segunda-feira, janeiro 28, 2013

"O lado positivo do regresso aos mercados é que este não depende do conteúdo da política orçamental, como quer fazer crer o Governo e alguns líderes europeus, mas apenas de uma determinada política monetária"

• João Galamba, O regresso aos mercados:
    ‘(…) todos aqueles que valorizam a dimensão nacional deste sucesso - mesmo que minimizem o mérito do Governo - estão a legitimar a narrativa de que, na sua essência, esta não é uma crise da arquitetura institucional da moeda única, mas sim algo que resulta de problemas em alguns países indisciplinados. Ou seja, que não estamos perante uma crise de natureza sistémica, e portanto monetária, mas sim comportamental, e portanto orçamental, cuja resolução passa por Portugal se reabilitar e mostrar que merece a confiança dos mercados.

    Ora essa narrativa devia ter implodido no início de agosto de 2012, quando Mario Draghi reconheceu que a confiança que supostamente viria de uma política orçamental de austeridade teria afinal de ser fabricada pelo próprio BCE. Só a garantia do soberano monetário pode normalizar as condições de financiamento dos Estados. É assim nos EUA. É assim no Reino Unido. É assim no Japão. E o BCE foi obrigado a reconhecer que também tinha de ser assim na zona euro. Foi por esta garantia não existir que Portugal perdeu o acesso a financiamento ao mercado. É por esta ter passado a existir que Portugal o recuperará.

    Esta conversa não serve para retirar mérito a Vítor Gaspar, ou ao País, e atribuí-lo a Draghi. Serve para reenquadrar o debate e mostrar que a chantagem da austeridade assenta numa mistificação e numa falsa necessidade. O facto do BCE poder determinar, de forma soberana, as condições de financiamento de um Estado, torna evidente que as atuais políticas orçamentais não são uma necessidade financeira, são uma escolha política, por sinal desastrosa.

    O lado positivo do regresso aos mercados é que este não depende do conteúdo da política orçamental, como quer fazer crer o Governo e alguns líderes europeus, mas apenas de uma determinada política monetária. Se assim é, a política orçamental deve ser avaliada pelos seus resultados económicos e sociais. E estes são aqueles que se conhecem: uma depressão económica na periferia e uma recessão em toda a zona euro.’

1 comentário :

Anónimo disse...

Basta perguntar ás agencias de rating se estão dispostas a subir o rating de Portugal, para perceber que este regresso aos mercados nada têm a vêr com Gaspar e a sua "enooooorme competencia".
Aliás, se o deixarmos lá continuar há sérios riscos de nos baixarem o rating ainda mais.