Galamba não coincidam com as suas atitudes políticas. Quem diz que o governo está a levar o país ao abismo não poderia votar noutro sentido que não a favor da moção de censura. Pode agora vir apresentar os seus mais fantásticos argumentos e as mais contundentes críticas, mas é tarde de mais. Neste Galamba, neste PS, não me revejo.

pedro disse...

No post anterior, referia-me evidnetemente às duas moções de censura e não apenas a uma.

Anónimo disse...

Uma esquerda radical que nem entre si é capaz de se unir para uma m**** de uma moção de censura, para que quereria o voto do PS? E já agora votava a favor de qual moção ? Da do PCP ou da do Bloco? Ora tenham santa paciencia e não gozem com as pessoas.
Portugal está numa situação muito dificil e a esquerda em vez de se unir e tentar a aproximação ao único partido que pode um dia ser governo, preferem escorraça-lo e a andar a perder tempo com intriguinhas e ataques palermas ao PS...É a direita que é o inimigo, metam essa treta de uma vez por todas na cabeça e talvez se chegue a algum lado no futuro.

Olimpico disse...

Oh Pedro, pedir a Galamba ou ao PS, que votasse as "moções de censura do PCPou BE, é não compreender as posições desses partidos ( objetivos) quando no derrube do Governo PS. Diga-me lá qual era o objetivo das moções ? pois...sempre a mesma. Defender o Povo ? ora...ora... Esta direita que nos governa, está no seu papel. O Pcp/Be, não sabiam que era isto que nos esperava, com a sua aliança ?
Não tenho nada, a vêr com este PS,PSD,CDS Pcp e BE, mas tenho a certeza, que sem partidos não haverá democracia....

João das Regras disse...

Para que raios votaria o PS a favor das moções do Bloco de Esterco e do PCP? Só se fosse um partido de memória muito curta.

Ora digam lá quem é que participou no chumbo ao PEC IV: PSD, CDS, PCP e BE.


Percebem agora?

Rosa disse...




Concordo plenamente com João das Regras...
E este texto de João Galamba é, como quase sempre, muito esclarecedor e útil especialmente para pessoas que, como eu, não percebem muito de economia e finanças.

Longo e grosso disse...




De João Galamba e do PS exige-se que sejam construtivos.


Estou-me marimbando para as moções de censura de quem só sabe assobiar e vaiar, mas não faz a ponta de um corno de uma ideia mínima que seja do que significa governar, levar um País para a frente e dar esperança a quem tem filhos e quer ter Futuro.


Puta que pariu este desgoverno, sim, mas puta que pariu também uma extrema-esquerda cuja radicalidade apenas ajuda a cimentar o radicalismo oposto.