sexta-feira, março 29, 2013

"A pesada herança constituiu-se a um ritmo anual de 6,3 pontos percentuais, enquanto, no período seguinte de dois anos, o prometido alívio transfigurou-se numa acumulação à velocidade galopante de 13,4 pontos percentuais ao ano"


• Emanuel Augusto dos Santos, A insustentável dinâmica da dívida pública [hoje no Expresso/Economia]:
    ‘Analisemos então a evolução da dívida pública, primeiro através das estatísticas da dívida direta do Estado divulgadas pelo IGCP — o instituto público que tem como missão a gestão da dívida do Estado.

    Também aqui há um outro conceito de dívida — a dívida bruta consolidada das administrações públicas —, que, calculada em percentagem do PIB, é o indicador oficial no contexto da União Europeia. Preferimos o primeiro por duas razões: a disponibilidade mensal dos dados e o facto de ser apenas no caso da dívida direta que se tem um perfil de amortizações financeiras cujo pagamento é incontornável. Todavia, não deixaremos de referir igualmente os valores do segundo indicador.

    Desde abril de 2011 até fevereiro de 2013, a dívida direta do Estado aumentou mais de 42 mil milhões de euros, ultrapassando pela primeira vez os 200 mil milhões de euros. A velocidade do crescimento nestes 22 meses foi de 1910 milhões de euros ao mês. Comparando com os 1292 milhões de euros verificados nos 22 meses precedentes, o ritmo é claramente mais acelerado.

    Recordemos que no período precedente recaem todas as consequências da maior crise internacional depois da Grande Depressão de 1929-30. Outra comparação que, julgo, muitos leitores esperam que seja feita é entre os períodos de março de 2005 a junho de 2011 e junho de 2011 à atualidade. Pois aqui o resultado — 1356 milhões de euros — também é evidentemente desfavorável à nova liderança política.

    Se utilizássemos a dívida das administrações públicas em percentagem do PIB, os resultados ainda seriam mais graves. Por causa do crescimento económico negativo nos últimos dois anos, o efeito da redução do denominador ainda agrava mais este indicador que já ultrapassa os 120%, quando no final de 2010 se situava em 93,5%- Lembrando que no final de 2005 a dívida pública era igual a 62,8% do PIB, é fácil fazer as contas: a pesada herança constituiu-se a um ritmo anual de 6,3 pontos percentuais, enquanto, no período seguinte de dois anos, o prometido alívio transfigurou-se numa acumulação à velocidade galopante de 13,4 pontos percentuais ao ano, ou seja, mais do dobro do que a média anual do anterior governo.

    O problema não está só nos valores insustentáveis que acabámos de descrever mas, sobretudo, na persistência de uma falsidade que consiste em continuar a atribuir ao passado uma responsabilidade que o presente já se encarregou de tomar bem mais pesada. Os sacrifícios são, afinal, para quê, se durante quase dois anos a dívida não só não diminuiu como cresceu ainda mais rapidamente do que nesse passado onde todos os males teriam tido a sua origem? Será que não chegou a altura de cada um ser confrontado com o que faz e com o que diz?’

2 comentários :

Anónimo disse...

Eu que não sou versado em Economia. p+ercebo muito bem o grande embuste que a Direita tenta fazer crer na opinião pública. Ainda a propósito da entrevista de J.Sócrates (talvez a entrevista do século, a avaliar pela avalanche de opiniões...) em que ele dizia o que diz o seu ex-Secretário de Estado, é bom que se faça pressão para que haja um debate sério nos media para esclarecer este candente problema, porque logo naquela noite um dos "estarolas" disse aue a dívida no tempo do JS estava escondida. Em que ficamos?

Anónimo disse...

Divida escondida é o que vamos todos levar quando estes pulhas forem corridos a pontapé de onde estão.
Receio que as coisas estejam ainda bem piores do que se pensa...