terça-feira, março 19, 2013

"Gaspar não é incompetente. Acontece simplesmente que Gaspar não está a trabalhar para nós"

• José Vítor Malheiros, Euro: perda de soberania em troca de menos democracia e de mais pobreza [hoje no Público]:
    ‘A questão é que Vítor Gaspar não está minimamente preocupado com as condições de vida dos portugueses, com o seu emprego ou com o seu nível de vida nem com o seu acesso aos serviços de saúde e educação ou com a sua segurança na velhice e na doença. Vítor Gaspar está antes de mais preocupado em garantir que os portugueses pagarão tudo o que devem aos seus credores estrangeiros, às taxas agiotas que nos forem cobradas, por muito que isso signifique em sofrimento pessoal, em destruição de empregos e falências de empresas, em destruição da economia, em esbulho do Estado, por muito que isso signifique de alienação de património de todos, ainda que isso signifique um recuo de gerações. Além disso, Gaspar também quer que os salários dos portugueses baixem drasticamente para aumentar as margens das empresas e para reduzir a capacidade reivindicativa dos trabalhadores (infelizmente para Gaspar e felizmente para nós, os neoliberais portugueses não contam com a ajuda de uma ditadurazinha militar como na América do Sul, para partir a espinha à contestação).

    É por isso que Gaspar considera que estamos "no bom caminho" e se alegra por termos reforçado a nossa "credibilidade externa" e imagina que as manifestações de protesto são manifestações de apoio. A única preocupação de Gaspar é garantir que os portugueses se mantêm suficientemente activos para poder pagar aos credores e suficientemente passivos para permitir que o Governo os roube sem tugir nem mugir. Como isso tem acontecido, o seu principal objectivo tem sido alcançado. Tudo o resto - o desalento, o sofrimento, a doença, a miséria, os suicídios, a emigração forçada - é secundário. Gaspar é o capitalismo financeiro sem pátria em toda a sua brutal franqueza: a dívida é a mercadoria por excelência e o ministro e o Governo fazem o que podem para que os seus patrões continuem a vender a sua mercadoria ao preço mais alto possível, tendo apenas o cuidado suficiente para que os clientes não morram ou declarem bancarrota, caso em que os vendedores deixariam de poder vender.

    Gaspar está um pouquinho desapontado com o desemprego mas no cômputo geral está satisfeito com o que conseguiu e os seus patrões vão certamente fazer-lhe uma atençãozinha no bónus de fim de ano. Gaspar não é incompetente. Acontece simplesmente que Gaspar não está a trabalhar para nós. O desemprego, como se viu e se vê, não é uma preocupação da troika.’

2 comentários :

Al maminha disse...



Nós é que seremos incompetentes se não lhe servirmos, bem refrigerado, o justo correctivo.

A seu tempo, claro, mas nunca mais tarde do que isso.

Hush disse...

É brutalmente incompetente. A única coisa que conseguirá é ser obrigado a pedir um perdão de dívida perante os credores internacionais... que tanto quer proteger. Foi o que aconteceu na Gŕecia. É simplesmente paradoxal que tudo o que faça acabará no final por resultar em algo nefasto para os seus verdadeiros patrões.
Mas uma coisa é certa, ele tem um profundo desprezo pela a sua Pátria. Mas no final é o típico provinciano português que acha que os estrangeiros são superiores aos portugueses.
Foi esse mesmo sentimento que permitiu a toda a oposição chumbar o PEC IV, e depois ser recompensada nas eleições. Infelizmente se não houvesse este forte sentimento de inferioridade (é só ter lido a comunicação social na altura em que a troika aterrou em Portugal) PSD/CDS teriam sido devidamente responsabilizados nas urnas.
José Sócrates não era perfeito (longe disso), mas ao pé de gaspar/coelho/relvas era um profundo Patriota.